Sarah Peres, Darcianne Diogo*
postado em 14/11/2019 06:00
[FOTO1]Agentes da 32; Delegacia de Polícia (Samambaia Sul) procuram imagens de câmeras de segurança para elucidar os detalhes do assassinato do vigilante Marcos Aurélio Rodrigues de Almeida, 32 anos. O caso ocorreu no último sábado, quando a vítima saía do trabalho, em um restaurante do Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Ele encontraria uma ex-namorada, na QR 325 de Samambaia Sul. Na noite de terça-feira, policiais prenderam a mulher e um comparsa, suspeitos do homicídio. De acordo com os investigadores, a dupla matou e esquartejou a vítima. Eles estão detidos por força de mandado de prisão temporária. Na manhã desta quarta-feira (13/11), eles foram encaminhados para o Departamento de Controle e Custódia de Presos, no Complexo da Polícia Civil, no Parque da Cidade.
Segundo a investigação, Marcos Aurélio namorou a acusada por quase dois meses, quando terminou um noivado, em setembro, como disse a mãe do vigilante, Sônia Maria Rodrigues de Almeida, 56. ;O meu filho ajudava-a financeiramente, com compras para a casa dela. Contudo, ele continuava amando a noiva e, quando ela (a noiva) o procurou, reataram o relacionamento;, explicou a aposentada.
Em 29 de outubro, o vigilante entrou em contato com a suspeita pelo WhatsApp e terminou o relacionamento. ;Ela (a noiva) veio aqui (na casa dele). Eu fui fraco e dei esperanças para ela. Eu te peço perdão por isso. Mas, na hora, meu sentimento falou mais alto. Se você quiser, em alguma oportunidade, poderemos conversar pessoalmente sobre isso;, escreveu Marcos à suposta mandante do crime. ;Parabéns para você. Sabia que estava brincando comigo e escondendo algo;, respondeu ela.
Nos textos trocados, Marcos Aurélio teria rompido o namoro. O Correio apurou que, como a suspeita não aceitava o término, o vigilante a bloqueou no WhatsApp e no Facebook. Entretanto, isso não foi suficiente. A mulher conseguiu o número de telefone da mãe da vítima e passou a importuná-la. ;Ela estava inconformada e dizia, com todas as letras, que não aceitaria o fim. Que o meu filho não poderia ter terminado o namoro pelo telefone e cortado qualquer relação. Disse que gostava dele e que o faria feliz. Mas expliquei que ele amava a noiva e que essa situação não poderia continuar. Em seguida, pedi para que ela seguisse a vida;, afirmou Sônia Maria.
Buscas
Na manhã de sábado, Marcos Aurélio saiu do trabalho, no SIG, para a Rodoviária do Plano Piloto. No local, o vigilante pretendia pegar um ônibus para o Recanto das Emas. O objetivo inicial era buscar o filho, de 9 anos, fruto de outro relacionamento do vigia. Contudo, teria seguido até a residência da ex-namorada, em Samambaia Sul. Eles estavam separados havia 11 dias. Depois desse encontro, o vigilante não foi mais visto com vida.
Até o momento, os investigadores da 32; DP sabem que quem matou a vítima esquartejou o corpo. As pernas e os braços dele foram encontrados na QR 327 de Samambaia Sul, na segunda-feira. Um dia depois, agentes acharam o tronco de Marcos Aurélio, na QR 325. Na madrugada desta quarta-feira (13/11), policiais encontraram uma das coxas. À tarde, contaram com ajuda de uma equipe de busca e resgate com cães do Corpo de Bombeiros para tentar localizar o restante do cadáver no Aterro Sanitário de Brasília, na DF-180.
Frieza
De acordo com a mãe da vítima, a suspeita entrou em contato com ela por telefone após o assassinato. ;Ela pediu para falar com o meu filho. Eu disse que ele estava desaparecido e, que se ela estivesse com o Marcos Aurélio, precisava nos informar. Mas ela negou tudo;, relatou. ;Ainda no sábado, ela me contatou pedindo para vir à minha casa para me dar um abraço. Neguei. Em seguida, essa mulher ainda falou que precisaríamos ir à igreja rezar pelo bem do meu filho. Como cabe tanta crueldade em um ser humano? Ela me ouviu chorar de desespero. Mentiu na minha cara. Quero que ela pague;, afirmou.
Segundo a mãe, Marcos Aurélio trabalhava para criar o filho. ;Ele tinha o sonho de passar na prova de concurso para agente penitenciário de Goiás, que seria em 24 de novembro;, contou. A vítima mantinha rotina intensa. Em dias alternados, ele trabalhava no restaurante do SIG, durante a madrugada. Além disso, atuava como segurança em uma loja em shopping de Taguatinga Sul.
No tempo que tinha livre, Marcos Aurélio se preparava para defender o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no curso de publicidade. ;A gente quer justiça. A dor não vai passar, mas eu quero que algo seja feito. Estou revoltada, porque o meu filho era tudo para mim. Meu mundo acabou. Não tenho mais ânimo para nada. No fundo, tínhamos a esperança de ele estar vivo;, lamentou a mãe.
Desproporção emocional
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal não faz levantamentos sobre assassinatos cometidos por mulheres contra os companheiros. Segundo a pasta, entre janeiro e outubro deste ano, 327 pessoas foram vítimas de homicídio na capital.
De acordo com Leonardo Sant;Anna e Ivon Iizuka, da Total Florida International ; Consultoria em Segurança, diante dos indícios que se têm até o momento, o episódio pode ser avaliado por duas abordagens. ;Pelo lado legal, o homicídio é a classificação do Código Penal que mais se adéqua ao crime praticado. Mas deve-se juntar todos os itens que tornam o crime mais grave e hediondo, tais como a crueldade praticada, o esquartejamento, a ocultação das partes do corpo e uma possível preparação de emboscada. No aspecto psicológico, há a reação completamente desproporcional ao compararmos o término do relacionamento e, em tese, o que se colocou em prática como vingança;, explicou Sant;Anna.
Iizuka avalia que reações extremas como o esquartejamento não são aceitáveis nem fáceis. ;Geralmente, em um término de namoro, a pessoa esperneia, chora ou briga. São atitudes normais do ser humano. Mas quando se trata desse tipo de brutalidade, que exige força e energia, há uma desproporção emocional muito grande para concretizar a origem dessa raiva;, analisou.
O psicólogo e pesquisador da área de violência doméstica da Universidade de Brasília (UnB) Fabrício Guimarães explica que esse é um caso que foge do comum. ;É normal encontrar mulheres que, ao terminar um relacionamento, saem, vão se distrair e até choram. No caso dos homens, há uma cultura machista, na qual eles acham que a companheira é propriedade dele e as mata. Mas, nesse caso específico, podemos ver como intolerância à frustração;, ressaltou.