As fortes chuvas na manhã de ontem aumentaram o estresse de quem ia para a região central do Plano Piloto. Foram pelo menos 17 ocorrências atendidas no período (40 ao decorrer do dia) pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). Felizmente todas sem vítimas graves. Mas a lentidão do trânsito fez parar vias como o Eixo Monumental, Estrutural, Estrada Parque Taguatinga (EPTG), BR-070 e BR-020.
Comum nesses engarrafamentos quilométricos está a ausência de agentes responsáveis por ordenar o fluxo de veículos e evitar que uma simples batida de para-choques, por exemplo, provoque transtorno para quem quer chegar ao trabalho.
Representante comercial Heitor Carvalho, 33 anos, diz que chegou a ficar parado por uma hora e meia, na via L4, em decorrência da grande quantidade de acidentes na pista por causa da chuva. Morador da Candangolândia, Heitor passa todos os dias no Setor Comercial Sul para deixar a esposa no trabalho. ;O local que eu tenho mais problemas é a EPNB (Estrada Parque Núcleo Bandeirante). A via é muito congestionada e o Detran não consegue organizar os desvios de maneira consistente quando há acidentes;, diz.
Em nota, o Departamento de Trânsito do DF (Detran) destaca que tem uma rotina de distribuição de viaturas em pontos estratégicos ;para dar fluidez nas vias urbanas; e o trabalho é intensificado no período de chuvas. ;Cabe ressaltar que o Detran disponibiliza equipes nas vias de sua competência e, segundo informações, nem todas as ocorrências foram em vias urbanas;, conclui o texto.
Na manhã de ontem, de acordo com a nota, havia viaturas nos seguintes pontos: na Rua 36 de Águas Claras, na saída do Sudoeste para o Eixo Monumental, no Setor de Clubes Sul, na Avenida Independência de Planaltina, na saída da M Norte para a BR 070, na Avenida Hélio Prates, na região central de Brasília, além do Gama e Recanto das Emas. Segundo o órgão, as ações são realizadas por equipes em veículos, motocicletas e também com aeronave.
No entanto, esta não é a realidade constatada pela população no dia a dia, principalmente na época de chuvas. O economista Paulo Reis, 45, reclama da falta de atuação e de fiscalização do Detran nas proximidades do seu trabalho, no Setor Comercial Sul, por exemplo. E acrescenta: ;Eu moro em Samambaia e preciso levar minha filha de moto para a escola todos os dias de manhã. Deve ter uns 60 dias que eu não vejo nenhum agente do órgão responsável fazendo vistoria ou auxiliando na fluidez do trânsito. As pessoas costumam levar pelo menos 20 minutos para conseguir atravessar a via que conecta Samambaia ao Recanto das Emas e a quantidade de acidentes é muito grande por lá;, conta Paulo.
Eider Marcos Almeida, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Detrans (Fedran) critica da falta de gestão e o pouco efetivo no Detran. ;O Detran não faz gestão no sentido de dar mobilidade e fluidez (ao trânsito). Além disso, o agente de trânsito não tem autonomia. Por exemplo, quando ele dá ordem para que o condutor passe por um sinal vermelho, mesmo que a ordem do agente prevaleça (artigo 89 do Código de Trânsito), o cidadão recebe a multa em casa. Inclusive, com o agente saindo na foto. O Detran gere mal;, diz. Vale destacar que há câmeras ao longo das principais vias que poderiam ajudar no monitoramento de eventuais acidentes.
Fiscalização
O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) afirma que realiza a fiscalização preventiva do trânsito, além de disponibilizar equipes para patrulhamento com intuito de coibir infrações e intervir rapidamente em situações que possam ocasionar um acidente.
No total, 60 militares do Batalhão de Policiamento Rodoviário da PM (BPRv) e do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) fazem a ronda no período da manhã na capital federal. Eles são encarregados de atender a ocorrências de trânsito, auxiliar na fluidez aos engarrafamentos provocados por acidentes, fiscalizar e abordar transportes clandestinos. Desse total, oito agentes do BPRv se concentram na operação de inversão da Via Estrutural, e dois na região do Jardim Botânico. O restante se divide nas regiões administrativas e no Plano Piloto, segundo o major e comandante do BPRv, Keldison Sousa.
;O que temos feito é tentar evitar as ocorrências. Quando algum acidente acontece, dificilmente a vítima aciona a Polícia Militar. Então, é muito difícil a PM estar no local do ocorrido. Nesse período de chuva e horário de pico, não há aumento do efetivo. Mas pedimos que as pessoas se atentem na hora em que estiver dirigindo. Não mexa no celular, diminua a velocidade do veículo, use o cinto e verifique se os pneus não estão carecas;, orienta Sousa.
Especialista em transporte da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Dias recomenda a utilização de viaturas mais ágeis, como bicicletas, motos e até helicópteros, para dar mais fluidez ao trânsito nestas ocasiões. ;Até um carro chegar ao local do acidente, ele já se envolveu no engarrafamento. As viaturas mais ágeis são muito úteis para isso. Você pode fazer os primeiros socorros e já tomar medidas de contenção e desvio. Isso, com certeza, vai ajudar a salvar vidas e dar fluidez ao trânsito;, afirma Flávio.
*Estagiários sob supervisão de José Carlos Vieira