Cidades

Presa quadrilha de peças usadas

Criminosos atuavam no DF, em Goiás e em São Paulo. Operação para prender envolvidos contou com 450 policiais, além de auditores fiscais e equipe do Ministério Público. Vinte e cinco pessoas foram detidas

Correio Braziliense
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postado em 01/10/2019 04:12
Lojas no Setor H Norte, em Taguatinga vendiam peças de desmanche de veículos
Uma organização interestadual especializada em roubo e furto de veículos para desmanche e lavagem de dinheiro foi desarticulada ontem pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Segundo as investigações, o grupo criminoso furtava os carros para desmanche e enviava as peças para lojas de Brasília ; em especial para autopeças no Setor H Norte, em Taguatinga ; e de outras unidades federativas.

;É uma das maiores operações da Polícia Civil. O que tentamos demonstrar é que não vamos tolerar a zona de livre comércio de peças roubadas que se estabeleceu naquele lugar. É inconcebível que, na capital da República, tenhamos 95% de lojas trabalhando fora da lei. A maioria vendendo peças roubadas;, explicou o delegado André Luís da Costa, coordenador da Corpatri.

Participaram dos trabalhos 450 policiais com 100 viaturas e três aeronaves, além de 18 auditores fiscais da Secretaria de Economia do Distrito Federal. A PCDF apurou que os veículos eram roubados em Campinas (SP) e em cidades próximas, desmontados em grandes galpões e enviados em pelo menos seis caminhões com destino a Brasília.

Ao menos dois mil carros cortados foram remetidos à capital do país na última década. ;Eles chegavam a fazer o percurso Distrito Federal-Goiás-São Paulo até três vezes na semana, indicando, portanto, um volume alto de carros roubados que eram inseridos no mercado de autopeças;, destacou Erick Sallum, titular da Divisão de Repressão à Adulteração e ao Desmanche de Veículos da Corpatri.

Durante a investigação, um desses caminhões acabou apreendido. No interior do veículo, havia capô, tampa traseira, teto, para-choques, para-lamas, faróis, lanternas, espelhos e toda parte de acabamento e mecânica. Tudo seria vendido abaixo do preço do mercado. ;Uma porta de um Gol, por exemplo, não é encontrada por menos de R$ 250, mas eles vendiam por R$ 50, porque a matéria-prima, que é o carro roubado, era de graça, então o custo é zero. Ocorre que o bom empresariado, que paga os tributos, é canibalizado por esses criminosos, pois não consegue competir no mercado;, ressaltou o diretor Sallum.

Vinte lojas foram fechadas no Setor H Norte, em Taguatinga, por suposto envolvimento na receptação e revenda de produtos roubados, além de outros estabelecimentos em Águas Lindas (GO) e Goiânia (GO) e nas cidades paulistas de Campinas, Indaiatuba, Hortolândia e Valinhos.



Mandados de prisão

A Polícia Civil expediu 120 mandados de prisão preventiva, prisão temporária e buscas e apreensões. Vinte e cinco pessoas foram presas ; 14 no DF, oito em São Paulo e três em Goiás. Segundo investigações, os criminosos desfrutavam uma vida de luxo e alto padrão. ;Todos os presos são de classe média alta e moram em mansões. Na casa deles, houve ampla apreensão de patrimônio, como jet ski e carros caros. Encontramos até uma quantia de R$ 90 mil em espécie;, afirmou Erick Sallum.

A operação denominada Rota da Seda também contou com o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). De acordo com o promotor Cláudio Portela, a ação dos bandidos está inteiramente ligada ao aumento do número de mortes por latrocínio. ;Antigamente, qualquer chave era utilizada para furtar um veículo. Hoje, os carros contam com um sistema de alta segurança, e há a necessidade de o cidadão estar presente para o bandido cometer o furto. Isso, muitas vezes, culmina com um latrocínio. São a essas questões que o MP se atenta, pois não é um simples furto, envolve morte também;, explicou.

Lavagem de dinheiro
Para passar pela fiscalização rodoviária, o grupo emitia notas frias. Todss as identificações das peças eram raspadas e as informações, omitidas para impossibilitar a verificação da procedência. As lojas também emitiam notas falsas, o que, segundo a PCDF, fazia girar uma ;imensa máquina de lavagem de dinheiro e uma série de fraudes tributárias;.

Ficou comprovado que pelo menos 95% das lojas do DF atuam fora da legislação vigente, a Lei n; 12.977, de 2016, que exige uma série de condicionantes para autorização de funcionamento. As investigações avançam para desvendar outras rotas ilegais de transporte de peças e prender mais lojistas envolvidos.

*Estagiária sob supervisão de Marina Mercante

"É inconcebível que, na capital da República, tenhamos 95% de lojas trabalhando fora da lei"
André Luís da Costa, delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais

Rota da Seda
A operação foi batizada de Rota da Seda em alusão às diversas rotas comerciais que, na antiguidade, se originaram na Ásia e fizeram chegar aos europeus diversos produtos sem que eles soubessem os preços originais.


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