postado em 04/10/2019 04:14
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou ontem a Operação Carga Pesada e prendeu sete pessoas suspeitas dos crimes de roubo, furto e receptação de carga roubada. O grupo, integrado por oito homens, é investigado desde 2018 pela revenda de mercadorias roubadas. Empresas de fachada faziam parte do esquema para emitir notas fiscais fraudulentas. Em seis meses, 1.198 documentos válidos foram emitidos e 506 recebidos, totalizando uma movimentação de R$ 78 milhões, considerando entradas e saídas.
A investigação é conduzida pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), que já havia prendido os integrantes da organização pelos mesmos crimes. Segundo a polícia, o grupo respondia em liberdade às acusações. ;A diferença do ano passado para este ano é que eles constituíam empresas fora do Distrito Federal;, explicou o delegado coordenador da Corpatri, André Luís Leite.
De acordo com os investigadores, as empresas eram sediadas em São Paulo, Alagoas, Paraíba e Espírito Santo. ;Através de empresas de fachada, eles conseguiam dar ares de legalidade para a mercadoria (roubada) para que fosse revendida em outra Unidade da Federação (UF);, disse o coordenador.
As cargas, formadas, em geral, por produtos alimentícios, cosméticos e cerveja, eram revendidas dentro e fora do DF. ;Essa carga era receptada, roubada, no Entorno ou na Ponte Alta do Gama, e levada para depósitos e galpões geralmente em Ceilândia e Taguatinga;, afirmou Leite. Com as notas fiscais falsas, a carga era, então, transportada para outra UF.
Fachada
A investigação evoluiu quando a PCDF entrou em contato com a Receita Federal e a Polícia Civil de São Paulo. Até o momento, foram identificadas pelo menos 10
empresas-fantasmas que eram utilizadas para esquentar os produtos ilícitos. O valor de
R$ 78 milhões foi movimentado de janeiro a julho deste ano por apenas uma das empresas, sediada em São Paulo. A polícia estima que, considerando todas as empresas envolvidas, a movimentação total possa chegar a R$ 200 milhões só neste período.
;Emitindo notas fiscais de uma empresa de São Paulo, por exemplo, para outra em Alagoas, a mercadoria poderia circular tranquilamente aqui no DF ou Entorno. Se fosse parada pela fiscalização, ela teria a nota fiscal teoricamente lícita;, detalhou o delegado André de Oliveira, da Divisão de Repressão a Latrocínios e Roubos de Carga da Corpatri. Oliveira destacou ainda que a Receita Federal do DF não conseguiria rastrear as mercadorias, pois elas teriam origem e destinação em outras unidades da Federação.
Para o coordenador André Leite, tudo indica que as empresas que compravam os produtos tinham ciência da origem ilegal. ;Pelo preço praticado bem abaixo do mercado, há indícios de que o comerciante deve ou deveria saber da origem ilícita dessa mercadoria.;
Esquema
Após as prisões em 2018, o grupo se especializou. A organização funcionava com núcleos específicos de atuação. ;Tinha um núcleo que abordava os caminhoneiros utilizando bloqueadores de sinal para evitar o rastreio enquanto a carga era descarregada;, afirmou André Leite. Havia ainda pessoas responsáveis pelo depósito e pelo transporte da carga para os outros Estados.
;Outro núcleo de empresários, que constituía essas empresas de fachada, dava ares de legalidade (ao negócio) e lavava esse dinheiro através da aquisição de bens patrimoniais;, acrescentou.
Com os envolvidos, foram apreendidos um veículo de luxo, um caminhão e uma carreta roubados em Goiás, além de uma carga de cosméticos. As contas bancárias dos criminosos também serão investigadas para fins de bloqueio de bens fruto de crimes praticados pela organização.
Seis membros do grupo foram presos no DF, incluindo o líder do bando, um homem de 42 anos, que foi localizado em Águas Claras. Outro membro do grupo foi detido em Águas Lindas (GO) e um segue foragido. Os autores vão responder pelos crimes de organização criminosa, roubo majorado, receptação qualificada, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.