Cidades

Polícia investiga caso de vendedora encontrada morta como feminicídio

Mulher de 38 anos é encontrada morta com um tiro no rosto horas depois de deixar o trabalho, em um shopping da Asa Norte. Agentes tentam detalhar os últimos passos da vendedora, com depoimentos de amigos e familiares e imagens de câmeras de segurança

Emilly Behnke, Agatha Gonzaga
postado em 19/10/2019 07:00
[FOTO1];A voz dela se despedindo de mim ainda está na minha cabeça. Eu também estava de carona e fui embora com outra colega.; Ana Carolina Rodrigues ainda não sabia, mas o adeus a Noélia Rodrigues de Oliveira seria o último. Depois de deixar o Brasília Shopping, no início da Asa Norte, a mulher de 38 anos não chegaria à casa dela, em Sol Nascente, onde morava com o marido e dois dos três filhos. O corpo foi encontrado na manhã desta sexta-feira (18/10) em uma área de difícil acesso, na Colônia Agrícola 26 de Setembro, entre a Cidade Estrutural e Vicente Pires. Noélia levou um tiro no rosto e estava vestida. O caso é investigado pela 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires) como feminicídio. ;O protocolo da Polícia Civil determina que toda morte violenta de mulher, a princípio, seja tratada como feminicídio;, explicou a delegada-chefe da 38; DP, Adriana Romana.

Imagens do circuito de segurança do shopping mostram o momento em que a lojista deixou o local, por volta das 22h de quinta-feira ; ela começava a trabalhar às 16h. Na hora de ir embora, no entanto, Noélia fez duas coisas que não eram da rotina dela, segundo Ana Carolina. ;Nós duas tínhamos a chave e, geralmente, a Noélia saía uns 10 minutos antes das 22h para pegar o ônibus. Mas, nesta sexta-feira (18/10), ela me disse que fecharia a loja, porque iria embora de carona;, contou a colega.

Noélia não foi mais vista depois de deixar o Brasília Shopping. Para o marido, identificado apenas Marcos Paulo Mendes Santana, Noélia teria dito, por volta das 22h e a partir de uma ligação com vídeo, que estava a caminho do ponto de ônibus no Eixo Monumental, onde costumava pegar o coletivo para o P Norte, em Ceilândia. Às 22h23, não acessou mais o telefone, horário marcado pelo WhatsApp.

De acordo com Ana Carla Cardoso, amiga da família, a filha da vendedora percebeu o sumiço por volta da 0h50 ; a mãe costumava voltar para casa às 23h15. Além disso, José Egídio de Oliveira, irmão que mora próximo ao shopping da Asa Norte, contou que recebeu uma ligação do marido de Noélia, preocupado com o desaparecimento dela. Por volta das 6h, o companheiro também telefonou para Ana Carla.

Marcos Paulo registrou o desaparecimento da mulher na 5; Delegacia de Polícia (Área Central). Segundo funcionários da loja, nesta sexta-feira (18/10) pela manhã, o marido esteve no local à procura de imagens feitas pelas câmeras do shopping e de hotéis próximos ao trajeto da vítima. Ao ser comunicado da localização do corpo, Marcos Paulo foi até o local, na Colônia Agrícola 26 de Setembro, e reconheceu Noélia.

A polícia informou que, além do ferimento à bala no rosto, a vendedora apresentava sinais de luta corporal. A Polícia Militar preservou a área até a chegada da perícia da Polícia Civil. Mais de 10 familiares e amigos ficaram na delegacia durante a tarde e a noite de sexta-feira. Além de ouvir funcionários da loja, os investigadores do caso colheram o depoimento de Marcos Paulo durante mais de quatro horas. O carro e a moto dele foram apreendidos. O ex-marido de Noélia, pai do filho mais velho dela, também deu esclarecimentos. Trata-se do 27; caso de feminicídio registrado no Distrito Federal em 2019.

Comoção

A lojista deixou três filhos: dois meninos, um de 16 e um de 5 anos, além de uma menina, de 9. Os dois mais novos são da união com Marcos Paulo, com quem estava casada havia cerca de 10 anos. A caçula de 14 irmãos gostava de reunir a família. ;Ela estava sempre alegre, sorrindo e era muito preocupada com os filhos;, contou José Egídio de Oliveira, irmão de Noélia. Cearense, morava em Brasília havia 26 anos, sempre trabalhando como vendedora. ;Ela amava o que fazia, trabalhou em vários shoppings da cidade;, disse José Egídio.

Na loja onde Noélia trabalhava havia dois anos, o sentimento era de consternação e incredulidade. Para a gerente do local, Mozana Alves, a sensação era de que, a qualquer momento, ela apareceria no emprego. ;Acho que só quando passarem algumas semanas vai cair a ficha. Por enquanto, parece que nada aconteceu e que, daqui a pouco, ela chegará para trabalhar, como sempre veio, com aquele jeito alegre, sempre recebendo bem os clientes;, ressaltou.

A todo momento, amigos e conhecidos passavam no local para deixar um abraço de conforto aos colegas da vítima. De acordo com os funcionários, Noélia não aparentava ter nenhum problema pessoal. ;Ela era muito preocupada com os filhos, todos os dias fazia videochamada com eles, durante os intervalos, e só ficava mais tranquila após a chegada do marido em casa;, lembrou a vendedora Ana Carolina.

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