Caroline Cintra
postado em 28/10/2019 06:00
[FOTO1];Estou me sentindo muito bem, bonita e turbinada. Minhas filhas estão até com inveja de mim;, brincou a aposentada Maria Alci da Silva Ferreira, 64 anos. Ela trata um câncer de mama descoberto em fevereiro deste ano. Como parte do tratamento, precisou retirar o seio esquerdo. No mesmo dia, por meio de mutirão de reconstrução mamária no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), colocou a prótese de silicone. Um dia após o procedimento, recebeu alta médica e se recupera bem da cirurgia.A aposentada descobriu a doença durante o banho. Enquanto fazia o autoexame, sentiu um caroço na mama e, logo, foi ao posto de saúde próximo de onde mora, em Samambaia Sul. Na unidade de saúde, pediram uma mamografia, e ela passou por uma série de exames. Uma biópsia confirmou o câncer. ;Os médicos me falaram que eu teria de tirar o seio, mas em nenhum momento fiquei abalada. Para mim, o que mais importa é minha saúde. Se era o melhor a fazer, eu faria tranquilamente;, diz Maria.
A retirada e a reconstrução da mama estavam marcadas para o mesmo dia. Na última quinta-feira, ela entrou na sala de cirurgia pela manhã e saiu no fim da noite, por volta das 23h. ;Prepararam um caminho todo rosa, enfeitado, deixando o pré-operatório menos tenso. Tiveram todo o cuidado. Antes e depois da cirurgia, a encheram de mimo. Assim, tratar a doença fica mais leve, tanto para ela quanto para nós, familiares;, afirma a filha de Maria, a assistente comercial Gisele Ferreira, 37.
Para a dona de casa Maria Carvalho Ramos, 58, a doença chegou de forma silenciosa. Sempre que lembrava, fazia o autoexame, mas nunca sentiu nada diferente. Em novembro de 2018, começou a sentir dores no mamilo esquerdo. Com o passar dos dias, percebeu uma descamação no órgão, que se tornou uma ferida. Assustada, foi ao médico e recebeu o diagnóstico.
Ela lembra que levou um susto, porque não havia casos da doença na família. ;Os meus filhos choraram muito, e eu fiquei extremamente abalada. A gente nunca imagina que vai acontecer com a gente, mas aconteceu;, conta. Saber que precisaria retirar a mama foi outro momento doloroso para a família. ;Mexe com a autoestima da gente. Não é fácil. Mas ainda bem que os médicos conseguiram fazer os dois procedimentos no mesmo dia. Não fiquei nenhum dia sem minha mama. Continuo sendo a mesma. Estou feliz. Agora, é esperar a recuperação e me ver bem e inteira;, ressalta a dona de casa.
Este é o quarto ano em que o HRT promove a semana da reconstrução mamária. Para a supervisora do centro cirúrgico, Mônica Dias, apesar de dias cansativos e de muito desgaste físico, a recompensa vem do sorriso e da emoção de cada paciente após o procedimento. ;Elas são bem cuidadas em cada etapa. Ao receberem alta, são maquiadas e saem ainda mais lindas daqui. Nada paga a sensação de fazer o bem;, declara.
Além dos servidores da unidade de saúde, a ação recebe o reforço de voluntários. Entre eles aposentados, pessoas de férias e até profissionais da saúde de outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. ;A gente fica cansado, esgotado fisicamente, mas sai daqui feliz da vida, com sensação de missão cumprida e de que fomos úteis para levar mais amor e alegria para aquelas mulheres;, garante Mônica.
Para a psicóloga Lia Clerot, além das ações da campanha do Outubro Rosa, a terapia pode auxiliar na aceitação da doença e do tratamento. ;É muito doloroso. Em meio a todo o processo, as mulheres sofrem muito. Algumas perdem os cabelos, a aparência muda. Por isso, durante o período, é importante o acompanhamento psicológico para lidar com as mudanças. Falar sobre o assunto é uma forma de evitar que a doença seja um obstáculo para o bem-estar e a autoestima;, destaca.
Portas abertas
Até 31 de outubro, a Secretaria de Saúde realiza ações do Outubro Rosa. As unidades básicas de saúde (UBS) e as policlínicas acolhem as mulheres para exames preventivos e mamografia. A paciente pode ir a qualquer unidade, independentemente da cidade onde reside. Segundo a pasta, cada uma que passar por consulta terá o retorno agendado, e os encaminhamentos garantidos. A expectativa é de fazer 100 mil atendimentos.A Policlínica da 514 Sul abriu as portas para o exame de prevenção, encaminhamento para ecografia trasvaginal e mamografia. Excepcionalmente no mês de outubro, o atendimento é feito por cinco ginecologistas obstetras. Nesse tipo de assistência, não é necessário agendar. O serviço é feito por enfermeiros e técnicos de enfermagem na Sala da Mulher, denominada Espaço Rosa. Em seguida, a paciente é conduzida para os testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites B e C.
Artigo
por Janaina Jabur, oncologistaComo enfrentar o câncer de forma mais leve?
Há alguns anos, o diagnóstico de câncer era uma sentença de morte, pois os tratamentos acarretavam efeitos colaterais difíceis de serem tolerados e, muitas vezes, não traziam a cura tão desejada. Com o avanço da medicina, temos modalidades terapêuticas cada vez mais modernas, menos invasivas, com menos efeitos colaterais e altas taxas de cura ; em muitos casos. De posse dessas informações, o paciente pode adquirir mais confiança de que seu tratamento dará certo e com melhora da qualidade de vida, o que torna essa batalha um pouco mais leve.
Além disso, é muito importante que o paciente tenha um suporte emocional adequado, plenamente cercado de amor e cuidado, pois sabemos que isso tem impacto no transcorrer do tratamento e, depois, durante o seguimento. O ideal é que o paciente com câncer seja acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta, inclusive, por psicólogo, que auxiliará no enfrentamento às questões relacionadas à doença, ao tratamento e a suas implicações na vida prática.
Falando em multidisciplinaridade, não se pode deixar de citar a importância da alimentação balanceada e prática de atividades físicas tanto na prevenção quanto no tratamento. Mudar o estilo de vida e ter hábitos saudáveis auxilia no enfrentamento mais leve dessa doença tão séria, mas, claro, incluindo a interrupção do tabagismo e o consumo moderado de bebida alcoólica.
Cuidar do corpo, da mente e das emoções é a chave para o bom enfrentamento do câncer e ajuda a melhorar a tolerância e a eficácia dos tratamentos.