Cidades

14 prédios desabaram no DF em 2019; número é o dobro do ano passado

Edifício que desmoronou em Fortaleza traz preocupação para o DF, que registrou 14 casos neste ano. É o dobro de situações em comparação com todo o ano de 2018

Caroline Cintra, Thiago Cotrim*
postado em 17/10/2019 06:00
[FOTO1]Entre 1; de janeiro e 15 de outubro, o Distrito Federal registrou 14 desabamentos de edificações. O número é duas vezes maior do que as ocorrências de todo o ano de 2018, com sete registros. Águas Claras é a cidade com mais incidentes nos dois anos: três em 2019 e dois no ano passado. A Defesa Civil informou que não há um motivo específico para o aumento e que as causas de cada situação são investigadas. O alerta para o risco aumentou após um prédio de sete andares ruir em Fortaleza (CE), na segunda-feira, matando três pessoas. Até o fechamento desta edição, os bombeiros continuavam a busca por sete desaparecidos nos escombros do edifício localizado em área nobre da capital cearense.

No DF, o caso mais recente aconteceu no sábado, na Vila Dimas, em Taguatinga Sul. A varanda de um prédio despencou do terceiro andar. Ana Carolina Veiga de Araújo, 25 anos, limpava a laje e caiu com a estrutura. A vítima precisou ser transportada pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT) com dores no braço direito, na perna esquerda e na virilha.

O incidente preocupou moradores e comerciantes da região. Dono de uma loja de sapatos próxima ao prédio, William Guimarães, 50, disse que essa é a primeira vez que ocorre um desabamento nas proximidades. ;O caso foi estranho, porque nunca houve algo parecido antes. Confesso que só agora as pessoas ficaram mais apreensivas e com medo de que isso possa acontecer novamente;, afirmou.

O coordenador de Operações da Defesa Civil, tenente-coronel Sinfrônio Lopes, explicou que no DF, geralmente, os desabamentos são parciais, como a queda de um muro ou de uma marquise. ;Muitas dessas situações ocorrem por efeito externo, como um vazamento da Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do DF). Mas reformas feitas no interior do imóvel também podem alterar a estrutura da edificação e apresentar riscos. É muito comum as pessoas aumentarem as marquises, quebrarem paredes, colocarem porta de blindex e móveis que extrapolam o peso que uma varanda suporta, por exemplo. É preciso observar toda a estrutura antes de fazer qualquer mudança;, orientou.

Até esta quarta-feira (16/10), a Defesa Civil interditou 93 construções em risco na capital federal. Entre as principais ameaças estão infiltrações e vazamentos. No total, foram emitidos 695 termos de notificações em construções com danos em telhados, muros, garagem, laje ou no próprio imóvel por falhas nos padrões de segurança. Em 2018, o órgão registrou 954 ocorrências.

O especialista e professor de engenharia civil da Universidade Católica de Brasília (UCB) Li Chong ressaltou que os números apresentados pela Defesa Civil ocorrem com o crescimento desordenado das cidades. ;Alguns incidentes coincidem com a saída da estiagem para o inverno, e algumas regiões não possuem drenagem, o que causa o descalçamento das edificações e a modificação das estruturas;, detalhou.

Li destacou, ainda, que toda obra precisa de acompanhamento de um responsável técnico, seguindo as normas da ABNT, como a de número 16.280, que rege as diretrizes da reforma. ;O engenheiro ou arquiteto deve apresentar um projeto e cumprir as regras em relação à altura, por exemplo. Além disso, não pode infringir o plano diretor da cidade. Isso tudo será seguido por um profissional habilitado;, completou.

Fatalidade


Em outubro de 2017, o técnico de edificação Agmar Silva, 55, morreu soterrado pelos escombros de um prédio de seis andares em Colônia Agrícola Samambaia. Ele vistoriava a construção em uma área irregular quando o prédio desabou parcialmente. O profissional conversava com dois colegas na hora do incidente. Outros funcionários estavam do lado de fora, almoçando. O corpo de Agmar foi encontrado 60 horas após o início das buscas. Cerca de 30 militares participaram do resgate.

Em março de 2018, a Justiça do Distrito Federal determinou que a construção fosse totalmente demolida, devido ao risco. O pedido para a derrubada partiu do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A obra não tinha licença ambiental e ameaçava sofrer novo desabamento. Quase um ano após o incidente, a construção foi implodida.

*Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart

Atenção

Pedidos de vistorias e denúncias podem ser feitos pelos telefones 199 (Defesa Civil) e 156 (Ouvidoria do GDF). Em casos de urgência, acionar o Corpo de Bombeiros (193) ou a Polícia Militar (190).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação