Cidades

Caso Letícia: acusação sustenta que Marinésio sabia o que fazia

Para a acusação, depoimentos de quatro testemunhas em audiência de instrução comprovam que acusado de matar advogada em Planaltina não agiu por impulso. Para a defesa, ele sofreu um surto psicótico

Sarah Peres
postado em 20/11/2019 06:00

[FOTO1]A primeira das duas audiências de instrução do feminicídio da advogada Letícia dos Santos Curado de Melo, 26 anos, ocorreu nesta terça-feira (19/11) no Fórum de Planaltina. O réu, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, acompanhou os depoimentos de quatro testemunhas de acusação. Serão ouvidas mais sete pessoas e, só então, ele prestará esclarecimentos sobre o caso. Marinésio é acusado de matar a vítima na manhã de 23 de agosto, quando, passando-se por motorista pirata, a convenceu a entrar no carro dele.


O cozinheiro, preso preventivamente no Complexo Penitenciário da Papuda, chegou ao Fórum de Planaltina por volta das 15h, horário marcado pelo juiz Taciano Vogado Rodrigues Júnior. A denúncia contra o réu é de homicídio quintuplamente qualificado, por feminicídio, motivo torpe, meio cruel, asseguração da impunidade e dissimulação, além de tentativa de estupro, ocultação de cadáver e furto. Após as audiências de instrução, o magistrado decidirá se pronunciará o cozinheiro por todos os crimes ao Tribunal do Júri de Planaltina.

Para o promotor Otávio Binato Júnior, Marinésio responderá por todos os delitos imputados a ele. ;Estamos convictos quanto à narrativa apresentada, pois os depoimentos das testemunhas (de acusação) indicam que a nossa tese está bem fundamentada. Todos os convocados têm relação direta com o caso ou com todo o contexto de violência;, destacou.

Nesta terça-feira (19/11), prestaram depoimento a mulher de Marinésio, uma garota de programa que se relacionou com o cozinheiro, uma suposta vítima dele e o marido de Letícia, o educador Kaio Curado. De acordo com o advogado Igor Costa Alves, assistente de acusação contratado pela família, as testemunhas confirmam que o cozinheiro não agiu por impulso. ;As narrativas foram espontâneas e condizentes com a realidade. Os depoimentos da companheira de Marinésio e da garota com quem ele se relacionou indicam, sem sombra de dúvidas, que o réu era uma pessoa com sanidade mental. Ele sabia o que fazia durante o crime. As falas demonstram que ele era uma pessoa tranquila no dia a dia. Isso poderá ser explorado pela acusação, caso a defesa tente colocá-lo como uma pessoa imputável;, esclareceu Igor.

Defesa

O advogado de defesa do réu, Marcos Venicio Fernandes Aredes, trabalha com a hipótese de que Marinésio teria sofrido um surto psicótico durante o ataque a Letícia. ;Ele era marido e pai de família exemplar, longe de qualquer suspeita. Marinésio, infelizmente, errou. Ele não é esse monstro que tentam pintar;, destacou. ;Ele pagará pelos crimes, mas na proporção certa. Tentarei derrubar duas qualificadoras do homicídio, que são a de feminicídio e o motivo torpe. Marinésio não matou Letícia por causa do gênero ou pela tentativa de estupro, mas porque surtou. A acusação sequer tem provas da suposta tentativa de abuso sexual. Isso não ficou comprovado nos laudos do corpo da vítima. Além disso, tentarei desqualificar o furto, pois ele jamais tirou proveito dos pertences de Letícia;, adiantou.

Na próxima audiência de instrução, serão ouvidas duas testemunhas de acusação que foram intimadas e não compareceram à sessão desta terça-feira (19/11). Em seguida, cinco pessoas serão chamadas pela defesa: a filha e o irmão de Marinésio; o delegado responsável pelo caso, Fabrício Augusto Paiva, chefe da 31; Delegacia de Polícia (Planaltina); um papiloscopista e uma perita criminal do Instituto de Medicina Legal (IML). Depois, o cozinheiro escolhe se prestará esclarecimentos quanto ao crime ou se permanecerá em silêncio. Por último, o juiz Taciano Vogado decidirá se Marinésio será submetido a um júri popular.

Crimes em série

Além do assassinato de Letícia, ele é suspeito de matar outras duas mulheres. O cozinheiro também foi denunciado pelo Ministério Público do DF e Territórios por uma tentativa de estupro em Sobradinho, dois abusos sexuais em Planaltina e um estupro de vulnerável no Paranoá.

Memória

Morte rumo ao trabalho

Letícia estava em uma parada de ônibus por volta das 7h30 de 23 de agosto, no bairro Arapoanga, em Planaltina, onde sofreu a abordagem de Marinésio dos Santos Olinto. Ela havia saído de casa, na qual vivia com o marido, Kaio Curado, e o filho, de 3 anos, e seguiria para o trabalho, no Ministério da Educação, na Esplanada dos Ministérios. Marinésio passou em uma Blazer prata pelo ponto e ofereceu uma carona para a vítima, passando-se por motorista de transporte pirata. Letícia entrou no veículo e, durante a viagem, o cozinheiro tentou manter uma relação sexual com ela. Como a mulher se negou, ele a matou e abandonou o corpo em uma área de mata, entre Planaltina e Paranoá. Marinésio está preso desde 24 de agosto.

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