Jornal Correio Braziliense

Cidades

Livro conta trajetória de projeto de contação de histórias para crianças

Autores lançam livro inspirado na trajetória de projeto voluntário de leitura para crianças. Tapete vermelho conta a história desse símbolo de respeito e mostra que ele pode celebrar bem mais que a passagem de reis e rainhas

[FOTO1]Estender um tapete vermelho representa mais que uma reverência. É sinal de respeito. Como rei ou rainha, quem pisa nos fios tingidos pelo pigmento vivo pode sentir a potência do gesto. Ao longo de 13 anos, foi isso o que o projeto Roedores de Livros fez, ao acolher e transportar crianças e adolescentes a um mundo que se desvela sobre o tapete mágico. A trajetória desse trabalho voluntário virou também livro, que será lançado neste sábado (26/10).

O projeto se abriga atualmente num canto cheio de aconchego no Shopping Popular de Ceilândia. A ideia é levar a literatura aos roedores ; como são chamados os leitores que frequentam o espaço ; desde cedo. O contato se dá por meio da mediação de leitura, e os que gostam podem emprestar as obras apresentadas ou escolher qualquer outra do acervo de mais 5,3 mil títulos da ;bibliotoca;.

Sobre o tapete, descalços, todos se igualam e se abrem para ouvir atentamente as histórias e embarcar juntos em cada fantasia. É um pouco desse poder simbólico que Ana Paula Bernardes e Tino Freitas contam em Tapete vermelho. Com ilustrações de Sandra Jávera, o livro faz um passeio pelo pigmento, antes caro e difícil de ser obtido. Apenas os donos das maiores riquezas tinham túnicas rubras, que dirá, um tapete.

É dessa forma que os Roedores de Livros recebem as maiores riquezas do mundo: as crianças. Debruçadas nas almofadas sobre o vermelho vibrante, elas escutam as histórias mais variadas da literatura infantojuvenil. De quarta-feira a sábado, o espaço educativo atrás das lojas dos feirantes recebe o público ávido pelas aventuras de personagens coloridos.

Ao longo da última década, Ana e Tino viram crianças se tornarem adultos e voltarem com saudade. ;A literatura infantil tem uma coisa interessante. Acham que para esse público só existe ;livrinho;, mas hoje eles são trabalhados. São verdadeiras obras de arte;, garante Ana Paula. ;Esse aqui é um espaço de pluralidade e de apresentar o mundo para as crianças. Temos livros sobre indígenas, cultura africana, escritores de Brasília e muito mais.;

Ela conta que o trabalho de mediação fomenta a leitura. ;Não basta ter uma biblioteca ou o acesso ao livro. É preciso ter alguém que possa te mostrar esse caminho para que, lá na frente, você possa caminhar com as próprias pernas, como leitor;, explica a autora. O objetivo agora é alcançar um público mais amplo, em Ceilândia e no restante do Distrito Federal. Escolas interessadas podem agendar um horário para levar os alunos. O tema da leitura normalmente é escolhido pela coordenação do projeto, mas os professores podem fazer sugestões.

O começo

Quem vê as salas recheadas de livros e decoradas com ilustrações de artistas nas paredes não imagina que houve uma época em que o acervo era transportado em caixas de papelão ; uma biblioteca ambulante. A ideia do projeto nasceu, em 2006, da parceria entre Tino e Ana, à época, casados. Ela, professora, ministrava cursos em que falava da importância da literatura, mas ouvia de colegas sobre a dificuldade em colocar aquilo em prática dentro da sala de aula.

Pouco depois, em um evento na 312 Norte, no Açougue Cultural T-Bone, que contou com a presença do escritor Ziraldo, Tino lançou a proposta de trabalhar literatura infantil no espaço. A ideia foi aceita e, por cerca de um semestre, a dupla passou a fazer leitura para crianças todos os sábados. ;Mas era uma coisa de uma vez só. Elas iam e não voltavam mais. A gente queria formar leitores;, lembra Tino.

Surgiu, então, a proposta de levar o trabalho para Ceilândia. Dois anos depois, chega a notícia de que não poderiam mais ocupar a sala na creche em que se reuniam. Para manter o projeto vivo, os dois passaram a contar as histórias em um gramado, mas então, um novo problema: formigas e outros insetos que incomodavam as crianças. Assim o tapete vermelho chegou, abrigando e confortando os jovens leitores.

De lá, o grupo conseguiu a sala no Shopping Popular, em local que estava abandonado. ;Nós revitalizamos, e hoje a cara é outra. Isso também é educação;, afirma o escritor. ;O amor é uma assinatura importante, talvez a mais importante de todas, mas a gente trabalha nisso porque a gente tem teimosia e esperança. Isso que move o Roedores;, resume Tino.

Os autores

  • Ana Paula Bernardes é graduada em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB) e professora da Secretaria de Educação do DF. Fascinada por literatura, na faculdade se aproximou da vertente infantil. É idealizadora e coordenadora do projeto Roedores de Livros. Atua como educadora na formação de mediadores de leituras e como consultora em programas de promoção do livro e leitura no Brasil.
  • Tino Freitas é jornalista, músico, escritor e contador de histórias, além de mediador de leitura do Roedores de Livros, onde se apaixonou pelo trabalho com crianças. Autor de 24 livros infantis, teve obras premiadas com o Jabuti e o Selo Altamente Recomendável para Crianças, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Tapete vermelho

De Ana Paula Bernardes e Tino Freitas
Ilustrações: Sandra Jávera. Editora do Brasil
Número de páginas: 32
Preço: R$ 44
Lançamento: neste sábado (26/10), às 17h, com a participação dos autores e mediação de leitura para crianças. Sebinho, 406 Norte, Bloco C, Loja 44