Bruna Lima
postado em 07/10/2019 06:00
;Choveu, virou sabão.; Os riscos das pistas escorregadias, resumidos no jingle da propaganda que marcou a década de 1990, se repetem todos os anos com a chegada das primeiras chuvas. No asfalto, o acúmulo de poeira e óleo em contato com água após um longo período de seca é fórmula perigosa que favorece derrapagens, aquaplanagens e batidas.A estimativa do Sindicato das Empresas de Seguros e Resseguros (Sindseg) é de aumento de 40% no número de acidentes entre os meses chuvosos. ;Muitos motoristas que passaram um longo período dirigindo na rua seca se esquecem do efeito da água no asfalto. O ideal é que o condutor tenha mais atenção, além de fazer a manutenção do veículo. Apesar da orientação, as seguradoras estão habituadas a trabalhar com o aumento de sinistros nesta época;, explica Carlos Cavalcante, representante do Sindseg no Distrito Federal.
A aposentada Tereza Cristina Vilhena, 59 anos, viveu momentos de tensão ao atingir um caminhão que não conseguiu frear na pista molhada. ;Também tentei parar, mas acabei batendo na lateral do veículo. Foi um susto pelo qual não quero nunca mais passar. Meu carro está sempre com a revisão em dia;, conta. Ela aproveitou o fim da seca para conferir o veículo e trocar os limpadores de para-brisa, que tiveram a borracha ressecada pela falta de uso nos últimos meses. ;A segurança é primordial, ainda mais agora, que ando com a minha netinha no carro. A atenção, o respeito e a sinalização devem ser aliados à manutenção do carro, porque são vidas que, muitas vezes, são postas em jogo pela imprudência no trânsito;, diz Tereza.
Manutenção
Assim como Tereza, muitos motoristas procuram oficinas nesta época a fim de deixar o veículo ideal para enfrentar as chuvas. A estimativa de crescimento nas vendas de pneus com o fim da estiagem é de pelo menos 5%, segundo o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista). ;É um aumento significativo de fluxo de clientes trocando pneus e revisando os veículos. Na loja, nesta semana, estimamos mais 20% na demanda por serviços do tipo;, conta o gerente de oficina Natanael Brito, 29.
Além dos pneus, Natanael destaca outros cuidados. ;É importante estar com a calibragem, o alinhamento e o balanceamento adequados, porque tudo isso interfere na estabilidade do veículo. Os freios e os itens que melhoram a visibilidade também precisam passar por checagem;, aconselha. Foi o que fez o empresário Cledson Totoli, 55, interessado em consertar o ar-condicionado, item que auxilia a desembaçar os vidros. ;Vou verificar os pneus, os freios, a suspensão. Mas a direção defensiva, que eu aprendi com o meu pai e repasso às minhas filhas, é que vai fazer a maior diferença para evitar as colisões durante as chuvas;, avalia.
No caso do bancário Eugênio Resende, 64, o asfalto molhado é um agravante, pois ele se locomove de moto. ;Se os perigos de derrapar são grandes para quem está em um carro, imagina para o motociclista. Tenho 43 anos de carteira de moto e, nesse tempo, aprendi que não basta confiar só na nossa pilotagem, pois há outras adversidades que podem nos atingir;, ressalta o bancário, que prefere deixar a moto e pegar um transporte por aplicativo no período chuvoso.
A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que as chuvas voltem com mais intensidade na segunda quinzena de outubro. No entanto, há possibilidade de precipitação em áreas isoladas ainda nesta semana. Até lá, o brasiliense deve continuar enfrentando calor, com temperaturas máximas podendo ultrapassar 30;C.
Cuidados
O Departamento de Trânsito (Detran) orienta os condutores a redobrarem a atenção, pois a combinação de asfalto molhado, baixa visibilidade e poças d;água aumentam o risco de acidentes. ;O motorista precisa reduzir a velocidade, preferencialmente abaixo da máxima da via durante as chuvas. A distância de segmento em relação ao veículo da frente deve ser maior;, destaca o diretor de Educação de Trânsito do Detran, Marcelo Granja.
A visibilidade também é imprescindível para a direção. Por isso, é necessário verificar os limpadores de para-brisa. ;Ligar o ar-condicionado, desembaçadores ou abrir um pouco as janelas e ter uma flanela a postos ajudam nesse quesito;, completa Marcelo. Outra advertência aos motoristas é que sinalizem com antecedência as intenções de manobra, além de manterem os faróis ligados.
;Para os motociclistas, o conselho é nunca fazerem ultrapassagens pelos corredores, e, sim, usando uma pista. As orientações de segurança e manutenção são as mesmas e ainda mais cautelosas, já que se trata de um veículo com maior vulnerabilidade;, alerta o diretor. O ideal, em dias nublados, é sair de casa vestido com a capa protetora. ;Para garantir a segurança, toda cautela é válida.;
Para saber mais
Película de água
Aquaplanagem é a formação de película de água entre a roda e o asfalto, fazendo que os pneus percam contato momentâneo com o solo. Pneus lisos ou de meia-vida tendem a aumentar esses efeitos, devido à ausência das ranhuras de borracha que auxiliam no escoamento da água. Se esse fenômeno ocorrer, deve-se tirar o pé do acelerador e manter a direção firme, evitando freadas ou mudanças bruscas ao volante.
Prejuízos ao volante
As chuvas afetam a dinâmica do trânsito não só pelo fato de deixar as pistas molhadas. O acúmulo de água, por vezes, gera inundações e enchentes, comprometendo a segurança e gerando prejuízos financeiros. Durante uma forte chuva na Asa Sul, em 2015, o carro da empresária Ednalva Santos, 49 anos, ficou comprometido. Quando passava pela tesourinha da 113 Sul, foi surpreendida pela enxurrada, que inundou o veículo. ;Eu fiquei presa, não tinha como abrir a porta. Algumas pessoas conseguiram tirar o meu carro, e eu saí. Foi um sufoco. Depois, tive de acionar o guincho, porque o carro não ligava;, conta.
Apesar de o incidente ter ocorrido anos atrás, Ednalva afirma que os problemas agravados por falhas na infraestrutura e pela falta de limpeza adequada continuam. Segundo ela, não basta desobstruir as bocas de lobo, é necessário fazer uma limpeza geral. ;Quando a chuva desce, arrasta as folhas e entope do mesmo jeito. É um risco e um prejuízo para a população, e quem deveria se responsabilizar é o Estado;, avalia.
Bocas de lobo
Em um giro pelas bocas de lobo e bueiros do Plano Piloto, o Correio verificou que, apesar de poucos estarem obstruídos, folhas secas caídas tomam conta de canteiros e de áreas verdes ao redor das vias e se acumulam ao redor das entradas de água.
Diretor de Urbanização da Novacap, Luciano Carvalho reconhece que os gargalos existem e admite a impossibilidade de sanar o problema por completo, mas garante que os trabalhos para minimizar esses impactos são contínuos. ;São mais de 24 mil toneladas de resíduos retirados das bocas de lobo até agosto, além dos reparos em galerias e estruturas que fazem parte desse sistema de escoamento;, detalha.
Cerca de 39,9 mil canais foram desobstruídos com a técnica de hidrojateamento, que consiste na aplicação de um jato de água de alta pressão. Outros 263 foram reconstruídos, tendo sido instaladas 457 novas redes. Além disso, Luciano pede a colaboração da população para jogar o lixo em locais adequados. ;Tudo o que é jogado nas ruas, no chão, acaba nas redes e galerias, entupindo as passagens e gerando inundações. Além dos transtornos, há a questão ambiental, já que esses dejetos podem desaguar no lago, em riachos e em represas;, alerta. Estima-se que 80% dos restos retirados dos bueiros pela Novacap sejam de lixo.
Atenção
Condira dicas do Detran para este período do ano:
; Faça revisão de pneus, freios, limpadores e faróis do veículo
; Mantenha os pneus calibrados
; Use o ar-condicionado e o desembaçador elétrico traseiro ou abra um pouco os vidros para melhorar a visibilidade
; Reduza a velocidade e mantenha maior distância do veículo da frente
; Se possível, pare e espere as condições do tempo melhorarem quando houver pouca visibilidade
; Evite freadas ou mudanças bruscas para não provocar uma aquaplanagem
; Utilize a seta com antecedência
; Em caso de enchente, abandone o veículo assim que a água atingir níveis acima dos pneus