Cidades

Crime da 113 Sul: julgamento levanta debate sobre laudos da PCDF

A defesa contesta análise que comprova que Adriana Villela esteve no apartamentos dos pais assassinados dentro do intervalo de tempo do crime

Walder Galvão
postado em 27/09/2019 21:16
Adriana Villela é suspeita de ordenar o assassinato dos próprios pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além de Francisca, que trabalhava com a família havia 30 anos
Apenas duas testemunhas, uma de defesa e outra de acusação, foram interrogadas no quinto dia de julgamento de Adriana Villela. O embate entre especialistas do Instituto de Identificação (II) e do Instituto de Criminalística (IC), ambos da Polícia Civil, marcou a sessão. A discussão é sobre a impressão digital da palma da mão da ré na cena do crime. A defesa contesta a tese da acusação de que é possível estabelecer o intervalo de tempo que Adriana esteve no apartamento dos pais assassinados.

O primeiro a ser ouvido foi Rodrigo Menezes de Barros, do II. Ele produziu uma análise da cena do crime e afirmou que Adriana mentiu ao dizer ter ido no imóvel dos pais pela última vez em 13 de agosto de 2009, 15 dias antes do triplo assassinato. A extinta Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), à frente das investigações, solicitou o laudo ao II. De acordo com Rodrigo, diversas análises por meios científicos comprovaram que a afirmação de Adriana estaria errada.

Entretanto, a defesa contesta essa versão. Um parecer técnico sobre o laudo de Rodrigo foi produzido pelo IC três anos após o crime. O perito do IC Juliano de Andrade Gomes prestou depoimento a pedido dos advogados. Segundo o especialista, a análise de Rodrigo deixou de considerar diversas variantes, que poderiam alterar os resultados, como condições de temperatura e umidade e uso de cosméticos nas mãos.

Rodrigo chegou a admitir que consegue determinar com exatidão o dia em que Adriana esteve no apartamento. Em contrapartida, Juliano reconheceu que o material produzido pelo colega de corporação se trata de um laudo oficial. Questionado, ele também disse que não há nada no regulamento da Polícia Civil que impeça os papiloscopistas de produzirem esse tipo de análise.

Para o procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Maurício Miranda, a ideia, tanto da acusação, quanto da defesa, era de fazer os especialistas entrarem em contradição. ;São questões que podem levar os jurados a ficarem confusos. Mas acreditamos que durante a nossa explanação, vamos conseguir esclarecer essas dúvidas;, frisou.

Um dos advogados de defesa de Adriana, Marcelo Turbay, disse que a defesa conseguiu ;destruir; a análise da defesa. ;O laudo é furado, inexistente e uma farsa que caiu por terra;, afirmou. De acordo com ele, o próprio papiloscopista contribuiu para comprovar que a análise não tem fundamento acusatório.

Quinto dia de julgamento

Inicialmente, o julgamento estava previsto para terminar nesta sexta-feira (27/9). Entretanto, precisou ser estendido. Neste sábado (28/9), nove testemunhas de defesa serão ouvidas. Adriana deve ser interrogada apenas no domingo (29/9) e o júri continua sem data para conclusão. Até o momento, são cerca de 50 horas de interrogatórios.

Nesta sexta, o plenário do Tribunal do Júri atingiu capacidade máxima. Ao todo, são 224 cadeiras, mas todas estavam ocupadas. Familiares de Adriana, pessoas que acompanharam o caso na época e estudantes de direito fazem parte do público que acompanha as sessões.

Entenda o caso

Adriana Villela é suspeita de ordenar o assassinato dos próprios pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além de Francisca, que trabalhava com a família havia 30 anos. Em 28 de agosto de 2009, os três foram esfaqueados até a morte no que ficou conhecido como crime da 113 Sul.

Após 10 anos, ela encara júri popular. Desde segunda-feira (23/9), uma série de pessoas ligadas ao caso têm dado depoimento. Até o terceiro dia, sete testemunhas de acusação e uma de defesa foram ouvidas. A previsão é de que o julgamento termine na sexta-feira (27/9), mas pode ser adiado, caso haja necessidade.

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