Cidades

Policiais expõem investigação

No segundo dia do julgamento de Adriana Villela, delegados e agentes à época da apuração do triplo homicídio relembraram depoimentos que reforçam a tese de que ela seria a mandante do assassinato dos pais. Júri deve seguir até sexta

postado em 25/09/2019 04:12
A defesa de Adriana Villela (sentada e fazendo anotações) fica à esquerda do Tribunal do Júri: avaliação de que testemunhas de acusação fortalecem possíveis falhas na investigação
A última testemunha de acusação será ouvida no terceiro dia do julgamento da arquiteta Adriana Villela. A expectativa é de que também comecem os depoimentos selecionados pela defesa. Até o momento, cinco relatos foram feitos no Tribunal do Júri de Brasília ; um no primeiro dia e quatro, ontem. Adriana é acusada de ser a mandante do assassinato dos pais, em agosto de 2009. O ex-ministro José Guilherme Villela, e a advogada Maria Villela, além da empregada da família, Francisca Nascimento Silva foram esfaqueados no apartamento onde moravam, na 113 Sul.

Ontem, testemunharam o policial civil Felipe Ximenes; Renato Nunes Henriques, delegado da Polícia Civil de Minas Gerais, que trabalhava na delegacia de Montalvânia (MG) à época do crime; Michele da Conceição Alves, filha de Leonardo Alves, ex-porteiro do prédio dos Villelas; e o delegado aposentado da Polícia Civil do DF Luiz Julião Ribeiro. A sessão do segundo dia de julgamento terminou às 21h14. Previsão é de que o júri termine na sexta.

O depoimento mais longo foi o de Luiz Julião, que falou por cerca de quatro horas. Em 2009, ano do triplo homicídio, ele era o principal nome da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), hoje Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP). Ele reforçou as palavras da delegada aposentada Mabel Alves de Faria, primeira testemunha do julgamento. Ambos confirmaram que Adriana seria a mandante dos homicídios. O depoimento da filha dela, Carolina Villela, teria sido a primeira indicação do envolvimento da arquiteta nos assassinatos.

Cerca de uma hora antes da morte dos idosos, Adriana teria ligado para a filha com a intenção de saber se ela iria à casa dos avós naquele dia, uma vez que os três costumavam fazer refeições juntos. ;No sábado, dia seguinte ao crime, Carolina tinha um compromisso e ligou para os avós, mas não conseguiu falar. Disse à mãe que não havia localizado o casal;, detalhou. No dia seguinte, Carolina tentou, novamente, contatar os avós, mas sem sucesso. Na segunda-feira, a neta, depois de saber que José Guilherme e Maria não tinham ido ao escritório de advocacia em que trabalhavam, decidiu ir pessoalmente ao apartamento da família.

A reação de Adriana diante da preocupação da filha foi descrita por Julião como quebra de padrão comportamental. Segundo ele, Adriana fez ligações a uma gerente de banco e a um agente de viagens e ainda esteve na padaria próxima ao apartamento. Mesmo assim, não subiu no imóvel. ;Ela protelou ao máximo a chegada ao local. Isso chamou a nossa atenção;, disse o delegado aposentado.

O ex-investigador acrescentou ter interrogado Leonardo Alves, condenado e preso pelo triplo homicídio, pelo menos três vezes. Em todas elas, ele se contradizia. ;Primeiro, trouxe uma versão inverossímil. Quis dizer que alguém chegou a Montalvânia, em Minhas Gerais (local da prisão), e entregou as joias para ele sob ameaça. A história não batia. Mais tarde, tornamos a inquiri-lo e mudou um pouco.; Na segunda versão, o acusado teria dito que os criminosos foram ao apartamento para roubar e, apenas na terceira versão da história, ele mencionou Adriana Villela. Leonardo narrou tê-la encontrado próximo ao Conjunto Nacional e que teriam acertado o valor para matar as vítimas: R$ 27 mil e joias. O pagamento teria sido feito em uma parada de ônibus próximo à 113 Sul, pela própria arquiteta.

Contradição
A quarta testemunha a ser interrogada foi Michele Alves. Ela afirmou ter tido conhecimento que Adriana foi a mandante do crime pelo irmão Franklin da Conceição Alves. Ele teria dito a ela que o pai havia recebido dinheiro e joias com a morte das vítimas e que Adriana seria a mentora do crime. ;Ele disse que tinha encontrado dinheiro enquanto limpava a casa do pai;, contou.

O relato de Michele se contradisse com depoimentos anteriores dela à Polícia Civil e ao Ministério Público, durante o julgamento de Paulo Cardoso Santana, o Paulinho, outro condenado pelo crime. Inicialmente, à época de diligências do triplo homicídio, ela alegou aos investigadores da 8; Delegacia de Polícia (SIA) que Franklin havia confirmado autoria de Adriana. Entretanto, pouco tempo depois, informou aos investigadores da Corvida que inventou a história.

Michele ainda narrou aos jurados que agentes da 8; DP a sequestraram para que ela confirmasse a participação do pai dela no triplo homicídio. Ela foi abordada na rua, no Recanto das Emas, e passou horas com os investigadores sendo questionada sobre o envolvimento do pai no crime da 113 Sul. Em seguida, teria sido levada à unidade policial, porém, como não sabia nada sobre o caso, foi levada para casa. No julgamento de Paulinho e na oitiva de ontem, ela voltou a afirmar que Franklin contou que Adriana seria a mandante do crime.

Para a defesa, o depoimento dela reforça as falhas da investigação. ;Mostrou o que todos sabemos: que essa investigação está marcada por tortura, abuso policial, consignação em depoimento de coisas que não foram ditas da forma como a testemunha levou à autoridade policial, e isso só confirma o que Adriana tem dito;, declarou o advogado Marcelo Turbay.

Quebra-cabeça
O policial Felipe Ximenes foi o primeiro a ser ouvido ontem, por 25 minutos. Ele disse que comunicou à antiga Corvida a informação de que um preso disse ter cumprido pena com um dos envolvidos nos assassinatos da 113 Sul e que saberia da quantidade de dinheiro envolvida no crime.

O delegado mineiro Renato Nunes depôs em seguida, por cerca de quatro horas. Ele participou das investigações em várias etapas. A testemunha relatou que, em 2010, agentes da 8; DP estiveram em Montalvânia para prender Leonardo Alves. Porém, segundo ele, a detenção ocorreu com métodos ;não ortodoxos de conduta; por parte dos policiais brasilienses. ;Não é um rito comum fazer uma diligência em outro estado e não informar ninguém da corporação de lá. Eu comuniquei à Corvida que praticamente sequestraram o Leonardo, que havia até informação de tortura a que ele teria sido submetido. Depois, ele chegou a dizer que os agentes da 8; DP não o deixaram comunicar nada sobre a mandante do crime;, revelou.

Renato reforçou as afirmações de Mabel Faria. Os métodos de tortura descritos pelo interrogado contra os policiais da 8; DP são os mesmos citados pela ex-investigadora. Ele também relembrou o depoimento de Neilor Teixeira da Mota, tio de Paulinho. Segundo ele, o homem tinha relação com os acusados e foi chamado por Leonardo para participar do crime. Teria revelado, ainda, que Adriana seria a mandante do crime. Renato, que também ouviu depoimento de Paulinho, descarta a possibilidade de latrocínio. ;Ele (Paulinho) chegou a me dizer que afiou bem a faca antes de ir até lá (ao apartamento da família Villela).;

Um dos advogados de Adriana, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que os depoimentos das testemunhas de acusação auxiliam a defesa. ;Os excessos e as atabalhoadas do Ministério Público são a melhor defesa;, ressaltou.



Laudos válidos

Na sessão de ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux decidiu que laudos que comprovam que Adriana esteve no apartamento dos pais no dia do crime devem ser considerados como feito por peritos oficiais. A sessão chegou a ser interrompida para que o comunicado fosse feito. A defesa da ré havia entrado com habeas corpus pedindo que o relatório fosse desconsiderado, o que foi parcialmente acatado pelo ministro José Roberto Barroso.



Os condenados


Leonardo Campos Alves
; Ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul, local do crime
; Disse ter sido agredido para confessar o triplo homicídio
; Foi preso em 2010 em
Montalvânia (MG)
; Condenado em 2013 a 60 anos pelo triplo homicídio, além de furto qualificado



Paulo Cardoso Santana
; Sobrinho de Leonardo
Campos Alves
; Também foi detido em
Montalvânia (MG) em 2010
; Condenado em 2016 a 62 anos e um mês de reclusão, em regime inicial fechado



Francisco Mairlon
* Apontado como comparsa do crime por Leonardo e Paulo
* Condenado em 2013 a 55 anos de prisão pelos três homicídios e furto qualificado





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