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''Era uma menina inspiradora'', diz chefe da bombeira morta em serviço

Marizelli Dias teve fraturas e traumatismo craniano depois de ser atingida por uma árvore e por cabos de energia que se romperam em decorrência de incêndio na QNL 02, em Taguatinga. Militar tentava apagar o fogo no cerrado, quando ocorreu o acidente

Bruna Lima, Renata Rios
postado em 16/09/2019 06:00
Marizelli Dias, bombeira do DF morta em serviçoO desespero e a comoção tomaram conta da emergência do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) na tarde de ontem. Após lutar por quase 10 horas pela própria vida, a bombeira Marizelli Armelinda Dias, 31 anos, não resistiu. Ela foi atingida por umgalho de eucalipto de médio porte e por fios de alta-tensão enquanto combatia um incêndio em uma área de vegetação do cerrado na QNL 2, próximo à via estádio, em Taguatinga, na manhã de ontem.

Na avaliação da equipe médica, a soldado morreu em decorrência das fraturas e de uma possível descarga elétrica que sofreu, já que ficou em contato com os cabos de energia que romperam e caíram com a árvore. Os bombeiros precisaram esperar a resposta da Companhia Energética de Brasília (CEB) para confirmar a inexistência de corrente elétrica e conseguir fazer o resgate com segurança.

A militar sofreu fraturas nas costelas, braço e perna, traumatismo craniano e teve pelo menos cinco paradas cardiorrespiratórias. Ela foi entubada, passou por uma drenagem pulmonar e estava em coma induzido.

Do lado de fora da unidade, colegas da corporação fizeram uma grande roda de oração em homenagem à combatente. A família recebia apoio e carinho de amigos e de colegas de corporação. ;Ela é uma pessoa muito alegre e muito querida;, desabafou o ex-marido, Raimundo Mendes Alves, de 50 anos, que tem dois filhos com ela, Raniele, de 4 anos; e Erick, de 5.

;Esse é um risco da profissão e a gente sabe. Ser bombeira era o amor dela. Mesmo grávida, ela estudou, se esforçou e conseguiu;, contou Raimundo. Comovido, ele se lembrou de uma mensagem recente da ex-mulher. ;Ela me disse que estava com medo. Não com medo do serviço, mas de não dar conta de tudo sozinha;, revelou.

Ainda não foram divulgadas informações sobre o velório. ;Ela estava em combate pela corporação e será homenageada com todas as honrarias possíveis. Era uma irmã para todos nós;, informou o Centro de Comunicação Social do CBMDF.

Alegria e dedicação


Por onde passava, Zelli, como era conhecida a bombeira, deixava um sorriso. Sempre disposta a ajudar os amigos, familiares e colegas, se desdobrava para dar o melhor na profissão e aos dois filhos pequenos. ;Era uma menina inspiradora, sempre animada. Uma dedicação incrível ao trabalho. Guardo uma frase que ela disse recentemente a um colega: ;o amor prevalece;. Ela era uma guerreira que tinha amor pela farda e pela vida. É muito difícil;, homenageou o chefe direto da bombeira, o sargento Adélio Martins.

Marizelli pretendia iniciar um curso para trabalhar com mergulho pela corporação. Mulher de talentos e fé, usava o dom que tinha para música e tocava violão no coral de igrejas em Vicente Pires e em Samambaia. Um dos projetos da soldado era tocar na capela do Corpo de Bombeiros.

Pelo Twitter, o governador Ibaneis Rocha se manifestou: ;Que tristeza para o Distrito Federal perder uma de suas combatentes do Corpo de Bombeiros, que dedicava sua vida a salvar outras. Toda minha solidariedade à família da soldado Marzielli, que Deus conforte seus corações. O GDF está de luto;.

O secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, também prestou condolências pela morte da militar. ;Meus sinceros sentimentos à família de Marizelli Armelinda Dias, guerreira do CBMDF que faleceu neste domingo em decorrência de um acidente no exercício de sua profissão. Ela foi atingida por fio de alta-tensão. A Segurança Pública perde muito com sua partida precoce;.

A CEB também emitiu uma nota de pesar: ;A equipe técnica foi acionada e atuou imediatamente para dar o apoio que se fizesse necessário ao socorro à vítima. A CEB manifesta sua palavra de pesar e conforto à família de Marizelli Armelinda Dias e seus amigos, e se associa à dor de todos os integrantes do Corpo de Bombeiros Militar do DF;.

O presidente da Caesb, Daniel Rossiter, declarou em nota: ;Toda a equipe da Caesb manifesta sua solidariedade com a família de Marizelli e com a Corporação. Estamos certos de que todos guardarão o exemplo de coragem e dedicação de Marizelli;.

O segundo-sargento Demerson Assis de Almeida, que trabalhava na mesma ala que Zelli, afirmou que conheceu poucas militares com a garra e a alegria da soldado. ;Uma pessoa de um sorriso invejável, um espírito de companheirismo e vontade de aprender e viver. Ficam nosso sentimento e nosso agradecimento. Que Deus a receba de braços abertos;, homenageou.

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