Cidades

Eleições municipais 2020: já é hora de buscar aliados e montar estratégias

Mesmo distante, as disputas municipais começam a se desenhar no cenário político do Distrito Federal e da região do Entorno. O governador do DF, Ibaneis Rocha, por exemplo, pretende consolidar parcerias e projetos com cidades como Águas Lindas

Agatha Gonzaga
postado em 30/09/2019 06:00
Encontro entre o governador do DF, Ibaneis Rocha, e o de Goiás, Ronaldo Caiado: integração em regiões vizinhas à capital federalA menos de um 11 meses das definições partidárias para os próximos representantes municipais ; o calendário eleitoral determina que as convenções das legendas ocorram entre 20 de julho e 5 de agosto de 2020 ;, apesar de ainda não se ter nomes indicados para a disputa, a movimentação política começa a aparecer não só dentro das sedes goianas e mineiras vizinhas ao Distrito Federal, como também no meio de políticos do DF.

A eleição de 4 de outubro de 2020 pode não ser no quadrado brasiliense, mas, ainda assim, está diretamente conectada aos interesses políticos e econômicos da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). Área que engloba 29 municípios goianos, o DF e quatro municípios mineiros. Só no Entorno, são 12 cidades que somam mais de 600 mil eleitores e dividem com a capital infraestrutura, transporte, saúde, educação, segurança pública, entre outros.

A título nacional, tradicionalmente, os partidos veem nesta relação uma oportunidade para alinhar os interesses políticos entre as regiões. Por esse motivo, mesmo faltando pouco mais de um ano para o pleito de outubro de 2020, é hora de sentar e ajustar nomes. De acordo com o deputado distrital Chico Vigilante (PT), a sigla está próxima deste momento. ;O Entorno é dependente do DF, portanto é preciso que a gente tenha prefeitos e vereadores que estejam sintonizados com as ideias e com as políticas da capital do país. Sempre estamos atuando em conjunto, e tão logo seja feita a eleição da diretoria do PT, agora na primeira quinzena de outubro, vamos pôr em pauta as eleições municipais;.

Chico Vigilante: ''É preciso que a gente tenha prefeitos e vereadores sintonizados com o DF''


Projetos

O MDB também tem data marcada para o assunto. De acordo com o deputado distrital Rafael Prudente, presidente regional do partido, a conversa inicial ocorre na primeira semana de outubro. ;Com certeza está dentro da nossa área de atuação, mas só vamos ter qualquer direcionamento após a primeira executiva do nosso partido que está marcada para 6 de outubro;.

No caso do MDB, o interesse nas eleições municipais devem ser ainda maior, visto que governador do DF, Ibaneis Rocha, possui vários projetos em conjunto com o Entorno e precisa de governos municipais aliados para dar sequência ao andamento dos mesmos.

No último mês, Ibaneis se reuniu com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), para firmar parceria nas áreas de saúde, segurança pública e mobilidade urbana em Águas Lindas de Goiás. Entre as propostas mais avançadas ficou o projeto de inclusão do ônibus do Entorno ao sistema de integração da capital. ;Os nossos secretários de Segurança estão reunidos para criar uma política de troca de informações, além de operações conjuntas para garantir a segurança da população que reside aqui;, acrescentou Ibaneis à época.

Izalci Lucas: ''Ligações com as regiões do Entorno mais próximas''

Seminário

Em Goiás quem deve correr para recuperar o poder nessas eleições municipais é o PSDB. Os tucanos deram a largada para as articulações da legenda com uma série de 25 encontros regionais. De acordo com o senador e presidente do PSDB-DF, Izalci Lucas, uma reunião executiva de nível nacional vem debatendo a organização de um grande seminário para alinhar o posicionamento da legenda ante algumas propostas do presidente Jair Bolsonaro, visando às eleições.

;A ideia é ajustar os detalhes deste seminário, que deve ocorrer em 3 de março do ano que vem. Mas vamos também debater o posicionamento que tomaremos frente a várias questões do governo, além de debater melhores estratégias para as eleições que estão por vir. Como membros aqui da Ride, vamos direcionar os diretórios para fazer ligações com as regiões do Entorno mais próximas, como a sede de Planaltina com Planaltina de Goiás e assim por diante;, completou.

Outro partido que deve vir em peso na corrida pelas prefeituras é o Partido Social Liberal (PSL), de Jair Bolsonaro. Segundo a presidente regional da legenda e deputada federal, Bia Kicis, o PSL tem se organizado de várias maneiras para se fortalecer. A última ação foi a campanha de filiação, iniciada em 17 de agosto, que incorporou mais de 188 mil associados. Um crescimento de 70%, atingindo 459 mil filiados. Dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral. ;Para nós é realmente importante trabalhar esse fortalecimento partidário e essa relação do DF com o Entorno. Em breve devemos nos reunir para discutir de qual forma agir nestas eleições de 2020;, destacou.

Só em Goiás, o PSL conquistou, no dia 17, 8.524 filiados. Em Minas Gerais, quase o dobro: 16.483. A intenção dos dirigentes é chegar a 1 milhão de até as eleições de 2020.

Bia Kicis: ''É realmente importante trabalhar essa relação do DF com o Entorno''

Alinhados

Em entrevista a um canal do YouTube, o presidente Bolsonaro chegou a declarar que pretende ajustar as ações do partido para conseguir o comando de mais prefeituras nas eleições municipais do ano que vem. ;Estou acertando com o partido para ver se eu consigo ter a maioria das ações. Se eu tiver, quero me empenhar por algumas prefeituras e quem vai escolher, democraticamente, vai ser eu. O partido local vai ter sua participação, mas a palavra final vai ser nossa. Se não quiser, não tem problema nenhum. Não entro na campanha daquele município. O que eu quero é uma pessoa que tenha o coração verde e amarelo igual ao nosso;, disse.

Mas as definições de candidatura só devem ficar mais claras a partir de abril, período que antecede seis meses da eleição, e quando os partidos devem fazer as filiações políticas de acordo com os prazos eleitorais do TSE.

Para o cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), o interesse do DF nas eleições municipais do Entorno tem objetivo a longo prazo. Segundo ele, a influência de políticos da capital serve para deixar o nome na praça, para mais tarde, nas eleições de 2022 no DF, serem lembrados.

;Lideranças políticas locais costumam aproveitar as eleições do Entorno para medir forças, fortalecer estruturas partidárias e impulsionar a formação de lideranças partidárias ou, então, apadrinhar prefeitos de cidades importantes podem acelerar a montagem de grupos políticos e de base de apoiadores para as eleições futuras, até porque todo prefeito acaba influenciando direta ou indiretamente os seus eleitores, e vale destacar que segundo o TRE, só em 2018 mais de 40 mil eleitores transferiram seus títulos para o DF, ou seja, são 40 mil votos a mais em 2022;, explicou Medeiros.

E não é só a política do DF que é beneficiada por esse apoio. De acordo com o cientista, os futuros prefeitos dos municípios também têm interesse nesta troca. ;Eu enxergo como um apoio mútuo. Para os prefeitos é interessante ter uma aproximação política com os representantes políticos de Brasília, para ter acesso a recursos, a infraestrutura, além de uma penetração melhor no Executivo Federal;, concluiu.

Artigo

A importância estratégica

Creomar Lima Carvalho de Souza*


Discorrer sobre as particularidades políticas e organizacionais do Distrito Federal é um exercício interessante. Uma rápida busca na internet permite o aprendizado de elementos que fazem desta unidade da Federação peculiar nos mais diversos aspectos, seja sua natureza político-administrativa, sua representatividade arquitetônica e, sobremaneira, sua particularidade política em termos locais.

No que concerne ao último aspecto citado anteriormente, observa-se neste segundo semestre a reedição de um fenômeno histórico que de tempos em tempos agita o ambiente político local desde meados dos anos 1990. Faz-se referência aqui à realização de eleições municipais nos municípios da região metropolitana do DF, comumente chamado de Entorno do DF.

Neste ponto, um leitor desavisado prontamente responderia que tendo em vista a não ocorrência de eleições no DF em 2020 não haveria a necessidade de que os grupamentos políticos daqui se envolvessem nas eleições da vizinhança. Entretanto, vale pontuar que a cada ciclo eleitoral o processo de sinergia entre os grupos políticos de Brasília, Goiás e Entorno assume contornos mais profundos. Fazendo com que não por acaso a relação entre os governos de ambas as unidades da Federação oscile entre amizade e rivalidade sempre que o comando de prefeituras da região entre na pauta.

E qual a importância das eleições no entorno para os políticos do DF e de Goiás? A região que conta com algumas dezenas de municípios e um contingente considerável de eleitores, tornou-se um elemento fundamental para eleições majoritárias para o do DF e em momento de transição de poder no estado de Goiás, ganha cada vez mais notoriedade. Em termos de ilustração, sobre o impacto nas eleições da capital federal, pode-se citar que aproximadamente 40 mil eleitores transferiram seus domicílios eleitorais de municípios do Entorno para Brasília nas últimas eleições. Esse numerário é capaz de eleger um deputado distrital, a título de ilustração.

E devido dados como os expostos acima e outros elementos, tais como, a posse de recursos oriundos do Fundo do Centro-Oeste, a eleição municipal na região metropolitana torna-se um termômetro da capacidade e competitividade dos grupos políticos locais. Nestes termos, provavelmente será observado um fenômeno massivo de subida nos palanques do entorno de figuras expressivas da política do DF com vistas às eleições majoritárias de 2022.

* Fundador do Dharma Political Risk and Strategy, professor universitário e doutorando em política comparada no Instituto de Relações Internacionais da UnB

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