postado em 20/10/2019 04:06
Brasília das fés
De família católica, fui batizado e fiz a primeira comunhão. Cobri a vinda do papa Bento XVI a São Paulo e Aparecida do Norte, em 2007. Doze anos depois, em Rabat, capital do belo Marrocos, voltei a reportar a visita de um pontífice e cheguei a apertar a mão de Francisco. Transitei durante um período por centros espíritas kardecistas, antes de frequentar, por vários anos, a União do Vegetal, uma religião hoasqueira de doutrina cristã e de gente de paz. Também fui algumas vezes à Fraternidade Universalista da Divina Luz Crística, templo com influência da umbanda. Todas essas experiências ajudaram a me conectar ao sagrado e ao meu interior. A cada uma delas devo minha profunda gratidão.
Hoje, parafraseio meu irmão gêmeo, Leonardo. Ao ser questionado pela filhinha se ele é católico, respondeu com sutileza, assim: ;Sou sim, filha.Também sou espírita, evangélico, umbandista, do candomblé e de qualquer religião do bem;. De fato, como ele mesmo disse, Deus não exige rótulos. A fé é uma busca intimista, pessoal. Não consigo compreender como terreiros de umbanda e imagens de orixás tenham sido destruídos ou vandalizados, em Brasília. Nossa capital, a exemplo da profusão de culturas, é um amálgama de crenças. Ela sintetiza, perfeitamente, o chamado sincretismo religioso que molda a nossa sociedade e nossa cultura.
Quando uma pessoa escarnece da crença de outra e tenta lhe impor dogmas acaba por mergulhar no abismo da intolerância. Isso ocorre por fanatismo, pela prepotência de acreditar que sua fé é única ou mesmo por ignorância. Algumas vezes, por preconceito, pelo conceito prévio de algo que não se conhece. Brasília é o local ideal para exercitarmos a tolerância e a fé. Ainda que essa última seja algo bastante pessoal, e respeitando aquelas pessoas que praticam o ateísmo, creio que exista uma centelha divina dentro de nós mesmos. É ela quem colabora com a nossa moral, a nossa postura ética perante o mundo, o nosso senso de bondade e de justiça.