Cidades

O bom negócio dos pets

Com uma população de 650 mil cachorros e 191 mil gatos, DF é atrativo para empresas que oferecem produtos e serviços para animais de estimação. Em todo o país, setor faturou R$ 34,4 bilhões no ano passado

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/10/2019 04:16
Brasil é o segundo no ranking global do segmento, perdendo apenas para os Estados Unidos

Trinta e quatro bilhões e quatrocentos mil reais. Esse é o valor que o mercado pet faturou no Brasil em 2018, de acordo com o Instituto Pet Brasil (IPB). O país é o segundo no ranking global do segmento, atrás apenas dos Estados Unidos. Quando há um recorte para o Distrito Federal, os números também impressionam. A capital representa 1,1% da população pet brasileira, abrigando 650 mil cães, 191 mil gatos e 627 mil peixes ornamentais e aves canoras.

O faturamento do setor em Brasília apresenta crescimento e lucros que impressionam no país, como explica Lizanio de Paula Guimarães, distribuidor de produtos para pets, filiado ao Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista/DF). ;No DF, temos um mercado em pleno desenvolvimento. Os donos das mega lojas de pet shops dizem que, em Brasília, estão os maiores faturamentos, porque é um local desenvolvido, com moradores de rendas consideráveis e bom acesso à informação;, afirma. Para Lizanio, que está no mercado de vendas há 20 anos, o conhecimento sobre os produtos leva os clientes a consumirem mais. ;O consumidor do DF pede por produtos de alta qualidade. O mercado tem serviços, comidas e objetos que mudam muito, vão dos mais simples aos mais diversos. Então, quando se tem informações sobre essas diversidades, se consegue consumir mais e melhor;, detalha.

Médica veterinária e proprietária de uma clínica no Sudoeste, Francielle Borges viu na capital federal e na relação que os moradores têm com os pets a chance de abrir o próprio negócio. ;Aqui em Brasília, temos um público flutuante. Muita gente vem transferido, deixou a família fora ou vai ficar pouco tempo aqui, e adquire o animal. Eu não tinha, num primeiro momento, a intenção de abrir um banho e tosa. Sempre fui prestadora de serviço. Mas surgiu a oportunidade de abrir o meu próprio negócio. Então, foi o que fiz;, conta.

O comportamento dos tutores de pets, em Brasília, tem impacto direto no mercado do ramo. Com o passar dos anos, a visão da população sobre os animais foi se modificando e os vínculos passaram a ser mais afetivos, fazendo com que os investimentos em produtos fossem cada vez maiores. É o que opina Daniel Duarte, organizador da PetExpo, evento direcionado para este ramo. ;Hoje em dia, as pessoas não têm mais cachorros só para ficar no quintal e vigiar a casa, por exemplo. Elas cuidam como se fosse um membro da família;, diz.

Os gastos, que antes eram só com alimentação e outros quesitos básicos, passaram a ser mais amplos. Serviços se tornaram mais completos, oferecendo diversas opções para os tutores. ;Planejando nosso evento, descobrimos um mercado gigantesco. Atualmente, os pets têm gastos com plano de saúde, hotel, casas feitas sob medida, cemitério e crematório para cachorros, joias, roupas, produtos de aniversário e muito mais;, acrescenta Daniel.

Uma região que se destaca no consumo de produtos para pets é Águas Claras, que, neste ano, sediou a segunda edição da exposição. ;É um local com público muito jovem, que casa e opta pelo pet para o começo da relação, antes de um filho. E esse amor acaba gerando investimentos com alimentação, roupas, brinquedos e até festas de aniversário;, conta o organizador do evento.

Cuidados

A servidora pública Sueli Assis é um dos exemplos de tutores que fazem questão de investir nos bichinhos. Nina, sua cachorrinha da raça yorkshire, possui uma alimentação natural à base de tilápia, abóbora, chuchu, arroz e vagem. A cadelinha também faz uso de suplementos, como ômega 3, para complementar a dieta, e a orientação alimentar é elaborada por uma nutricionista, que desenvolve um cardápio personalizado para ela.

Sueli conta que a cachorrinha ainda tem o acompanhamento de profissionais como dermatologista, nefrologista e clínico geral. Uma consulta com um desses especialistas, segundo a servidora, sai em torno de R$ 220. ;Hoje, eles não são somente um cachorrinho. Fazem parte da estrutura das famílias e exigem rotinas de cuidados especiais, que têm um custo mais elevado;, pontua a servidora. Nina também demanda outros cuidados de sua tutora. Toda semana, a cachorrinha toma banho em um pet shop, onde Sueli paga cerca de R$ 65 pelo serviço. Sem contar os cuidados com beleza e adestramento.

A cachorrinha também fica em uma creche enquanto os pais trabalham. A diária? Cerca de R$ 37. Tudo isso para não ficar sozinha em casa. No local, Nina socializa com outros animais, gasta energia e é adestrada. ;Primamos e respeitamos o bem-estar dela, ressaltando a importância de conviver com outros cães;, conta a tutora de Nina.

Os investimentos na yorkshire não param por aí. Quando completou dois anos de idade, Sueli presenteou a cadelinha com uma festa de aniversário. ;Vi que era extremamente comum os tutores comemorarem o aniversário do pet. Então, como a creche que ela frequenta disponibiliza o espaço para seus alunos comemorarem o aniversário, resolvi convidar os amiguinhos da creche e os outros mais. Teve bolo, muffins e cupcake feito especialmente para pets. E também refrigerantes, salgados, bolos e doces para os pais;, lembra Sueli. Segundo a servidora, a festa para celebrar os dois anos de Nina custou cerca de R$ 400.

Mas a humanização excessiva dos animais preocupa. A médica veterinária Lorena Campos, 31, vê com bons olhos as novas tendências de cuidados com os pets. No entanto, segundo Lorena, o bem-estar do animal deve estar sempre em primeiro lugar. ;Tenho um olhar positivo, mas com algumas ressalvas. Por exemplo, a parte da humanização. Tratar o pet como se fosse um bebê, com carrinho, por exemplo. A gente vê também que o pet sofre com isso, com outras atitudes muito humanizadas, como sapatinho e perfume. Muitas vezes, a gente pega distúrbios de comportamento que são consequências disso;, alerta.



Serviços mais procurados

Uma pesquisa da empresa MindMiners mostrou a diversidade de serviços para cachorros e gatos no país. Quando perguntado ;Quais serviços abaixo você já contratou para o seu cachorro ou gato?;, os entrevistados responderam:

Serviço Cachorro Gato

Banho em domicílio 28% 16%
Delivery de produtos para cachorro 11% 15%
Táxi para animais 7% 7%
Hospedagem familiar 6% 5%
Passeador 6% 5%
Plano de saúde 6% 7%
Babá de animais 5% 5%
Day care 5% 3%
Plano funerário 3% 3%
Psicólogo 1% 2%
Outro 4% 2%

O setor em números

Dados do Instituto Pet Brasil de 2018 mostram que o país tem

162.148
empresas ligadas ao setor e que o segmento gera cerca de

2 milhões
de empregos


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