Sarah Peres
postado em 07/10/2019 21:05
A morte do traficante Antonio César Campanaro, o Toninho do Pó, 45 anos, é investigada pela Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), depois que a família do acusado denunciou a possibilidade de ele ter sido envenenado. O homem passou mal dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, na última quarta-feira (2/10), quando foi encaminhado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), às 14h30. Doze horas após dar entrada na rede hospitalar, ele faleceu, já na madrugada de quinta-feira (3/10).
Inicialmente, uma pneumonia broncoaspirativa, que evoluiu para choque séptico, foi apontada como a causa da morte de Toninho, assim como confirma a juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do DF, em entrevista ao Correio (leia abaixo). Como a filha do acusado denunciou que Antonio poderia ter sido envenenado, o caso é acompanhado de perto pelas autoridades judiciais e policiais da capital federal.
Toninho foi preso em 10 de outubro de 2018, por meio da Operação Torre de Babel, deflagrada pela Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária da Polícia Civil do Distrito Federal (Cecor). Ele era indicado como líder de uma quadrilha envolvida em tráfico de drogas, roubos, furtos, desvios de cargas e lavagem de dinheiro.
A apuração quanto aos delitos de Toninho levou os investigadores da Cecor a descobrirem um crime ainda mais chocante: um esquema criminoso integrado por policiais militares do Distrito Federal. Treze servidores da segurança pública estão presos preventivamente, conforme decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Os militares são suspeitos de sequestrarem e torturarem Antonio, com o objetivo de roubar um carregamento de 500 kg dele. O suspeito conseguiu fugir e os policiais registraram um boletim de ocorrência na 20; Delegacia de Polícia (Gama), mas apresentaram somente 203,5 kg. Os militares não apresentaram nenhum preso.
Procurado pela reportagem, o delegado responsável pela investigação não respondeu às tentativas de contato.
Entrevista
Juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do DF
O que está sendo investigado sobre a morte de Antonio?
Não consta que ele faleceu no interior do Complexo Penitenciário da Papuda. A notícia é que ele se sentiu mal no CDP no dia 2 de outubro e, após atendimento pela equipe de saúde da unidade prisional, foi transferido para o Hran, falecendo no Hran no dia seguinte. Após ser comunicada do óbito, a família do custodiado solicitou o registro de ocorrência na 5; DP, alegando que ele teria sido envenenado [a ocorrência foi encaminhada para a CHPP].
Há a possibilidade de que Antonio tenha sido vítima de homicídio?
A resposta a essa pergunta só será possível com o término das investigações.
Já se sabe a causa da morte?
Inicialmente, atestou-se quadro de insuficiência respiratória devido a pneumonia broncoaspirativa, com evolução para quadro de choque séptico refratário, sem resposta ao tratamento e posterior parada cardíaca. No entanto, foi solicitado exame de necropsia, cujo resultado ainda não foi divulgado.
Toninho do Pó foi preso há um ano. Durante este período o tribunal tomou conhecimento de alguma situação de violência contra o detento?
Não há registro de ocorrência disciplinar envolvendo-o, seja como vítima, ou como autor do fato.
Antonio estava em área de segurança máxima?
Ele estava em cela compatível com a sua situação processual e suas condições pessoais.
Com quantas pessoas Antonio dividia a cela?
Com outros 11 custodiados.
Como era a rotina dele?
Oferta de 4 refeições diárias (café da manhã, almoço, jantar e ceia), liberação diária para banho de sol, recebimento de visitas familiares (última visita foi em 16 de maio) e recebimento periódico de atendimento por seus Advogados particulares (último atendimento foi em 23 de setembro).