Cidades

Sete indiciados por Rachadinha

Prática, que consiste na devolução de salário de comissionados aos contratantes, é alvo de 2ª fase de investigação

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/12/2019 04:18
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Outros gabinetes da Câmara Legislativa estão na mira da Polícia Civil após a investigação de esquemas de rachadinha ; prática em que funcionários de gabinetes devolvem parte do salário ao contratante ; na Casa. Ontem, agentes da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor) e da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Draco) cumpriram quatro mandados de busca e apreensão no Plano Piloto e no Gama, em casas de familiares e de conhecidos de Deivid Lopes Ferreira, 38 anos, suspeito de liderar uma associação criminosa com esse objetivo.

As ações fizeram parte da segunda fase da Operação Escalada, deflagrada em 20 de setembro pela Cecor e pela Draco. À época, a polícia cumpriu dois mandados de busca e apreensão, além de um de prisão temporária contra Deivid, que ficou detido durante cinco dias. Chefe de gabinete da deputada distrital suplente Telma Rufino (Pros) entre fevereiro e novembro, ele seria o chefe do esquema de divisão e devolução de salários.

A suspeita é de que o ex-funcionário da Câmara Legislativa praticou crimes como tráfico de influência e falsidade ideológica. Para os investigadores, Deivid se valia do cargo que ocupava para usufruir de benefícios. A polícia ainda apura se o suspeito cometeu outros crimes e se funcionários do deputado Hermeto (MDB) também estariam envolvidos. Apesar disso, não há indícios de participação dos dois parlamentares na prática.

Deivid ficou preso temporariamente, em setembro, e, no mês passado, foi exonerado do cargo com a saída de Telma Rufino da Casa. Com a conclusão do inquérito, caberá ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apresentar a denúncia contra os suspeitos. O ex-funcionário deve responder pelos crimes de peculato ; subtração ou desvio de dinheiro público mediante abuso de confiança ;, associação criminosa, lavagem de dinheiro e concussão ; exigência de vantagem indevida por parte de funcionário público.


Influência
O salário dos servidores envolvidos varia entre R$ 7 mil e R$ 8 mil, segundo a Polícia Civil. Na operação de ontem, investigadores recolheram ; em imóveis de pessoas ligadas a Deivid ; malas com documentos, boletos e anotações relacionadas a valores. Por enquanto, sete suspeitos foram indiciados: o ex-chefe de gabinete; três servidores da Câmara Legislativa; e três pessoas de fora da Casa. A polícia não divulgou os nomes. Dois outros envolvidos, que também devolveram parte do salário, são tratados como vítimas.

Para o coordenador da Cecor, delegado Leonardo de Castro, Deivid recorria à influência entre os parlamentares para contratar funcionários comissionados para os gabinetes. ;Ele tem influência política. Trabalhou para alguns deles (deputados) durante a campanha e conseguia fazer esse esquema nos gabinetes. Ainda estamos investigando a participação de outros;, explicou.

O delegado Adriano Valente, diretor da Draco, detalhou que o grupo tomava de volta quase todo o salário dos funcionários que participavam do esquema ; a contratação, segundo a polícia, estaria condicionada à partilha dos vencimentos. ;O cartão bancário das vítimas ficava sob posse do Deivid. Pegamos mensagens de uma funcionária pedindo R$ 200 para comprar remédio. Outra que tinha tido filho havia pouco tempo e pedia o mesmo valor para comprar comida;, ressaltou o delegado.

A apuração indica que o ex-comissionado teria começado a trabalhar no gabinete de Telma Rufino por indicação do deputado Fernando Fernandes (Pros), titular da vaga. Em nota, a assessoria do parlamentar negou que ele tenha indicado Deivid para o cargo e afirmou que não havia conhecimento da prática de rachadinha na Casa. O distrital acrescentou que nunca pediu ou exigiu valores dos salários de qualquer servidor comissionado.

Também em nota, o deputado Hermeto informou que, no gabinete dele, não há rachadinhas. ;Repudio qualquer prática ilegal e espero que as investigações esclareçam os fatos;, informou o texto. Telma Rufino alegou que não se manifestaria sobre o caso, pois ;o ex-servidor não figurava entre suas indicações no período em que ocupou a titularidade do mandato;, entre janeiro e novembro. A reportagem não conseguiu contato com Deivid. Ele não foi preso na segunda etapa da operação porque, segundo os investigadores, não apresenta risco.


Trocas na Câmara


Suplente do distrital Fernando Fernandes (Pros), Telma Rufino assumiu a função do parlamentar em janeiro, quando o governador Ibaneis Rocha (MDB) indicou Fernandes para assumir a Administração Regional de Ceilândia. Em novembro, o delegado pediu exoneração do cargo; por isso, voltou a assumir a cadeira na Câmara Legislativa. Ao deixar a Casa, Telma assumiu a administração de Arniqueira, transformada em região administrativa em outubro.

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