Alexandre de Paula
postado em 05/10/2019 06:00
O projeto privado que cria uma cidade no Distrito Federal, com capacidade para 118 mil habitantes, deu mais um passo para sair do papel. O governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou decreto que autoriza o plano urbanístico da iniciativa, chamada de Cidade Urbitá. O empreendimento, na região norte de Brasília, foi gestado com discrição pela Urbanizadora Paranoazinho (UP) na última década e prevê a construção de um empreendimento com estrutura completa e padrão moderno, com foco na experiência do pedestre, parques e prédios de até 10 andares sem grades ou cercas.Antes que o processo de construção comece, porém, outro decreto precisa ser editado por Ibaneis, desta vez, autorizando o início da primeira etapa do empreendimento. Essa fase inicial foi aprovada pelo Conselho de Planejamento Territorial e Urbano (Conplan) em dezembro do ano passado. O órgão havia acatado o plano urbanístico, referendado agora pelo governador, em novembro de 2018. A demora entre a aprovação do Conplan e a edição do decreto tem ligação com as adequações feitas nos estudos por causa da aprovação da Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), sancionada pelo emedebista em janeiro. Todos as modificações, segundo a UP, foram concluídas.
A Cidade Urbitá será construída nas proximidades de Sobradinho. As terras que receberão o empreendimento fazem parte da antiga Fazenda Paranoazinho. A UP adquiriu o local, que conta com 54 condomínios irregulares e espaços vazios, em 2007 (leia Memória). Desde então, a empresa é responsável pela regularização dos lotes e aproveitou as terras vazias para planejar o novo bairro, que será erguido em uma área de cerca de 900 hectares.
Assim que publicado o decreto do GDF com a autorização para o início da primeira fase, a UP começará o processo para erguer o empreendimento. A primeira etapa terá início por lotes comerciais e institucionais. ;Estamos fazendo pesquisas para identificar quais as carências daquela região. Queremos começar o projeto atendendo a essas necessidades de comércio, lazer etc. Mas, em seguida, começaremos com o componente residencial;, adianta o diretor presidente da UP, Ricardo Birmann. A fase inicial terá capacidade para 11 mil moradores.
Segundo Ricardo, a intenção é que o projeto vá além do conceito de cidade-dormitório e possa oferecer aos moradores uma estrutura completa para o dia a dia. ;Ao atender essas necessidades localmente, começamos a contribuir para que Brasília se torne uma metrópole com vários núcleos;, comenta.
A estimativa é de que as primeiras quatro etapas do empreendimento movimentem R$ 4 bilhões. ;Isso inclui toda a construção da cidade, em um tempo que pode ser até de 20 anos. Esses recursos são todos privados, mas não são todos da UP. Podem vir também de parceiros, como incorporadas;, detalha o diretor. Apenas com a infraestrutura da cidade, estão previstos gastos de R$ 150 milhões.
Preocupações
Um dos pontos que levantam preocupação em relação ao empreendimento é a questão do trânsito na região norte do Distrito Federal. A área registra constantes engarrafamentos, sobretudo na BR-020 (no sentido da subida do Colorado). De acordo com Birmann, tudo isso foi levado em conta nos estudos realizados para a empreitada. Portanto, há medidas de compensação previstas no projeto. ;Passamos quatro anos discutindo o problema do trânsito. Há uma série de mitigações que faremos para evitar os impactos desse empreendimento nesse sentido. Por isso, é importante fazer algo assim com todas as licenças e o tempo necessário;, argumenta. Entre as compensações previstas estão a construção de pista que prolongue a Avenida Sobradinho e de uma ponte sobre o Ribeirão Sobradinho.
Voto vencido
Em dezembro, quando a primeira etapa do projeto foi avaliada pelo Conplan, o placar da votação foi favorável à aprovação da Urbitá. A sessão durou mais de quatro horas e discutiu os impactos da iniciativa. Foram 23 votos a favor, um contra e uma abstenção. Apenas a representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no conselho, Carolina Cavalcanti, defendeu que a análise deveria ser feita por mais tempo.
Ela reconheceu a qualidade urbanística do empreendimento, mas questiona a atuação do Estado. ;É um projeto moderno e arquitetonicamente é interessante, tem todos os pré-requisitos de bom urbanismo, mas acho que é omissão o poder público tratar um projeto dessa envergadura como se fosse um simples parcelamento, sem se debruçar sobre questões mais específicas, como o lado social;, justifica.
A UP, no entanto, ressaltou que a participação do Estado foi próxima desde o início do projeto, há mais de uma década. Isso ficaria evidenciado, segundo a empresa, no processo de concessão de licenças e aprovações para que o empreendimento, de fato, pudesse começar a ser efetivado.
No detalhe
Dificuldades e desconfiança
As questões fundiárias na região da antiga Fazenda Paranoazinho têm mais de uma década. A Urbanizadora Paranoazinho (UP) tornou-se responsável por administrar o espaço e regularizar os terrenos ocupados em 2007, quando adquiriu a área. A chegada da empresa foi vista com desconfiança por moradores, que reclamavam de não ter participado de projetos elaborados pela Urbanizadora. Isso dificultou o processo de regularização. Os terrenos ocupados usam cerca de metade do espaço da fazenda. É na área livre que a UP pretende construir os novos empreendimentos.
- A cidade contará com áreas comerciais, residenciais e institucionais
- Os prédios terão altura máxima de 37m, o equivalente a 10 andares
- A capacidade do novo bairro é de 118 mil habitantes
- A ocupação do setor será a longo prazo, e o processo todo deve levar pelo menos 30 anos
- A Urbitá contará com parques permeando o empreendimento, com área total de 3 milhões de metros quadrados