Cidades

Insegurança na rede pública de saúde

postado em 30/11/2019 04:16
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Durante um dos momentos em que mais precisou de assistência à saúde, Larissa Almeida, 21 anos, se sentiu desamparada e passou por um trauma dentro da maternidade. A mãe de primeira viagem teve um trabalho de parto de 36 horas e acabou sendo vítima de uma falha do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). A unidade permitiu a entrada de Dayane da Fonseca Santos, 23, responsável pelo sequestro de Miguel Pietro, filho de Larissa. O caso terminou bem, após a polícia localizar o recém-nascido e ele ser devolvido à mãe (leia Memória), mas deixou um rastro de insegurança.

Além disso, casos semelhantes e violentos ocorrem com frequência na rede pública. Em 2017, o recém-nascido Jhony Júnior foi levado de dentro do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Há também casos de furtos, roubos e até tiroteio, como aconteceu em 5 de novembro, quando bandidos armados tentaram roubar o revólver de um vigilante na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1, na Estrutural. Diante disso, moradores pedem soluções.

Brenda Alves, 18, completou nesta semana nove meses de gestação. Além das dores, ela convive com a preocupação. ;Quando vi mais um caso de roubo de bebê dentro da maternidade, fiquei insegura. Vou ficar sempre perto do meu filho, acompanhando, porque a gente entra no hospital querendo ter segurança, mas ficamos com o pé atrás para tudo;, desabafa. Para a estudante, há falta de confiança da população com o atendimento ao público. ;Acho que quem escolhe trabalhar com saúde tem de ter ainda mais paciência e cuidado. Nós chegamos doentes e ainda somos maltratados, com grosserias e pessoas que não se colocam no nosso lugar;, denuncia a jovem.

Também há quem considere que o trabalho na saúde pública é bem-feito pelos profissionais, mas a falta de recursos dificulta. ;Engana-se quem diz que o Sistema Único de Saúde (SUS) é ruim. Nós temos um ótimo sistema gratuito, com médicos qualificados e bom atendimento. Mas os recursos são escassos, então eles não conseguem dar as condições ideais aos pacientes;, acredita o aposentado Mauri Zambeli, 48.

Monitoramento

Na opinião dos especialistas, é preciso levar em conta uma série de fatores para analisar os problemas e buscar soluções. Carla Pintas Marques, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), avalia que não há uma falha única que possa ser apontada como motivadora do sequestro de Miguel Pietro ou de outros crimes. ;Não devemos falar que esses casos aconteceram pelo motivo tal. Toda a gestão do hospital precisa ser alvo de reflexão e se apoderar de inovações. As câmeras de segurança, por exemplo, são fundamentais em locais assim, com circulação enorme de pessoas. A unidade também precisa de um bom sistema de identificação de pacientes, com pulseiras, e não aquele adesivo que cai, além de controle dos caminhos percorridos pelos visitantes, que só podem passar por áreas restritas após verificação de identificação;, ressalta.

A Secretaria de Saúde confirmou que os hospitais públicos do DF não contam com câmeras de segurança, mas disse que está em andamento um projeto para a implementação de uma central de monitoramento de toda a rede de saúde. ;O aprimoramento da segurança é uma preocupação permanente. Diretores de hospitais e superintendentes regionais promovem reavaliações do fluxo de entrada e saída de pacientes, além da preocupação com a identificação de servidores, pacientes e visitantes;, informou o órgão, em nota oficial. O número de vigilantes que trabalham nas unidades não é divulgado por questão estratégica, mas a pasta esclareceu que todos os 15 hospitais têm plantões de policiais militar e civis.

Memória

Rotina das mães e jaleco

Larissa recuperou o bebê dela após equipes do Samu e médicos do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) suspeitarem de Dayane da Fonseca. Ela deu entrada na unidade de saúde informando que pariu em casa, mas os especialistas acharam incomum o estado do recém-nascido, que estava limpo e aparentava ter sido vacinado. Larissa, que registrava ocorrência, foi levada ao HRC e reconheceu o filho e a acusada.

A sequestradora usava um jaleco quando convenceu a mãe, na madrugada de quinta-feira, de que o recém-nascido precisava de exame de glicemia.

Dayane passou por audiência de custódia ontem e responderá ao processo em liberdade. A juíza considerou que o encarceramento cautelar só deveria ser mantido ;em caso de extrema e comprovada necessidade, devidamente demonstrada por circunstâncias concretas da realidade;. Por fim, houve a determinação para que Dayane seja levada à Unidade da Coordenadoria Psicossocial Judiciária para avaliações, pois ela informou ter depressão. Dayane responderá por subtração de incapaz. A pena para esse tipo de crime é de 2 a 6 anos de reclusão.


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