Cidades

Bate-boca e depoimento adiado

Julgamento de Adriana Villela chega ao terceiro dia com discussão entre defesa e acusação e equívoco no detalhamento de provas. Como material levado por papiloscopista não estava anexado aos autos, esclarecimento ficou para o fim do júri

Correio Braziliense
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postado em 26/09/2019 04:17
Discussão entre Kakay, um dos advogados de Adriana, e Pedro Calmon, assistente de acusação, provocou o esvaziamento do plenário por 15 minutos

Controvérsias, adiamentos e trocas de farpas marcaram o terceiro dia do julgamento de Adriana Villela. Uma testemunha-chave para a acusação seria ouvida ontem, mas a defesa pediu a prorrogação do interrogatório. Um papiloscopista do Instituto de Identificação detalharia um dos laudos da cena do crime, mas levou slides e fotos que não estavam previamente anexados aos autos. De acordo com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), a análise pericial prova que a acusada esteve presente no apartamento dos pais, José Guilherme e Maria Villela, no dia do triplo homicídio, em agosto de 2009 ; também foi morta a facadas a empregada da família, Francisca Nascimento Silva. Além disso, por pouco, o júri não acabou anulado depois do bate-boca entre defesa e acusação.

Por causa do equívoco, o juiz titular da Vara do Tribunal do Júri, Paulo Rogério Giordano, decidiu um novo roteiro para o tribunal: 16 testemunhas da defesa serão ouvidas até o fim da semana e, apenas então, será a vez do especialista do Instituto de Identificação, seguido de dois peritos indicados pelos defensores. ;Fomos surpreendidos com informações que não estavam no processo;, argumentou o advogado Marcelo Turbay. ;São slides que nos interessam. É uma discussão que nós queremos fazer, temos condições técnicas de fazer. O que nós precisamos é de tempo. Ninguém pode ser surpreendido com isso no momento de uma oitiva;, acrescentou.

Os advogados de Adriana tentaram recorrer duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o documento fosse desconsiderado. O ministro Luís Roberto Barroso chegou a acatar parcialmente o pedido, mas, na terça-feira, o ministro Luiz Fux cancelou a decisão.

De acordo com o MPDFT, nunca houve decisão de que não se tratava de uma prova. ;A defesa se apega dizendo que tudo o que a Corvida (Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida) fez foi errado;, disse o procurador Maurício Miranda. ;Adriana foi a mandante do crime e estava no dia, segundo provas. As mentiras que ela vem juntando ajudam a confirmar essa afirmação;, avaliou.

Bate-boca
Uma discussão entre Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e o assistente de acusação Pedro Calmon por pouco não adia o julgamento e anula os três dias de tribunal do júri realizados até agora. O juiz chegou a esvaziar o plenário por cerca de 15 minutos para conversar com os envolvidos. Durante o testemunho do delegado Ecimar Loli, que à época do crime da 113 Sul trabalhava na Corvida, Calmon se irritou com as perguntas feitas pela defesa.

Ele chegou a fazer insinuações a Kakay. ;Eu sei o que você fez nos tribunais aqui de Brasília. Quer que eu fale?;, questionou. O advogado apelou ao juiz: ;Ele está deixando de ser engraçado e se tornando inconveniente;. Na terça-feira, o titular da Vara havia advertido Calmon por outras interrupções. Ontem, novamente fez o alerta. ;O doutor vai terminar praticando um crime no plenário;, alertou.

Como a troca de acusações continuou, o juiz acrescentou: ;Se o senhor insistir, vou dissolver o conselho de sentença, oficiar para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o senhor vai ser responsabilizado, vai ser multado e vai ficar evidenciado quem deu causa à dissolução do conselho;. Na prática, com o ato, o julgamento de Adriana Villela seria postergado, com novos jurados e representantes. ;Estamos fazendo uma tese perfeita de defesa. Queremos que esse júri termine; por isso, estou aguentando as intempéries lá dentro. É normal quando a tese começa a desmilinguir que as pessoas fiquem meio sem chão;, afirmou Kakay.





Testemunhas
Ontem, três pessoas prestaram esclarecimentos. A primeira delas, José Ribamar Campos Alves, irmão de um dos três condenados pelo crime, Leonardo Campos, alegou saber apenas o que leu e ouviu na imprensa. Sobre o irmão, disse que ele era uma pessoa trabalhadora, que não precisava roubar para matar. ;O meu irmão não mataria alguém porque foi humilhado. Leonardo jamais brigaria com nenhum morador do bloco;, ressaltou.

A segunda testemunha do dia, o delegado Ecimar, detalhou as oitivas que colheu dos acusados. Segundo ele, Paulo Cardoso Santana, o Paulinho, e Leonardo apontaram Adriana como mandante dos assassinatos. ;Ouvi o Leonardo formalmente três vezes em 2009. Ele disse que recebeu uma ligação da Adriana o convidando para Brasília, dizendo que tinha um serviço para ele;, revelou. Segundo ele, Paulinho confirmou que a arquiteta estava no apartamento dos pais na hora do crime, tanto que mandou o pai para o inferno, riu e xingou o ex-ministro enquanto ele era esfaqueado.

A última a ser ouvida ontem foi a comerciante Rosa Masuad Marcelo, amiga de Maria Villela por 34 anos. Rosa é dona de uma loja de joias na Asa Sul e vendeu várias delas aos pais de Adriana. Ela comentou, ainda, a relação entre mãe e filha e deu detalhes sobre os acessórios luxuosos subtraídos em 2009. Ela descartou a hipótese de Adriana ter interesse no dinheiro da família. ;Como pode ser ambiciosa uma pessoa que não usa joias nem tem carros de luxo?;, perguntou.


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