postado em 23/11/2019 04:36
A cara leitora e o caro leitor talvez se lembrem de dois pedidos de desculpas que fiz, aqui mesmo, algumas semanas atrás. Foram motivados pela criação de um grupo de WhatsApp que conseguiu reunir praticamente toda a minha turma de ensino médio. Reencontrar aqueles amigos trouxe de volta muitas lembranças maravilhosas, mas resgatou também momentos em que agi mal com alguns deles.
Aproveitei, então, este espaço para contar os episódios e pedir desculpas às duas colegas ofendidas, caso elas ainda se ressentissem com o que eu havia feito. O texto acabou compartilhado no grupo e, então, recebi um belíssimo presente de Karine, uma das amigas alvo da minha ignorância no passado. Ela escreveu que não se lembrava dos eventos, mas tinha certeza de que eu havia sido perdoado. Afinal, naquela turma, ;só tinha sangue bom;, disse.
Ler aquelas palavras teve um efeito curativo imediato, mil vezes mais rápido que alopatia na veia. Com seu esquecimento, Karine me perdoou por ter sido estúpido com ela, logo no dia em que organizara uma festa de aniversário para mim. E mais: quando a relembrei do que eu tinha feito, mostrou continuar sendo a menina doce e gentil que marcou minha adolescência.;Não me lembro de jeito nenhum! Realmente, isso não me marcou! Aliás, zero!”, escreveu, em uma mensagem privada. E fez do perdão um presente ainda maior: ;Sabe o que eu lembro de você? Um cara inteligentíssimo! Com um grande coração. Sorriso largo. Eu me achava especial conversando com você;, acrescentou.
Confesso que essas palavras fizeram brotar algumas lágrimas. E dispararam um processo de dias refletindo sobre pedidos de perdão. Desculpar-se com alguém, concluí, parece ser um gesto de dupla fé. Primeiro, na generosidade do outro, que minha amiga mostrou ter de sobra, para minha sorte.
Depois, em nós mesmos. Pedir perdão, me parece, é também acreditar que somos mais do que aquele momento em que pisamos na bola. Talvez, tenhamos também sido muito bacanas em outras horas, a ponto de o outro, ao colocar tudo na balança, nos dizer: ;Eu te perdoo. Gosto de você;.
Acredito, claro, que o outro tem o direito de não nos perdoar. Nunca sabemos o tamanho da ferida que um gesto nosso provocou. Nesse caso, nos resta conviver com a consequência do que fizemos e cuidar para não agir daquela forma com mais ninguém. Mas dessa experiência saio com um pouco mais de coragem de pedir perdão por outros erros que sei que cometi, magoando pessoas importantes na minha vida. Que eu seja bravo o suficiente. Obrigado, Karine.