Entre os condutores flagrados, 794 foram presos por alcoolemia. Também conforme o Detran, só no primeiro semestre deste ano, 45 das 147 mortes no trânsito foram de motoristas que dirigiam sob o efeito de álcool. Por lei, é proibido pegar o volante após a ingestão de bebida alcoólica. A pena para quem desrespeita a lei seca é multa de R$ 2,9 mil, perda de sete pontos na carteira de habilitação e suspensão do direito de dirigir por 12 meses.
No fim de semana, a mistura de álcool e direção provocou mais tragédias. No sábado e no domingo, 35 condutores foram autuados e três acidentes, que resultaram em uma morte, uma prisão e duas casas danificadas, foram registrados.
No sábado, um carro em que estava um casal colidiu em duas casas na Rua 4 de Vicente Pires. Com a batida, o veículo ficou suspenso no telhado de uma das residências. Apesar do acidente e dos danos materiais, ninguém ficou ferido. Segundo a polícia, a mulher dirigia o carro e foi detida em flagrante, mas o proprietário do veículo é o marido, que também estava no automóvel.
No teste de bafômetro, a condutora apresentou 0,67 miligramas de álcool por litro de ar expelido, já o passageiro apresentou 0,81 miligramas de álcool por litro de ar. Pela lei, a partir de 0,05 miligramas, configura-se a infração gravíssima de trânsito com possibilidade de multa. Se a quantidade detectada for acima de 0,33 miligramas, o infrator é enquadrado em crime de trânsito, nos termos do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
As residências atingidas pela condutora embriagada são dos irmãos e vizinhos Lucas Marcellino da Silva, 68 anos, e Messias Marcellino da Silva Neto, 66 anos. No momento do ocorrido, a casa em que Lucas mora com a esposa, Maria Matilde, 60, estava vazia. Já a de Messias não tem moradores atualmente.
;Meu filho olhou pela câmera e nos avisou. Fiquei abalado, porque a gente sai de casa e deixa tudo arrumadinho, aí quando chega vê essa bagunça;, contou Lucas. Nesta segunda-feira (11/11), o motorista aposentado começou a limpar o local com a ajuda de familiares e amigos. ;Estamos só limpando, tirando os entulhos, mas vou deixar assim até ver no que vai dar. Quebrou muitas telhas e até uma calha que acabei de colocar, não tem nem uma semana;, disse.
Os irmãos ainda não falaram com o proprietário do carro sobre os custos do conserto. ;Ele (o proprietário do veículo) veio aqui e pegou umas coisas dentro do carro e foi embora. Ele está meio assustado, mas vamos conversar com eles na quinta-feira;, relatou.
O estrago total não foi estimado. ;Estamos levantando ainda para saber quanto foi o prejuízo, não batemos o martelo. Vamos fechar com umas grades por enquanto por conta da segurança;, explicou Messias.
O caso foi registrado na 12; Delegacia de Polícia (Taguatinga), mas é de responsabilidade da 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires). A condutora do carro pagou fiança de R$ 5 mil e foi liberada. Já o passageiro assinou termo de um termo de comparecimento à Justiça e foi liberado.
L4 Sul
Na madrugada de domingo, um empresário bateu a sua BMW em um poste de energia elétrica na L4 Sul, próximo à Procuradoria-Geral da República (PGR). Os bombeiros militares que atenderam a ocorrência constataram sinais de embriaguez no motorista.Segundo informações da Polícia Civil, o veículo ficou destruído após o acidente, e o motorista estava perambulando no local quando os bombeiros chegaram. Segundo consta no boletim de ocorrência, o rapaz apresentava hálito etílico, andar cambaleante, olhos vermelhos e fala monossilábica. Ele teria se recusado a fazer o teste do bafômetro.
A polícia ainda informou que um grupo, que se identificou como sendo de amigos do motorista, tentou retirar as placas do veículo ; que estavam no porta-malas, pois o automóvel ainda não havia sido emplacado ; e uma garrafa de vodka que estava ao lado do carro. Isso teria ocorrido enquanto os bombeiros solicitavam o corte de energia do poste que foi atingido no acidente. Duas pessoas foram presas por fraude processual.
O condutor foi preso e levado para a 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, onde foi autuado por embriaguez ao volante e lesão corporal culposa de trânsito. Na audiência de custódia, ele foi solto após pagar fiança de R$ 20 mil.
Atropelamento
A embriaguez ao volante foi motivo de outro acidente, que resultou em morte. Na manhã de domingo, um homem de 63 anos foi atropelado por um condutor alcoolizado, na QNN 21/23 de Ceilândia. O motorista, que fugiu do local, não possuía habilitação ou registro do veículo.
O condutor foi localizado nas margens da via Estrutural e conduzido à 24; Delegacia de Polícia (Setor O). O teste do bafômetro indicou 0,59 mg de álcool por litro de ar expelido. O homem encontra-se preso e, se condenado, pode pagar pena de até oito anos de prisão pela morte do idoso.
Políticas públicas
Para a advogada criminalista, Ana Maria Martínez, é preciso um esforço conjunto para coibir os crescentes casos de motoristas alcoolizados. ;Não adianta criar uma lei e pensar que com isso irá acabar com a cultura de beber e dirigir. É preciso ações de prevenção com políticas públicas educativas;, ressalta.
O Detran realiza, durante o ano todo, campanhas de conscientização e sensibilização sobre a importância de não dirigir após a ingestão de bebidas alcoólicas. Neste ano, foram contabilizados 140 eventos educativos, sendo 55 palestras em empresas e 60 blitzes informativas em diversas regiões administrativas.
Além das ações educativas, a advogada ainda destaca que a questão do transporte público também contribui, mesmo que indiretamente, para o alto índice de casos de alcoolemia ao volante. Para ela, a falta de opções de horários à noite e durante a madrugada é uma problemática que precisa ser resolvida.
;Não podemos partir do princípio de que todos têm condições de pagar uma condução por aplicativo para voltar para casa. É preciso investir em ônibus e metrô que atendam os brasilienses também na hora do lazer;, afirma Ana Maria Martínez, que acredita em três eixos para combater a alcoolemia ao volante: campanha educativa, fiscalização e transporte público de qualidade.