postado em 26/10/2019 04:07
Criaram um grupo de WhatsApp da minha turma de segundo grau. Era assim, caro jovem leitor, que se chamava o ensino médio na minha época. Depois do choque de ser lembrado que, ano que vem, terão se passado três décadas inteiras da nossa formatura, passei a me deliciar com as notícias e fotos de antigos amigos, que há muito tempo não via.
Nenhuma saudade daquele tempo, confesso. Saudade senti das pessoas com quem realmente vivi uma relação de carinho e amizade. Não as vi todas nas fotos que estão postando no grupo, mas me lembrei com carinho de Fabiana, Roueda, Ernesto, Karine, Fabiano, Cloude, Alexandre, William, Rodrigo e tantos outros amigos "inseparáveis". Pessoas com quem perdi o contato, mas imagino que estejam bem. Gosto de pensar assim.
Curiosamente, não foi a proximidade do aniversário de 30 anos de nossa formatura que me deu a noção da passagem do tempo. Senti-me "velho" ao perceber que fatos muito, muito graves e dramáticos podem ser, agora, lembrados como algo engraçado. Fiquei admirado, por exemplo, ao perceber que os feios ; e sempre me senti parte dos feios ; eram, vejam só, bem graciosos. Meninos e meninas recém-saídos da infância, como todos os outros. Simples assim.
A lembrança do menino intenso e cheio de complexos que eu era não me faz ter vontade nenhuma de voltar àquela época. Mas, vendo as fotos, recebendo as notícias e relembrando as histórias, senti vontade de poder voltar a dois dias específicos. Só para refazer a história e evitar de ser muito, muito estúpido. Nesses dias fiz coisas tão feias que nem a passagem do tempo conseguiu amenizar.
O primeiro sei bem que foi o 9 de agosto de 1990. Dia de meu aniversário, quando uma amiga docemente preparou uma festinha surpresa para mim. Comprou um bolo, colocou velas sobre ele e, na hora do recreio, entrou na sala convidando todos para cantar Parabéns pra você. Reagi com revolta, me dizendo contra aquelas "convenções capitalistas" (ou qualquer outra expressão boba do tipo) e que não queria nada daquilo. Certamente a magoei naquele dia, mas era, como podem notar, muito infantil para evitar minha burrice ou, depois, pedir as devidas desculpas.
O outro não sei quando foi exatamente. Mas foi um dia em que tratei muito mal uma colega de sala com quem havia ficado num dos churrascos da turma. Ela queria conversar e confirmar algo ruim que havia dito sobre ela após a festa. Ao ser confrontado, reagi do jeito mais boçal que consegui, negando e gritando. Ela, madura, viu que com aquele menino idiota não tinha conversa e se afastou.
Pudesse eu voltar no tempo, esses dois dias seriam certamente revisitados. Se minhas colegas se reconhecem nas histórias, deixo aqui meu sincero pedido de desculpas. Se não se lembram, fico feliz, e peço desculpas mesmo assim. Tenho sorte de não lembrar com mágoa de nenhum dos meus colegas. Talvez de um ou outro professor, é verdade, mas isso pediria um outro texto, porque esta é só uma crônica para pedir perdão. Beijos, turma de 1990.