Cidades

Crônica da Cidade

postado em 09/10/2019 04:16
A alma do negócio?

Circulam nas redes sociais e nas smart conversas ; que nem sempre são conversas e muito menos inteligentes ; trechos de mensagens trocadas entre clientes e motoristas de um aplicativo de transporte. Não sei se são verdades. Mas me desprendi do ;É fake news?; para me divertir e divagar com esse tráfego de excentricidades.

; Boa noite.
; Cheguei.
; Estou na porta do cemitério.

; Boa noite.
; Minha mãe e a minha irmã já estão saindo.
; Do cemitério?
; Isso.
; Ave Maria!

Tenho dúvidas se há estratégia de
marketing capaz de vencer superstições e crendices. A alma do negócio pode oferecer preço baixo, facilidade e comodidade. Mas costuma enfraquecer diante da crença alheia. Dependendo do caso, até quem vende sucumbe. O motorista do HB20 derrapou quando o além apareceu na combinação da corrida.

Também não abro mão de um pequeno cuidado quando decido testar a sorte. Passo longe de um atrativo duvidoso usado por loterias. Elas cobrem a fachada para avisar que, por ali, esteve um vencedor ; em Brasília, há um monte delas, e, certamente, concentrações de sortudos. A superstição tem lógica: se o raio já caiu naquele ponto, prefiro apostar em novos lugares.

No caso de um amigo, a troca de endereço foi por obrigação. Na loja em que trabalhava, entrou um ambulante para oferecer bugigangas. As frases de efeito para ofuscar a qualidade duvidosa dos produtos foram interrompidas pela gerente. Ela abriu mão da gentileza para tirá-lo do estabelecimento. O homem seguiu o tom. Avisou que, assim como tinha entrado para vender, poderia ter entrado para comprar.

Meu amigo decidiu recorrer a uma máxima do comércio para acalmar a chefe. O cliente sempre tem razão, disse ele, na tentativa de convencê-la de que não era o ambulante que tinha passado dos limites. Naquele tarde, assim como o desconhecido, meu amigo encerrava sua temporada na loja na Asa Norte. Um foi expulso pela falta de empatia. Outro, pelo excesso de sinceridade.

A franqueza que incomoda também parece praxe do motorista do Sandero.

; Você vai demorar muito?
; Uns 10 minutos.
; Eitaaaaa.
; Por quê?
; Porque estou tendo que parar toda hora para responder às suas perguntas.

**Em tempo: acabo de saber que o aplicativo prepara uma nova funcionalidade. O cliente terá a opção de não conversar com o motorista, contanto que pague mais. Eles podem até trocar mensagens virtuais, mas seguirão em uma corrida sem alma.

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