Cidades

Morre, aos 94 anos, Antonio Soares, que convenceu JK a construir Brasília

Durante um comício em Jataí (GO), em 1955, Toniquinho, como era conhecido, cobrou de Juscelino Kubitschek a mudança da capital para o Planalto Central

Deborah Fortuna
postado em 21/11/2019 17:58
[FOTO1] Aos 29 anos, um vendedor de seguros do interior de Goiás fez uma pergunta que mudou a história do país. Em 1955, durante um 4 de abril chuvoso, Antônio Soares Neto indagou ao então candidato à presidência Juscelino Kubitschek se, uma vez eleito, cumpriria a Constituição e mudaria a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central.

Graças ao gesto, JK começou a planejar e, mais tarde, construiu a nova capital. E, a partir de então, Toniquinho, como era conhecido o vendedor de seguros, ganhou o apelido de Pai de Brasília. Agora, a capital se torna órfã. Antônio Neto morreu na manhã desta quinta-feira (21/11), após uma parada cardiorrespiratória, aos 94 anos, completados em outubro passado. Ele deixa cinco filhos, 11 netos e dois bisnetos.

O famoso comício parecia, a princípio, fadado ao fracasso. Uma chuva forte dispersou a multidão que se reunia na praça pública de Jataí, transferindo o evento para uma concessionária de veículos. Um caminhão serviu de palanque improvisado, e o discurso preparado por Juscelino virou uma conversa com o pequeno público presente.
"E nisso, o seu Toniquinho, que estava estudando a Constituição porque queria fazer concurso, sentiu um calor no corpo e levantou o braço. JK disse ;pois não, senhor?;. E ele fez a pergunta", conta o jornalista e documentarista Edson Luiz de Almeida, diretor do filme A pergunta que mudou a história do Brasil. "Eu ouvi essa história dele dezenas de vezes. Sempre contada do mesmo jeito. E ouvi isso de outras testemunhas também", completa.

Com a palavra, JK

Se há quem duvide se a provocação de Toniquinho realmente mudou o curso da história, é bom ouvir o que disse o próprio JK. "Confesso que, até aquela altura, eu não havia pensado nesse assunto, mas quando Toniquinho me colocou o problema, pensei subitamente. Dei um ou dois segundos de espera e disse: ;Se a Constituição exige a construção da nova capital, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil no Planalto Central;", disse JK em documentário produzido pela Secretaria do Território e Habitação do DF.
Àquela altura, o projeto de metas do candidato continha 30 itens e estava pronto. Nenhum deles fazia referência à construção de uma nova capital. Brasília não se tornou a 31; meta de governo, mas sim o cerne de toda a campanha de JK ao Planalto. "Os depoimentos de JK são claríssimos. Ele diz que não havia pensado no assunto até aquela pergunta. A importância do Toniquinho é fundamental para a história do Brasil", defendeu Almeida.
A promessa se cumpriu cinco anos depois, em 21 de abril de 1960, quando os fogos de artifício encheram o céu para inaugurar a nova capital federal.

"Gentil e ousado"

Mas, Toniquinho não foi apenas o homem que mudou os rumos da capital. Segundo conta Almeida, era uma das figuras ;mais carismáticas; que já conheceu. ;Era uma boa pessoa, gentil, generosa, ousada;, disse.

Ao longo dos anos, o vendedor de seguros estudou a Constituição Federal e se tornou advogado. Mudou-se para Brasília, e depois voltou a morar, com a esposa, em Goiás.
Para a esposa, Nelita Vilela, 82 anos, ainda muito abalada com a notícia, foi também um marido carinhoso, amigo, e companheiro. ;Ele era uma pessoa humana e gostava de ajudar as pessoas menos favorecidas. Era muito humilde, inteligente. Foi um bom pai, avô, bisavô;, disse. Os dois completariam 64 anos de casados em dezembro.
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