postado em 05/10/2019 04:15
Cerca de mil bichos de estimação participaram ontem da bênção dos pets, realizada anualmente no Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Na igreja que tem o nome do santo, na 915 Norte, seis missas foram celebradas durante toda a sexta-feira.
A tradição existe desde a década de 1980 e atrai não apenas brasilienses, mas gente de outras unidades da Federação e até não praticantes da religião católica. Para o frei Rafael Pinheiro, responsável pelo santuário, a data é importante para lembrar que os pets também são criação de Deus. ;Quando você homenageia algo criado por Ele, você o louva. Graças a Deus, as missas são cheias, e a energia é muito boa. Os animais dialogam entre eles;, brincou o religioso.
O frei lembrou diversas histórias sobre a vida de São Francisco de Assis. ;Ele esteve em uma determinada cidade e não conseguia anunciar as palavras (de Deus). Começou a pregar para os pássaros. As aves começaram a se aproximar para ouvi-lo. Isso mostra intimidade;, contou. ;Além de tudo, é vantajoso ter um animal em casa. Traz harmonia. Às vezes, alguém não se casou, não teve filhos. Claro que não substitui uma pessoa, mas é uma companhia. Conheço história de quem se curou de depressão porque tinha um animal. É muito interessante.;
O Santuário São Francisco de Assis tem o próprio mascote: o golden retriever Bonaventura. ;Ele tem 3 anos e sempre está por aqui, fica na parte dos fundos da igreja. As pessoas são bem apegadas a ele. É o reflexo de que esta casa é para todos;, afirmou o frei Rafael.
Na entrada, vários freis recebiam os animais para benzê-los. Durante a missa, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets. Latidos, miados e cantos de pássaros não passavam despercebidos. Afinal, era tudo para eles.
Família grande
Enquanto a maioria das pessoas chegava com apenas um animal, o copeiro Henrique Monteiro, 46 anos, e a esposa, a aposentada Terezinha Antônia de Sousa, 60, levaram os quatro cachorros para a missa. O casal costuma resgatar animais de rua e cuidar enquanto buscam um lar para eles. Sirilo, Chinelo, Taysson e Puff são fruto dessa solidariedade. ;As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre;, ressaltou Terezinha.
Com dois gatos em uma das missas, a aposentada Solange Santos, 61, aproveitou para contar a história de Chiquinho, chamado assim em homenagem a São Francisco de Assis. O animal foi atropelado no início do ano, e a dona não quis mais. ;A sogra da minha filha me contou a história e pedi para trazê-lo para mim. Dei banho, cuidei. Ele chegou quase morto na minha casa. Levei a uma clínica para gatos e lá cuidaram bem dele. É o nosso xodó.; Solange adota gatos há cerca de seis meses. Hoje, já são 10 felinos sob os cuidados dela.
Outras espécies
Nem só de cachorros e gatos é feita a missa em homenagem aos animais. Algumas espécies inusitadas marcaram presença. As calopsitas Príncipe Jorge e Lord Dian e a agapornis (espécie de pássaro) Laisa foram abençoadas ontem. A dona, Ana Christina Yida, 49, pediu mais saúde para as aves. ;Peço para que vivam muito. São meus companheiros e não me imagino sem eles. Fiz questão de trazê-los para saírem um pouco de casa também.;
A juíza Josélia Fajardo, 41, levou o jabuti de estimação para receber a bendição. O animal é querido dos filhos dela ; João Pedro, 8, e Maria Júlia, 6 ;, e eles fazem questão de participar do momento. ;É importante trazê-los para que tenham mais contato com Deus e com a natureza;, justificou.
"As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre;
Terezinha Antônia de Sousa, aposentada
Amor à natureza
Em suas peregrinações, São Francisco cultivou apreço excepcional pelos animais e pelo meio ambiente. Chegou a sugerir que a Igreja Católica passasse a receber animais nas missas. De família rica, o italiano da cidade de Assis também ficou conhecido como o santo dos pobres, após abrir mão da vida de luxo e dinheiro.