Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 18/09/2019 04:16
Servidora pública

O cotidiano esconde pessoas extraordinárias que, muitas vezes, passam desapercebidas, pois não são celebridades. Em certas situações, elas aparecem. Esse parece ser o caso de Marizelli Armelinda Dias, bombeira morta aos 31 anos, no combate a incêndio numa área de cerrado no fim de semana: ;Esse serviço meu é muito bom, mas muito perigoso. Se acontecer alguma coisa comigo, o que a senhora faz?;, perguntou Marizelli à mãe Conceição Aparecida Dias, segundo a reportagem de Jéssica Eufrásio e Walder Galvão, no caderno Cidades.

Em agosto de 2015, olhei para o céu e divisei nuvens espessas de fumaça negra no espaço. Logo em seguida, soube que havia um incêndio na área do Jardim Mangueiral. Não me aproximei, mas, depois, vi imagens aterradoras na internet. O fogo crepitava numa mata ressequida e ameaçava entrar pelo bairro. As labaredas assustavam. Mesmo com o arsenal de equipamentos e a preparação técnica, sempre existe o risco de um acidente.

Nove viaturas e três aeronaves foram utilizadas no combate ao fogo e os bombeiros só conseguiram debelar o incêndio depois de cinco horas de combate. De abril até setembro, a cidade é assolada por queimadas. Existem outras classes que têm como missão o cuidado com a vida do outro. No entanto, nem sempre eles cumprem a missão.

As imagens do incêndio na mata do Mangueiral retornaram ao ler a matéria sobre Marizelli. Em algumas circunstâncias, o fogo parece incontrolável. Ela era, efetivamente, uma servidora pública. O tenente-coronel Fernando Rebouças lembrou que ;ela fez o voto de dedicar a vida a salvar pessoas, mesmo que isso custasse a própria vida;.

É interessante notar que nunca leio notícias de tragédias ocorridas em razão da negligência do Corpo de Bombeiros. A corporação que está sempre disposta a prestar socorro com um sentimento de urgência e humanidade que certas situações exigem.

Os oficiais da companhia chegaram ao ponto de dar voz de prisão a médicos para que pacientes em estado grave fossem atendidos nos hospitais públicos. Ninguém pode morrer por causa dos protocolos. Esse é o verdadeiro espírito público.

É comovente e chega a ser chocante a bravura, a determinação e a abnegação de Marizelli. Espero que as promessas sejam cumpridas e a família dela seja efetivamente amparada depois deste acontecimento trágico. Isso é o mais importante agora.

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