Cidades

Polícia investiga suposto desaparecimento de recém-nascida no HFA

Carla Patrícia Furtado acredita que teve gêmeas, mas só recebeu uma das meninas, em 1996. O Correio notificou o caso à época, mas a história segue sem respostas

Sarah Peres
postado em 20/09/2019 17:18
O Correio noticiou o caso em 1998. Na foto estão Carla Patrícia e a filha Jéssica da Silva Vasconcelos
A 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro) investiga um suposto desaparecimento de uma criança recém-nascida, no Hospital das Forças Armadas de Brasília (HFA), em 16 de fevereiro de 1996. A apuração começou na quinta-feira (19/9), após a gestora de negócios Carla Patrícia Furtado, 48 anos, registrar uma denúncia na polícia. Ela tem certeza de que teve filhas gêmeas, contudo, após a cesárea, só recebeu uma criança: Jéssica da Silva Vasconcelos, 23. Desde então, ela luta para encontrar Nathália da Silva Vasconcelos.

Patrícia relata que, durante a gestação, realizou ecografias que indicavam a gestação de gêmeos. Ao dar entrada no HFA, ela afirma ter feito mais três exames para comprovar a necessidade da cesárea, uma vez que estava grávida de oito meses. ;Passei pela cirurgia, mas só tive contato com minha filha Jéssica dois dias depois, porque ela precisou ficar na incubadora. Quando o médico chegou só com ela, não entendi. Então, ele alegou houve erro nos exames e que nunca estive esperando gêmeas;, relata.
Jéssica da Silva Vasconcelos
Ainda debilitada física e emocionalmente pela cirurgia, a gestora de negócios não questionou o profissional naquele momento. Acolheu Jéssica nos braços e, posteriormente, foi liberada para ir embora. À época, ela vivia no 4; andar de um prédio no Cruzeiro. No conforto do lar, sentiu-se enganada pela primeira vez. ;Tudo passou pela minha cabeça de novo e vi que tinha algo errado. Não conseguia aceitar que tinha sido vítima de um golpe tão cruel. Mas não tinha provas;, conta.

Seis meses depois, Patrícia seguia para o HFA, onde Jéssica havia sido internada mais uma vez. No ônibus, a enfermeira Maria Rodrigues da Silva, 47, reconheceu a mulher. ;Ela se aproximou e perguntou se eu tinha encontrado minha outra filha. Eu fiquei perplexa. Ela disse que eu tinha tido gêmeas, sim, e que uma tinha sido levada para substituir a filha de um general. Ela nunca disse me disse o nome dela e, em um momento de desespero, procurei explicações na direção do hospital;, lembra Patrícia.

Na nota de alta: Uma apuração interna foi aberta no Hospital das Forças Armadas. Entretanto, a investigação foi arquivada. A reportagem entrou em contato com a assessoria do HFA por e-mail e aguarda retorno da demanda. A matéria será atualizada assim que o posicionamento for encaminhado.
O Correio notificou o caso em 4 de abril de 1998. Na época, o relações públicas do HFA, o tenente-coronel Etevaldo Marques Barbosa alegou que o obstetra Álvaro Dacomuni se enganou. ;Ele fez uma leitura errada da ecografia. Como o útero da mãe estava cheio de água, a cabeça da criança ficou girando lá dentro de um ponto para outro, dando a impressão de serem duas. Realizamos sindicância e chegamos à conclusão de que houve erro;, afirmou na ocasião. A reportagem também indicou que os prontuários de Patrícia apresentavam indícios de adulteração.
De acordo com a delegada Claudia Alcântara, chefe da 3; DP, será pedido o processo de investigação arquivado em 1998. ;Irei entrar em contato com a Justiça Militar para ter acesso ao documento. Assim, poderei avaliar o que foi apurado ou não. Esse é nosso primeiro passo;, adianta.

Morte da enfermeira

O inquérito por desaparecimento em apuração aberto na 3; DP também irá investigar a morte da enfermeira Maria Rodrigues, única testemunha que poderia comprovar a suposta existência das duas filhas de Patrícia. A profissional da saúde faleceu em 29 de dezembro do mesmo ano, após dar entrada no HFA para passar por procedimento cirúrgico de histerectomia ; retirada completa do útero.

O servidor público José Wesley Rodrigues Bezerra, 39, esteve nesta sexta-feira (20/9) na delegacia. Ele relata ao Correio que acredita que a mãe foi morta por negligência médica, porque a enfermeira seria um ;problema;.

A enfermeira Maria Rodrigues da Silva faleceu meses após relatar ter cuidado das filhas gêmeas de Carla Patrícia;Quando o desaparecimento ocorreu, em fevereiro, minha mãe contou para mim e para meu pai sobre a história. Ela disse que tinha cuidado de duas meninas, mas que uma delas havia sumido e, para mãe, alegaram erro na ultrassonografia. Só que ela nunca disse o que tinham feito com a menina;, afirma Wesley.

O homem explica que Maria Rodrigues foi internada no HFA em 21 de outubro, para exames pré-cirúrgicos, que indicariam alergias a medicamentos ou a anestesia. Às 7h do dia 22, a enfermeira foi para a mesa de cirurgia e tomou a anestesia. Ela sequer chegou a ser operada.

;Ela teve reação alérgica à anestesia e os médicos levaram mais de 10 minutos para entubá-la. Quando questionamos isso, alegaram que o procedimento tinha sido difícil. Por causa do tempo, diminuiu o oxigênio no cérebro da minha mãe e ela entrou em coma. Ela passou todos os dias na Unidade de Tratamento Intensivo, com visitas restritas. Até hoje não tiro da minha cabeça o quão receosa ela estava por fazer a cirurgia naquele hospital (HFA);, lamenta Wesley.

Ele destaca que não tinha contato anterior com Patrícia e só a encontrou nos últimos dias, pela internet. ;Eu vi a postagem sobre a Jéssica e Nathália. Ao ler sobre o testemunho da enfermeira, que morreu pouco depois, percebi que se tratava da minha mãe. Seria muita coincidência dois desaparecimentos de gêmeas, no mesmo ano, no HFA;, afirma.

Wesley voltará à 3; DP na semana que vem, para formalizar o depoimento. O pai dele, o aposentado José Bezerra da Silva, 72, também será chamado para prestar esclarecimentos.

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