postado em 16/09/2019 04:07
Nenhum bombeiro sabe quando o brado será o último. Ninguém sabe. A adrenalina sobe e a vibração toma conta do sangue vermelho, a nossa cor.
Nenhum bombeiro sabe que aquele deslocamento na viatura pode ser o último. A equipagem às pressas, amplamente treinada, as conversas no trajeto, improvisadas, as risadas, as estratégias da missão. Ninguém sabe quando serão as últimas.
O som da sirene rasgando o silêncio das ruas e o ronco das viaturas abrindo caminho em direção ao sinistro são músicas em nosso ouvido. A gente imagina que sempre as ouviremos outra vez. Vidas alheias importam mais que as nossas e seguimos em direção ao que o destino escalou para aquele dia. Vamos, não sabemos se voltamos, mas vamos. E vamos vibrando. Avante guarnição. Voamos ligeiros! Para a frente! O que importa a tormenta?
Naqueles eternos instantes entre o brado e o regresso nossa vida fica nas mãos de Deus. Vidas alheias e riquezas. Salvar é o nosso lema. É a nossa uníssona voz. E como irmãos que somos, estamos na lida, cuidando uns dos outros e cumprindo a missão. Não temem a morte os bombeiros, quando ecoa do alarme o sinal!
Mas, algumas vezes, sem que a gente entenda o porquê, Deus busca um de nossos anjos-laranja de volta e o transforma em herói, heroína, imortal. Algumas vezes aquele brado, infelizmente, é o último. Algumas vezes aquela viatura transporta os nossos amados heróis pela última vez. Algumas vezes a sirene é um canto celestial anunciando que as portas do céu se abriram para que Deus incorpore mais um anjo em sua tropa de heróis anônimos.
Algumas vezes, Deus leva o nosso irmão, a nossa irmã e todo um Corpo de Bombeiros sente, toda uma tropa chora. Descanse em paz guerreira Marizelli, seu nome ecoará no livro dos lendários, dos imortais, dos heróis que escrevem a nossa história.
Nosso pesar mais sentido e nossa continência mais honrosa a você.
Que Deus a receba e conforte o coração da família e amigos neste momento de dor tão grande, sempre confiantes na vida eterna prometida e na bondade e misericórdia de Deus.
Texto de Cleônio Dourado de Souza
Segundo-tenente do CBMDF