postado em 05/11/2019 04:07
[FOTO1]O número de motociclistas mortos em acidentes no Distrito Federal, de janeiro a setembro, subiu 40% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar de o total de mortes no trânsito e de acidentes com vítimas terem caído em comparação aos primeiros nove meses de 2018, os números preocupam. Apenas neste ano, em média, a cada 31 horas, uma pessoa morreu nas vias urbanas e rodovias do DF.
Dados do Departamento de Trânsito (Detran), obtidos com exclusividade pelo Correio, mostram que, de janeiro a setembro, 206 perderam a vida em 195 acidentes com morte; 63 deles eram motociclistas (veja Perigo no asfalto). Uma dessas vítimas é Joabe Fernandes da Silva, 36 anos, que não resistiu ao cair da Honda Bross que pilotava, enquanto passava pela Ponte JK em 16 de janeiro.
O Distrito Federal tem até dezembro de 2020 para vencer o desafio de diminuir as mortes no trânsito. A meta faz parte de um acordo firmado com a Organização das Nações Unidas (ONU) para reduzir pela metade o índice registrado no início da década, em 2011. Naquele ano, 465 pessoas morreram nas estradas do DF. Até o fim de 2020, esse número precisa cair para 232.
Motociclista e um dos fundadores do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Brasília (Sindmoto), Reivaldo Alves, 48, lamenta a perda de amigos por causa de acidentes com motos e considera que a fiscalização tem deixado a desejar. Para ele, o processo de obtenção de habilitação para pilotar não tem sido exigente. ;Muitos acidentes acontecem porque as pessoas não estão preparadas para andar de moto. É preciso respeitar os limites de velocidade, as leis. É preciso ter curso, e o treinamento tem sido muito fácil e simples;, critica.
Reivaldo acredita que o boom do serviço de delivery por aplicativo contribuiu para a alta de acidentes nas vias da capital. ;Eles (entregadores) não têm seguro de vida, carteira fichada e não são amparados em nada. Simplesmente, fazem o delivery e, quanto mais fazem, mais ganham;, analisa. Ele também cobra que motociclistas, de um modo geral, tenham mais cuidado. ;Somos uma parte muito frágil do trânsito. E muitos não estão preocupados com a vida. É importante lembrar que a velocidade que emociona é a mesma que mata;, alerta.
Prevenção
Para o assessor e porta-voz do Detran, Glauber Peixoto, o índice de acidentes com motociclistas se deve a fatores variados. Além do aumento do número de trabalhadores de serviços de entrega por aplicativo, o uso do celular por motoristas preocupa. ;Por terem de cumprir metas, muitos (motoboys) acabam adotando atitudes imprudentes. Mas o Detran tem conversado com essa categoria para que se regularizem, se profissionalizem e se capacitem;, comenta. ;Os condutores (de carro de passeio) também precisam respeitar a presença das motos. Todos têm direitos e deveres, e o respeito deve ser mútuo;, acrescenta.
Os dados também chamam atenção para o mês de setembro, quando houve crescimento significativo das mortes no trânsito. A quantidade de vítimas aumentou 78,6%. Apenas no nono mês de 2019, 25 pessoas morreram em 21 acidentes ; em 2018, foram 14. Em todo o ano passado, 278 pessoas não resistiram.
Glauber afirma que a autarquia intensificará as ações de prevenção, com foco em três eixos: educação, engenharia de tráfego e fiscalização. ;(Até o fim de 2020), temos de manter a linha de queda. Esperamos chegar ao ano que vem com números inferiores aos deste ano. É algo em que precisamos trabalhar, não só o Detran, mas todos os órgãos de trânsito do DF. E todos estão preocupados em alcançar essa meta (firmada com a ONU);, assegura Glauber.
Imprudência
A moradora da Granja do Torto Elisangela Oliveira da Silva, 31, é motociclista há nove anos. Ela confessa que não se sente segura ao trafegar pelas vias do DF; por isso, toma atitudes de segurança por si e pelos demais. ;É muito perigoso tanto para quem está na moto quanto para quem está no carro. É um cenário triste. As pessoas poderiam ter um pouco mais de atenção;, avalia. Preocupada com as chuvas, ela troca os pneus e transita em velocidade inferior à máxima permitida. ;Procuro sempre pilotar bem atenta, mantendo-me na faixa e velocidade corretas, respeitando a sinalização de trânsito, porque existe muita imprudência;, lamenta.
Professor do curso de engenharia da Universidade Católica de Brasília (UCB) e pesquisador na área de transportes, Edson Benício de Carvalho chama a atenção para práticas indevidas, como usar celular ao volante e conduzir em alta velocidade. Ao mesmo tempo, ele cobra fiscalização ostensiva por parte dos órgãos responsáveis. ;Mesmo que o número de mortes esteja caindo, estamos longe de patamares aceitáveis. O brasileiro, de forma geral, dirige a uma velocidade alta. E essa é uma variável preponderante;, ressalta.
Edson Benício reforça que a fiscalização fixa, por meio de instrumentos como barreiras e radares, não é suficiente. ;Em outros países, você enxerga agentes próximos às vias, principalmente em horários de pico. Com a melhora da questão da mobilidade, da fluidez e com a presença de agentes nas vias, você diminui os índices dos acidentes e faz com que os motoristas sejam mais prudentes;, analisa.
Pedestres atropelados
No domingo, dois pedestres morreram, na altura do Incra 8, em Brazlândia, quando um motorista tentava ultrapassar quatro carros na DF-180. Fabiana Ferreira Aquiles Izidoro, 44 anos, e João Damião da Luz, 28, caminhavam pelo acostamento da rodovia, na descida da Ponte do Rio Descoberto, quando foram atropelados. O motorista envolvido no acidente dirigia um Passat Variant vermelho. Sob ameaça de linchamento, fugiu do local do atropelamento. Três horas depois, ele se entregou na 24; Delegacia de Polícia (Setor O), onde fez o teste do bafômetro, que denunciou a ingestão de álcool. O caso ficará sob investigação na 18; DP (Brazlândia).