Cidades

Prejuízo milionário contra a CEB

Investigação da Polícia Civil e do Ministério Público revela golpes em transferência de titularidade, adulteração de medidores e fornecimento em obras embargadas. Perdas na Companhia Energética de Brasília passam de R$ 20 milhões

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 01/11/2019 04:07
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Em quatro meses, a Companhia Energética de Brasília (CEB) teve um prejuízo de pelo menos R$ 20 milhões. É o que estima a Polícia Civil após deflagrar uma operação contra uma organização criminosa que aplicava golpes e desviava dinheiro da empresa. Ontem, a corporação cumpriu 19 mandados de prisão temporária e 25 de busca e apreensão na casa de suspeitos e na sede da companhia, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). A polícia investiga a participação de mais pessoas.

Entre os presos estão oito servidores da CEB, um ex-funcionário, terceirizados e eletricistas autônomos. As buscas ocorreram em Ceilândia, Taguatinga, na Estrutural, no Recanto das Emas, em Sobradinho, Santa Maria, no Gama, em Águas Lindas e no Novo Gama. Na residência de um dos envolvidos, a polícia encontrou uma Toyota Hilux. O veículo estava no nome da mulher do suspeito, uma dona de casa. Aos policiais, ela disse que não tinha fonte de renda. No local, ainda foram encontrados R$ 30 mil atrás da geladeira.

Em outros endereços, a polícia encontrou R$ 86 mil, cheques e notas promissórias, além de lacres de medidor da CEB, 113 medidores de energia e uniformes da companhia. Nesse caso, os suspeitos não têm vínculo empregatício com a empresa. Segundo as investigações, a organização criminosa atuava com seis núcleos, entre funcionários e pessoas de fora da companhia. Os ganhos vinham de prestação do serviço solicitado pelo consumidor a um valor mais baixo e como se fosse particular, apesar de formalmente executado pela CEB. Eram realizados, ainda, adulteração nos medidores de energia elétrica e fornecimento de energia em obras embargadas, mediante propina.

Além disso, o grupo transferia a titularidade do ponto de energia sem o pagamento de dívida acumulada. Assim, o contrato era repassado para o nome de terceiros e seguia no mesmo endereço, sem que o débito precisasse ser pago e sem interrupção do serviço. Segundo a investigação, esse crime foi cometido para grandes empresas do DF, o que explica parte da inadimplência histórica de mais de R$ 600 milhões dos devedores da CEB. A polícia apura se os donos desses negócios sabiam da fraude. Apenas nessa ação, calcula-se prejuízo de R$ 20 milhões em quatro meses. ;Algumas empresas devem entre R$ 59 mil e R$ 250 mil para a CEB. O grupo cobrava 10% disso para aplicar o golpe. As pessoas continuavam recebendo o serviço pelo novo contrato, e a empresa ficava com a dívida. A conta ficava em nome de um laranja;, disse Leonardo de Castro, titular da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor).

Para o delegado Jean Mendes, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), os acusados aproveitavam a burocracia para praticar os crimes.

Cooperação
A Operação Apate é desdobramento da Operação Horus, deflagrada em maio e setembro deste ano, quando a polícia descobriu o esquema por meio do celular de um grileiro preso. ;A primeira fase foi com o cumprimento de prisões de policiais militares. A segunda, com a prisão dos grileiros. Extraímos conversas de um celular apreendido e uma das pessoas envolvidas na grilagem estava no esquema da CEB. Recebemos vários elementos que corroboram para a investigação;, revelou o promotor de Justiça Marcel Marques.

As investigações da Apate começaram há seis meses. Em depoimento, um dos funcionários da CEB informou que o esquema ocorria havia 10 anos. ;Ele contou que, quando entrou na CEB, o grupo existia, e ele entrou. Ou seja, o prejuízo chega a ser incalculável se eles agem a todo esse tempo;, disse o delegado Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor), Adriano Valente. Os acusados responderão por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica e estelionato contra a administração pública.

Em nota, a CEB informou que a investigação está em consonância com o trabalho da gestão em atividade neste ano. A empresa acrescentou que ;vem trabalhando com rigor para reduzir a inadimplência e o combate às perdas, seja por furto, seja por fraude;. Sobre o prejuízo, a companhia declarou que ;o montante supostamente desviado pelos criminosos ainda não foi apurado, até pelo fato de que os crimes de furto de energia e fraude no medidor não permitem a devida contabilização da energia efetivamente consumida pelas unidades envolvidas;. Segundo a companhia, os valores finais relacionados à transferência de títulos sem a quitação de débitos serão apurados na investigação.

Entre os presos está um ex-funcionário da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), suspeito de atuar de modo semelhante na instituição. O caso ainda é investigado. Também por nota, a companhia informou que até o momento não foi notificada sobre a operação e que não houve diligências nas dependências da empresa e afirmou estar à disposição para colaborar com as investigações.



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