Cidades

Com a chuva, moradores de Vicente Pires voltam a sofrer no dia a dia

Os mais de 100 mil moradores passam por dificuldades para transitar nas vias da região

Emilly Behnke
postado em 23/10/2019 06:00
[FOTO1]Lama, congestionamento, buracos e enxurradas perigosas. Nesse período de chuvas, o caos em Vicente Pires não foi menor do que em anos anteriores, mesmo com a região parcialmente asfaltada. A localidade recebe obras de infraestrutura que serão afetadas com o começo do período chuvoso. Os mais de 100 mil moradores passam por dificuldades para transitar nas vias da região.

O estrago neste ano por conta das obras foi pior para Jurandi Pereira Marinho, 58 anos, dono de um restaurante na Rua 3. Morador da cidade desde 1999, ele conta que, em anos anteriores, a situação era passageira. ;No passado, a gente tinha problema de enxurrada durante um período. Depois passava e voltava ao normal.;

Com as obras e o agravante da chuva, ele viu a clientela diminuir. ;O movimento reduziu uns 80%. Quem é louco de colocar o carro aqui desse jeito?;, questiona. Segundo o empresário, o restaurante, inaugurado em 2008, sempre teve boa demanda, atendendo a moradores da região e de Águas Claras. Agora, a situação é outra. ;Estou sem dormir, não sei o que fazer. Tenho cinco funcionários, não sei se dou férias para eles. Nem delivery podemos fazer. Só hoje vi quatro motoqueiros caírem aqui na rua por conta da lama;, ressalta.

Elaine Cristina da Silva, 42, mora em Santa Maria, mas trabalha há seis anos como doméstica em uma casa também na Rua 3. A via está com enormes valas para colocação de manilhas, que inundaram. Para chegar ao trabalho, ela desce na via EPTG e anda uns 800 metros. ;Eu sei que, se eu vier com tênis ou sapatilha nova, eu os perco. Hoje tive que enfiar a mão na lama para tirar a sandália;, conta.

Com marcas de lama até as canelas, ela diz que já se acostumou com os perrengues anuais. ;Antes de chover, era a poeira. A gente andava de máscara, porque não conseguia respirar. Para uma pessoa que tem asma, como eu, a lama é melhor. Eu prefiro, é até melhor que não tenho crise;, completa, conformada.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a semana terá trovoadas e pancadas de chuvas isoladas no Distrito Federal. A previsão é de chuvas fortes até, pelo menos, sexta-feira.

Aviso


Os moradores até tentaram se organizar para evitar o tormento característico do período. Gilberto Camargos, presidente da Associação de Moradores de Vicente Pires e Região, diz que chegou a enviar um ofício para a administração regional pedindo o fechamento das ruas 3, 7 e 8, que estão em obras.

;O problema não é só o caos na cidade, é o dano ambiental irreversível. Toda a terra desce pela Rua 3 até a EPTG e cai no Córrego Vicente Pires;, ressalta Camargos, morador da região há 26 anos.

O presidente reconhece que, em algumas ruas, a situação está melhor do que em anos anteriores, mas não acredita na possibilidade de conclusão das obras dentro do prazo.

As obras incluem a instalação de sistemas de drenagem de água e esgoto, a colocação de bocas de lobo e a pavimentação de ruas e calçadas. A região tem investimento previsto de R$ 462 milhões, sendo o principal canteiro de obras do DF. Segundo a Secretaria de Obras e Infraestrutura, até o momento, foram investidos R$ 210 milhões, dos quais R$ 66 milhões foram pagos em 2019. A pasta ressalta que as obras não serão paralisadas durante as chuvas.

O Governo do Distrito Federal (GDF) planeja entregar, até o fim de 2020, todo o projeto de infraestrutura concluído em Vicente Pires. Até setembro, foram asfaltados 142.413 metros quadrados de ruas e avenidas e 49.843 metros quadrados de condomínios e chácaras. Já ganharam pavimentação, parcial ou integral, as ruas 3, 3B, 3C, 4, 4B, 6, 7, 8, 10.

De acordo com o administrador regional, Daniel de Castro, a cidade está preparada para a chegada da chuva. ;Nós asfaltamos as avenidas principais, a 8, parcialmente, a 10 e 6;, informa. Segundo ele, o plano é abrir as bocas de lobo das ruas, mesmo as que não têm asfalto finalizado, para que a água caia dentro das manilhas. ;Temos a preservação e a garantia das obras pelos próximos cinco anos, previstos em contrato;, completa.

Planejamento


Daniel de Castro reassumiu a Administração de Vicente Pires no último dia 15, depois de 30 dias na vaga de deputado distrital, como suplente de Iolando Almeida (PSC). A passagem curta na Câmara Legislativa era prevista justamente porque o pastor deveria retornar para seguir com o cronograma das obras na região. ;Voltei para entregar as obras, foi um pedido do governador Ibaneis (Rocha);, justifica Castro. Ele acredita que, apesar do transtorno, o avanço é contínuo. E prevê que as obras em toda Vicente Pires já estejam 70% concluídas até dezembro.

O administrador explica ainda que não tem planos para fechar as ruas. ;Não posso, os comerciantes reclamam. Se eu fechar, vai ser só a Rua 7, porque ela é muito íngreme. Na chuva anterior, os carros nem subiam;, diz. A Rua 7 tem uma faixa inteira interditada, e a previsão de entrega do asfalto no local é 15 de novembro.

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