postado em 07/12/2019 04:06
[FOTO1]A Polícia Civil investiga se um coronel reformado da Polícia Militar vendeu armas de fogo clandestinamente. O aposentado de 58 anos é acusado de estelionato contra 38 pessoas, que compraram os artefatos na loja que era mantida por ele, em Taguatinga, mas não receberam os produtos. Para impedir que as vítimas o denunciassem, o militar supostamente ameaçava os consumidores. Ontem, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos endereços do policial. A defesa nega que o coronel fosse sócio do estabelecimento e alega que os produtos não foram entregues por quebra de contrato por parte dos compradores.
Segundo o delegado Rodrigo Carbone, adjunto da Divisão de Proteção ao Consumidor (DPCon), integrada à Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), o militar reformado mantinha a empresa Spartacus Centro de Formação e Treinamento de Vigilantes, na QNJ, em Taguatinga Norte, com os dois filhos, que não tiveram a idade divulgadas. O local esteve aberto de 2015 até meados de setembro deste ano.
;Essas pessoas pagavam pelos artefatos, que variavam de R$ 5 mil a R$ 6 mil, mas não recebiam as armas. Quando procuravam a empresa, não tinha retorno. Os sócios se recusavam a providenciar a mercadoria;, explicou Carbone.
O investigador também destacou que, no momento em que as vítimas informavam que procurariam a polícia, eram intimidadas pelo policial reformado. ;Um fato importante que identificamos ao longo da investigação é que o coronel, mesmo não atuando ativamente na PM, se utilizava do status dentro da corporação para ameaçar os consumidores. Ele também dizia que, por ser militar, tinha influência dentro de outros órgãos.;
Em decorrência das supostas investidas, os agentes da DPCon acreditam que o número de vítimas seja maior. Ainda segundo a investigação, os 38 consumidores que fizeram a denúncia adquiriram cerca de 50 armas de fogo. O prejuízo é estimado entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. ;Por isso, pedimos para que, se houver mais pessoas lesadas, elas procurem a delegacia especializada;, disse o delegado.
Ontem, policiais civis deflagraram a Operação Crassus e cumpriram três mandados de busca e apreensão, um na loja Spartacus e dois nas residências do acusado e dos filhos dele, em Águas Claras. Os agentes apreenderam máquinas de cartão, livros contábeis, caixas vazias de armas de fogo, cápsulas dos artefatos já deflagradas, celulares, pen drives e documentos. Não havia arma nos locais.
O coronel reformado responderá por estelionato continuado, uma vez que há mais de uma vítima. ;Ele pode ser indiciado por associação criminosa, por se tratar de uma empresa cuja administração era dele com os filhos. A Justiça proibiu que o militar faça qualquer tipo de contato com as 38 vítimas. Os filhos dele também são investigados;, acrescentou Rodrigo Carbone.
Em nota, a Polícia Militar informou que ;a situação está sendo investigada, e a corporação não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta;.
Documentos em dia
Segundo o delegado responsável pelo inquérito, as apurações acerca do caso ; que começaram há cinco meses ; indicam um possível esquema de venda clandestina de armas de fogo. ;Durante as investigações, dois artefatos foram encontrados. Eles estão apreendidos na delegacia da área (17; DP) e levantaram essa suspeita inicial.;
Apesar da suposta atuação no mercado ilegal, o estabelecimento funcionava de forma legítima, sem qualquer problema de fiscalização. ;Os documentos estavam em dia. Mas, com os problemas enfrentados neste último ano, quando iniciaram os relatos de golpes, o coronel reformado teve de fechar a empresa.;
Defesa
De acordo com o advogado de defesa do coronel reformado, Wellington de Queiroz, a Spartacus teria deixado de entregar as armas de fogo por pedido dos próprios clientes, que não quiseram aguardar o tempo hábil de entrega dos produtos, que era de cinco a seis meses. Ainda, salientou que a empresa nunca sofreu qualquer tipo de problema anterior e que, até o fechamento da loja física, vendia 100 artefatos mensalmente.
;Na realidade, o coronel nunca foi dono da empresa. O filho dele, que tem o mesmo nome, era um dos sócios. Mesmo assim, as denúncias não retratam a realidade. Esses consumidores, na verdade, não quiseram aguardar o prazo de entrega e pediram o dinheiro de volta. Contudo, nesse tipo de transação, há multa, com previsão em contratos, mas eles não quiseram pagar o percentual de 10% em cima do valor total da compra;, disse Wellington de Queiroz.
Ainda segundo o advogado, os clientes passaram a fazer uma série de postagens nas redes sociais da empresa, ;como se não tivessem tido uma opção;. ;Para evitar prejuízo maior, os donos e sócios passaram a ressarcir o dinheiro, mas isso, consequentemente, afeta a empresa. Tomamos as medidas legais e, por isso, também estamos com processo judicial para reaver o dinheiro referente às quebras de contratos.;