Cidades

Adriana Villela não esboçou reação após ser condenada a 67 anos de prisão

Após 10 dias e 103 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Brasília sentenciou a arquiteta a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado. Como respondeu ao processo fora da cadeia, não ficará presa até a defesa pedir a anulação do júri

Walder Galvão, Mariana Machado, Alan Rios
postado em 03/10/2019 06:00

Após a condenação, a arquiteta não esboçou qualquer reação: abraço da filha, Carolina, e do irmão, AugustoApós 10 anos, o Crime da 113 Sul, enfim, tem um desfecho. Adriana Villela, acusada de mandar matar os próprios pais, foi condenada a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelo Tribunal do Júri de Brasília. Em 28 de agosto de 2009, o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela; a advogada Maria Villela; e a empregada da família, Francisca Nascimento Silva, receberam, no total, 73 facadas dentro do apartamento do casal. Três homens estão presos e sentenciados pelo crime: Leonardo Campos Alves, Paulo Cardoso Santana e Francisco Mairlon Aguiar.


Apenas a filha dos Villela ainda não havia enfrentado o crivo da Justiça. Mas, por ter respondido ao processo em liberdade, ela terá a mesma prerrogativa para recorrer à segunda instância. Após 10 dias de julgamento, considerado o mais longo da história de Brasília, com 103 horas, os jurados decidiram pela condenação da arquiteta. A pena fixada pelo juiz Paulo Rogério Santos Giordano foi de 32 anos pelo assassinato de José Guilherme; 32 pelo de Maria Villela; e 23 pelo de Francisca; além de 3 anos e 6 meses pelo furto das joias da mãe.

Entendendo que a morte da empregada não aconteceu a mando da acusada, mas por decisão dos agressores a fim de assegurar a impunidade pelos demais homicídios, o magistrado dispensou a pena por esse crime. Na decisão, Paulo Rogério incluiu as qualificadoras de motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, ;já que foram colhidas de surpresa e de forma abrupta dentro do próprio lar;.

Após o término do julgamento, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, classificou o resultado como a maior injustiça em 40 anos de advocacia criminal. ;Tenho absoluta convicção da inocência dela, mas acho que fizeram aqui uma monstruosidade;, declarou. Ele afirmou que recorrerá, se preciso, ao Supremo Tribunal Federal (STF), não para pedir redução de pena, mas a anulação do julgamento. ;Essa condenação é um erro judiciário inacreditável. Respeito o Tribunal do Júri, e vou ao Tribunal de Justiça (do DF e dos Territórios) para reverter essa monstruosidade de uma condenação absolutamente sem provas.;

O procurador de Justiça do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Maurício Miranda, no entanto, descarta a possibilidade de o júri ser cancelado. ;Na matéria de prova, para anular, tem de ser um julgamento manifestamente contrário à prova dos autos;, explicou. Na prática, isso quer dizer que os advogados precisariam mostrar que houve inconstitucionalidade no julgamento. ;Quando falamos de sustento, mostrando que tinha um arcabouço de provas, isso é mais do que suficiente para o Tribunal de Justiça não aceitar essa questão de julgamento manifestamente contrário.;

Na visão de Maurício Miranda, apenas uma questão muito fora da normalidade ou absurda poderia justificar a anulação, uma vez que a decisão do júri é soberana. Caso isso aconteça, Adriana passaria novamente pelo Tribunal do Júri de Brasília. A defesa pode pedir a redução da pena dada nesta quarta-feira (2/10). A decisão, no entanto, fica a cargo do Colegiado. O juiz avalia o pedido e pode tanto diminuir o tempo de condenação como aumentá-lo.

Impassível

Horas antes de saber que seria considerada culpada, Adriana estava confiante e, pela primeira vez, fez uma declaração à imprensa ao chegar ao TJDFT, às 9h. ;Sou inocente e agradeço por trazer isso à luz agora aqui;, afirmou. Durante a sessão, ela prestou atenção ao que era dito, e, como de costume, bocejou algumas vezes e chorou durante as falas da defesa. Entretanto, na maior parte do tempo, manteve o semblante sério.

Conhecida pela espiritualidade, sentou-se no chão e meditou enquanto os jurados decidiam o futuro dela. Ao ser informada pela equipe de advogados sobre a sentença, não reagiu. Apenas abraçou a filha, Carolina Villela, e o irmão, Augusto Villela. Durante a conclusão dada pelo juiz, manteve a expressão impassível, sem qualquer gesto que denunciasse sentimentos. Discretamente, ela deixou o plenário pela porta dos fundos, sem falar com ninguém.

Nos 10 dias de julgamento, acusação e defesa exploraram a personalidade de Adriana. Durante o interrogatório, ela admitiu ter usado drogas na adolescência, como cocaína, maconha, ácido e chá de cogumelo, mas disse não ser dependente das substâncias. A sentenciada admitiu que, aos 14 anos, pensou em se jogar da janela do apartamento onde morava para afetar os pais. Nesta quarta-feira (2/10), os defensores revelaram que nessa idade ela foi ;induzida a um aborto;.

Adriana admitiu que tem um ;estopim curto;. Desde o começo do júri popular, isso foi utilizado pelo Ministério Público para indicar a suposta agressividade e frieza suficiente para mandar matar os pais. Os promotores também mostraram um laudo psicológico de Adriana, feito por especialistas da Polícia Civil e embasado em análises de interrogatórios dela. No documento, ela é chamada de desafiadora, autoritária e com traços compulsivos, vitimização e dramatização. ;O vínculo de mãe e filha era tão somente material. Uma relação de ;patrocinadores; quanto aos seus projetos sociais. Existia um interesse financeiro e um distanciamento da afetividade;, informa o laudo lido nesta quarta-feira (2/10).

[SAIBAMAIS]No dia do próprio interrogatório, a ré se mostrou sensível aos assassinatos dos pais, chorando ao relembrar o dia em que descobriu o triplo assassinato. ;Vi em fotos da Corvida a imagem da minha mãe morta. Isso me atormentou durante muito tempo. Eu fechava os olhos para dormir e aquela cena vinha à minha cabeça;, contou. Também ficou com a voz embargada ao comentar a brutalidade. ;Depois de ter enterrado meus pais, li uma manchete no Correio Braziliense, em um fundo preto, em que o jornal dobrado estampava: ;72 facadas;. Enterrei meus pais sem saber que eles foram chacinados dentro de casa. Minhas pernas tremeram e quase caí na banca de jornal;, disse.

Protesto pós-sentença

Antes da sentença, o juiz titular da Vara do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Rogério Giordano, pediu para que o público deixasse para se manifestar do lado de fora do plenário. Quando a imprensa começou as entrevistas com representantes da defesa e da acusação em um corredor do órgão, apoiadores da condenada começaram a gritar: ;Adriana é inocente;. A segurança do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) retirou o grupo do local. Aproximadamente 20 pessoas participavam do ato. Não foi necessário o uso de força por parte dos vigilantes.

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