Cidades

Lei deve beneficiar casais gays

STF aponta que políticas públicas do DF devem contemplar uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, diferentemente do que estabelecia legislação aprovada pela Câmara Legislativa, de autoria do ex-deputado Cristiano Araújo, e questionada pelo PT

postado em 17/09/2019 04:06
Relator de ação, ministro Alexandre de Moraes apontou que não se pode restringir conceito de família
Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que, para fins de aplicação de políticas públicas no Distrito Federal, o reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo não pode ser excluído do conceito de entidade familiar. A decisão foi tomada no julgamento em sessão virtual da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5971, questionada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

A Lei Distrital 6.160/2018, de autoria do ex-deputado Cristiano Araújo (PSD), estabelece as diretrizes para implantação da Política Pública de Valorização da Família no Distrito Federal. O artigo 2; define como entidade familiar o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher por meio de casamento ou união estável. A expressão ;entidade familiar; é repetida em diversos outros dispositivos.

O PT alegava usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito civil, de acordo com o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, e violação ao princípio constitucional da dignidade humana, na medida em que a norma exclui das políticas públicas distritais as pessoas e entidades familiares diversas da formação do casamento ou união estável entre homem e mulher.

Em seu voto, o relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, apontou que o artigo 2;, ao conceituar entidade familiar, apenas reproduz, em linhas gerais, o artigo 1.723, caput, do Código Civil. Dessa forma, a lei distrital não inova em relação ao já normatizado por lei federal e, portanto, não usurpou a competência da União.

O ministro ressaltou, no entanto, que o dispositivo, se interpretado no sentido de restringir o conceito de entidade familiar exclusivamente à união entre homem e mulher, violará os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da isonomia. Ele explicou que o STF, no julgamento da ADI 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, excluiu do dispositivo do Código Civil qualquer interpretação que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva.

;Quando a norma prevê a instituição de diretrizes para implantação de política pública de valorização da família no Distrito Federal, deve-se levar em consideração também aquelas entidades familiares formadas por união homoafetiva;, concluiu o ministro Alexandre de Moraes.

Assim, julgou parcialmente procedente a ADI e aplicou a técnica da interpretação conforme a Constituição ao dispositivo da lei do DF. O julgamento da ADI 5971 foi concluído na sessão do plenário virtual encerrada em 12 de setembro.




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