Cidades

Família pede justiça em velório de Noélia

Cerca de 200 pessoas participaram do enterro da comerciária, encontrada morta com um tiro no rosto horas depois de deixar o trabalho em um shopping da Asa Norte, na última sexta-feira (18). Os pais, que são idosos e moram no Ceará, não participaram da despedida da filha

postado em 21/10/2019 04:19
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Com emoção e incredulidade, familiares, amigos e colegas de trabalho de Noélia de Oliveira Rodrigues, 38 anos, se reuniram para a despedida da comerciária. O velório de Noélia ocorreu ontem (20) no Cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga. A Capela 1 do local ficou lotada, cerca de 200 pessoas compareceram para o adeus à Noélia.
Mãe exemplar e trabalhadora dedicada, ela deixa três filhos: uma menina de 9 anos, um menino de 5 e um adolescente de 16 anos. Fica também a saudade de uma amiga e familiar querida.

;Era uma pessoa maravilhosa, do bem e muito cativante. Foi muita crueldade. Virou algo banal matar mulheres;, disse uma amiga, que preferiu não se identificar. ;Ela era alegre, tinha um sorriso lindo e muita vontade de viver;, completou.

A quantidade de pessoas que se reuniram para se despedir de Noélia não foi por acaso. ;Ela tinha muitos amigos, era querida. Trabalhava na área de comércio e conhecia muita gente, era simpática;, afirmou José Egídio de Oliveira, 55, irmão de Noélia.

Parte da família de Noélia, que é cearense, não pode comparecer por morar em outros estados. Os pais, que são idosos, vivem no Ceará e não conseguiram participar da despedida da filha. A comerciária era a mais nova de uma família de 14 irmãos. ;A família é muito grande tem gente que mora no Acre. Mas veio um pessoal do Tocantins, de Goiânia e os daqui de Brasília;, comentou o irmão.






O sentimento de inconformidade e o desejo de justiça também se fizeram presentes. O assassino de Noélia ainda não foi detido. A polícia segue com as investigações. ;Tem sido muito difícil não saber quem fez essa maldade;, disse Egídio.

O irmão do meio, José Guedes, 48, lamentou não poder ver a irmã pela última vez. ;O caixão está até coberto porque o rosto ficou muito deformado;, disse, com emoção. Para o velório, uma foto da vendedora foi colocada em cima do caixão. ;Ela não merecia passar por tudo isso. Era uma moça muito alegre. Foi muito cruel;, disse Guedes.

Em discurso, os irmãos comentaram que a dor da perda de Noélia continuará para sempre. Fica a esperança por justiça. ;Pegaram ela para executar, para matar mesmo. Fico muito revoltado com isso. Espero que descubram quem fez isso com ela. Espero que a justiça seja feita;, acrescentou José Guedes.

O crime

Noélia foi encontrada morta, na última sexta-feira (18/10), na Colônia Agrícola 26 de Setembro, entre a Cidade Estrutural e Vicente Pires. O corpo dela apresentava uma marca de tiro no rosto e sinais de luta corporal, apesar de estar vestido. A moradora do Sol Nascente havia desaparecido na quinta-feira (17/10) por volta das 22h, após sair do shopping onde trabalhava, na Asa Norte.

Na noite do desaparecimento, o marido de Noélia, Marcos Paulo Mendes Santana, conversou por vídeo com a esposa pouco antes de ela não ser mais vista. Ele relata que, a partir das 22h23 de quinta-feira (17/10), a esposa não retornou às ligações ou mensagens. Colegas de trabalho contaram à reportagem que Noélia comentou que pegaria uma carona naquele dia.

A comerciária costumava voltar para casa de ônibus, que pegava no Eixo Monumental, próximo à Torre de TV, e depois o marido a encontrava na parada de ônibus mais próxima de casa. Imagens do circuito de vigilância mostram a a funcionária da loja deixando o shopping às 22h03. Depois disso, ela não foi mais vista.

Investigação

O marido de Noélia, com quem ela era casada há mais de 10 anos, chegou a registrar ocorrência do desaparecimento dela na 5; Delegacia de Polícia (Área Central). Já na madrugada do desaparecimento, ele entrou em contato com os cunhados para saber notícias de Noélia. ;Fomos até a delegacia, mas informaram que o desparecimento estava muito recente e não poderia ser feito o boletim naquele momento. Esperamos o dia amanhecer e fomos registrar a ocorrência;, explicou o irmão de Noélia.

Ele relatou o sentimento de desespero de toda a família para encontrar Noélia. ;Estávamos na expectativa de encontrá-la viva;, disse Guedes. Entretanto, horas após registrarem o desaparecimento, Marcos Paulo foi chamado para o reconhecimento do corpo de Noélia.

Ainda na sexta-feira, os investigadores ouviram Marcos Paulo por mais de três horas e recolheram as roupas que ele usou no dia desaparecimento. O carro e a moto dele também foram apreendidos para análise. ;Estamos investigando isso, mas também estamos investigando outras hipóteses;, afirmou a delegada-chefe Adriana Romana, da 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires), que apura o caso. Segundo a delegada, por medida protocolar da Polícia Civil, o caso é tratado como feminicídio por envolver a morte de uma mulher de forma violenta.

No sábado, Geraldo Madureira,
advogado de Marcos Paulo, disse que o cliente colabora com a polícia, pois foi ;tratado como suspeito;. O advogado ressaltou que foi o próprio Marcos que sugeriu a ida da polícia até a casa em que morava com Noélia e os dois filhos, localizada no Sol Nascente.

O marido mostrou aos investigadores o trajeto que costumava fazer com Noélia quando a buscava na parada de ônibus, após ela sair do trabalho. ;Ele autorizou tudo e colabora para tirar essa nuvem de dúvida;, disse Madureira. No velório, o marido não se pronunciou. Familiares próximos relataram apenas que deseja que a justiça seja feita e que ele deve retornar à delegacia para depor ainda nesta semana.


Onde procurar ajuda
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência ;
Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Entrequadra 204/205 Sul ; Asa Sul 3207-6172
Disque 100 ; Ministério dos Direitos Humanos
Telefone: 100

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
Telefones: (61) 3910-1349 / (61) 3910-1350

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