postado em 21/09/2019 04:16 / atualizado em 19/10/2020 11:07
Sofia Amaral, com André Oliveira (C) e Bruno Soares" />
A grama marrom e a poeira nas casas não deixam o brasiliense esquecer da secura: O Distrito Federal completa hoje 110 dias sem chuva. As temperaturas também não dão trégua e, ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou novo recorde no ano: 35,9 ºC, marcados na estação meteorológica situada no Gama e em Águas Emendadas (Planaltina). As outras três estações tiveram registros semelhantes (veja Recorde).
Segundo a meteorologista Maiane Araújo, do Inmet, diversos fatores ajudam a explicar a diferença nas medições. “Temperatura e umidade não são iguais em todos os pontos da área de um município. O local onde está a estação, por exemplo, interfere. No Plano Piloto, está cercada de prédios. Em outras, pode estar em vale ou em baixada, cercada de árvores”, detalha. De acordo com a especialista, o padrão deve ser mantido no fim de semana.
Ontem, a umidade relativa do ar chegou a 10%, o que significa estado de emergência. O instituto emite alertas à população a partir dos valores diários previstos. Abaixo de 12%, é classificado grande perigo, uma vez que a umidade é muito baixa. Nesses casos, há riscos para a saúde. Para a próxima semana, no entanto, a situação deve mudar, com expectativa de chuva a partir de quarta-feira. “O prognóstico está se mantendo. Hoje, tivemos uma chuvinha no sul de Goiás, mas isso ainda não chega aqui. A qualquer momento da semana que vem poderemos ter pancadas”, destaca Maiane. “Como são as primeiras, ainda serão irregulares. Podem vir fortes ou até com algum granizo isolado, já que está muito quente”, prevê.
E se o brasiliense sofre, quem vem de fora sente ainda mais a seca. O carioca Bruno Soares, 41 anos, está acostumado ao calor, mas a baixa umidade tem sido um problema. “Eu tenho astigmatismo, e essa secura incomoda, principalmente a visão. Várias vezes joguei água no rosto para tentar aliviar. Estava no carro me sentindo incomodado e só percebi que era falta de água quando bebi um pouco”, revela.
Na cidade desde quinta-feira, ele e os colegas vieram gravar um documentário. Ontem, o grupo passou cerca de 10 horas trabalhando, a maior parte do tempo, sob o sol. “Fiz imagens de drone o dia inteiro, é muito cansativo. Bebemos 12 garrafinhas de água para aguentar”, disse a documentarista Sofia Amaral, 35. A recompensa veio ao pôr do sol: cerveja gelada para rebater o calor.
Quem também passou o dia trabalhando ao ar livre foram as irmãs Silvânia Pires, 35, e Simone Pires, 42. Entre as 8h e as 17h, elas ficam em frente a uma oficina no Sudoeste lavando carros. “Nessa época, a gente sente muito o calor, mas a secura é pior. Tem de usar muito protetor solar”, reclama Silvânia. “A gente nunca acostuma, mas bebendo muita água, o sol não é dos maiores problemas”, acrescenta Simone.
Cuidados dobrados
Quem cuida de crianças e animais pequenos redobra a atenção durante o tempo quente. Com apenas 3 meses, Davi Alckimin toma dois banhos por dia. A mãe, a dona de casa Eliane Souza, 33, conta que procura vesti-lo com roupas frescas e deixá-lo sempre em locais arejados, como varandas. “Ele nasceu no frio; então, fica um pouco enjoado nesse calor”, afirma a moradora de Ceilândia.
Para os animais, sobretudo os que têm muitos pelos, também não é fácil. A gestora de eventos Emily Santos, 31, mudou o horário de passear com a Bela, uma lulu-da-pomerânia. “Normalmente, saímos às 17h, mas estou indo um pouco mais tarde, porque fica mais tranquilo. Durante o dia, vou trabalhar e deixo o ar-condicionado programado para refrescar a casa, além de muita água e alguns petiscos”, ressalta.