Cidades

Julgamento será estendido

Após quatro dias de depoimentos, a previsão é de que o júri de Adriana Villela termine no fim de semana. No total, 13 testemunhas ainda devem prestar esclarecimentos no Tribunal do Júri de Brasília

postado em 27/09/2019 04:14
Adriana Villela se emocionou durante o depoimento de Enio Perche, irmão de ex-namorado dela

Ao contrário da previsão inicial, não deve terminar hoje o julgamento de Adriana Villela, acusada de ser a mandante do triplo homicídio praticado na 113 Sul. Em agosto de 2009, os pais dela, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além da empregada da família, Francisca Nascimento Silva, foram mortos a facadas no apartamento do casal. Até ontem, houve o depoimento de sete testemunhas de acusação e oito de defesa. Restam 13 pessoas; por isso, é possível que a sessão no Tribunal do Júri de Brasília termine no fim de semana, provavelmente no sábado, segundo a assessoria do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT).

Nesta sexta-feira, será ouvida uma peça-chave do caso: o papiloscopista que participou da elaboração do laudo que, segundo o Ministério Público, confirma que Adriana esteve no imóvel dos pais no dia do crime. O depoimento estava previsto para quarta-feira, mas, como a testemunha levou ao plenário slides e fotos que não estavam anexadas aos autos, a defesa pediu adiamento. O documento traz a análise temporal de um palmar (impressão da palma da mão) encontrada em um armário do local onde morreu Maria Villela.

Ontem, uma das testemunhas foi o advogado Geraldo Flávio de Macedo Soares. Ele mora em Minas Gerais e atua na cidade de Montalvânia, onde fez a defesa de Leonardo Campos Alves, um dos condenados pelo crime da 113 Sul. Na cidade, ele conheceu outro envolvido: Paulo Cardoso Santana, que deu a ele informações a respeito do caso. ;Paulinho me disse que roubou e matou os três com Leonardo, mas que não tinha mandante;, alegou.

A comerciante Regina Batista Lopes de Luna, outra testemunha ouvida no dia, criticou as investigações da Corvida. Ao júri, ela disse conhecer Adriana de um grupo de terapia. Após o crime, ela alugou uma loja da ré e passou a ser investigada. Em 2010, agentes cumpriram mandado de busca e apreensão na casa dela e a levaram à delegacia. ;Ele (o agente) virou para mim agressivo no tom de voz. Bateu com as mãos em cima da mesa e disse que a casa caiu. Tive de provar a minha inocência;, reforçou. Para a acusação, esse depoimento serve para desacreditar as investigações.

No quarto dia, também prestou esclarecimentos Elimar Pinheiro do Nascimento, professor do mestrado feito por Adriana na UnB. ;Ela não tem nenhum traço de quem pudesse conceber ou planejar uma atitude dessa natureza. É de rompante? Personalidade forte? Sem dúvida, mas isso é, inclusive, positivo;, elogiou.

Um primo da ré também prestou depoimento. Marcos Menezes Barberino Mendes comentou a relação da família Villela. ;Adriana é uma mulher intensa, cheia de opinião. Não aceitava lugar-comum, e a mãe também era assim. Uma relação muito afetuosa, mas com opiniões fortes;, descreveu.

Outra familiar de Adriana, Célia Barberino Mendes Sena, irmã de Maria Villela, descreveu a relação entre mãe e filha. ;Sempre foram muito amorosas entre elas. Nunca soube de nenhuma discussão sobre dinheiro;, frisou. Ela também acredita na inocência da sobrinha. ;Uma pessoa do bem. Jamais cometeria um mal assim.;

Filho pródigo
Cartas e e-mails trocados entre Adriana e a mãe voltaram à pauta. Em 2006, Maria Villela escreveu à filha dizendo que ela e o marido estavam cansados dos ;destemperos; da filha. Para o advogado de defesa Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o MP agiu de forma desleal ao ler os escritos. ;Não dá para simplesmente desprezar mais de 80 demonstrações carinhosas que deixavam claro o amor de Adriana pelos pais;, argumentou. Com base nisso, ele leu outra carta enviada pela mãe, de julho de 2007. Nela, Maria sugere: ;Leia a parábola do filho pródigo;.

Para Maurício Miranda, procurador do MP, isso diz muito sobre a arquiteta. Durante o depoimento de Enio Esteves Perche, irmão de ex-namorado da acusada, o representante da acusação questionou: ;O senhor lembra dessa parábola? Nela, o filho pega metade da herança e gasta tudo. Ele se afasta por causa de dinheiro. Depois, volta arrependido e é recebido com carinho. O ponto-chave é que os pais sempre acabam perdoando;, avaliou. O depoimento de Enio levou Adriana às lágrimas.



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