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Caso Bernardo: corpo do menino deve chegar ao DF nesta segunda-feira

Polícia Civil do DF encaminha nesta segunda laudo de comprovação de DNA para Itaberaba (BA), e a perícia local emitirá o atestado de óbito do menino de 1 ano e 11 meses morto pelo próprio pai. A partir das documentações, cadáver será liberado para traslado até Brasília

Sarah Peres
postado em 09/12/2019 06:00

[FOTO1]O corpo de Bernardo da Silva Marques Osório, de 1 ano e 11 meses, será encaminhado de Itaberaba (BA) para Brasília nesta segunda-feira (9/12). O trajeto de 1.270 quilômetros, com duração de mais de 15 horas, será feito por uma funerária local, que disponibilizará dois motoristas, para que não ocorram interrupções longas durante o traslado. Segundo a família, a previsão é de que a criança seja enterrada amanhã no Campo da Esperança, na Asa Sul. O pai do menino e assassino confesso, o servidor público Paulo Roberto de Caldas Osório, 45, está preso na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), no complexo da Polícia Civil do Distrito Federal, no Sudoeste.


Peritos do Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA) identificaram o cadáver encontrado em Campos de São João, no município baiano de Palmeiras (leia Passo a passo da investigação), em menos de seis horas, no sábado. Segundo Samuel Ferreira, perito-médico e diretor do instituto, a rapidez do resultado também ocorreu para atender a um pedido da avó do garoto, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57. ;A primeira coisa que ela me pediu foi para que déssemos uma resposta concreta o quanto antes, para que pudessem ter paz. Como profissionais, visamos à questão humanitária. Se podemos abreviar o luto de uma família pela identificação de um ente querido, é isso o que devemos fazer;, salientou.

[SAIBAMAIS]Especialistas do IPDNA utilizaram uma técnica desenvolvida pela própria equipe de Brasília, usada na identificação de vítimas de tragédias como a de Brumadinho (MG), em janeiro deste ano. ;O diferencial é que o teste é mais simplificado, e o resultado, mais célere. Selecionamos áreas de tecidos moles ou intermediários, como a cartilagem. No entanto, é preciso buscar locais que não foram degradados pela decomposição avançada e nos quais as células continuaram mais preservadas. No caso do Bernardo, entramos em contato com policiais da Bahia e, por meio de fotos, determinamos a área a ser coletada para o exame;, detalhou Samuel Ferreira.

A área escolhida foi a cartilagem articular do joelho. O material foi comparado com o DNA da mãe, a advogada Tatiana da Silva Marques, 30, e do pai, Paulo Osório, por meio de amostras salivares. ;Conseguimos provar, cientificamente, que o corpo encontrado na Bahia é de Bernardo. A probabilidade de ter outra pessoa com um DNA semelhante é de uma em 53 septilhões. Considerando que a Terra tem 7 bilhões de pessoas, seriam necessários 7 trilhões de planetas para que houvesse uma segunda pessoa com o DNA semelhante ao de Bernardo;, explicou o policial civil.

Segundo o delegado Leandro Ritt, chefe da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS), a apuração do caso está concluída com a identificação do corpo. A polícia da Bahia finalizará o laudo da causa da morte, o qual será anexado ao inquérito policial, que deve ser remetido ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) até quarta-feira (11).

Psicopata

Para o investigador, Paulo Osório mentiu durante os depoimentos e demonstrou ter perfil de ;psicopata;. ;Ele indicou uma rota errada para não encontrarmos o menino e para perpetuar o sofrimento da mãe e da avó. Teve até o cuidado de comprar uma roupa nova para o filho não ser reconhecido pelas vestimentas se o corpo fosse encontrado;, relatou.

;Isso também indica uma frieza de Paulo, o que é percebido durante as oitivas. Em nenhum momento, demonstrou qualquer reação sobre o que ocorreu. Ele diz que queria assustar a mãe da criança, ao viajar com Bernardo. Mas sabemos que não é verdade. Quem tem essa intenção tem o cuidado de separar alimento, mala e brinquedos. Eles saíram com a roupa do corpo. Isso deixa claro que o objetivo era matar o filho. Ele tem perfil de psicopata, mas psiquiatras poderão indicar, com precisão, todos os desvios de caráter, mediante exames;, salientou o delegado.

Ainda de acordo com Ritt, o servidor público responderá por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Apesar de o corpo de Bernardo ter sido deixado na Bahia, Paulo não será indiciado no estado nordestimo. Ele deve permanecer no DCCP até a próxima sexta. O Judiciário deverá determinar se o acusado irá para a ala psiquiátrica do Complexo Penitenciário da Papuda ou se ficará com os detentos comuns.

A identificação significou alívio para a mãe e a avó. A família realizou os trâmites legais para o traslado e aguarda a entrega dos laudos de DNA e da causa da morte para iniciar o trajeto até Brasília. De acordo com Tatiana, ela ainda orava para que Bernardo retornasse com vida. ;Tinha esperanças. Quando o corpo foi encontrado, algo dentro de mim dizia que era meu filho, mas, por outro lado, falava que não;, contou. ;O que me conforta agora é que encontraram o corpinho dele. Poderemos fazer o velório e colocá-lo para descansar em um local que sabemos onde é. Isso conforta muito meu coração;, afirmou.

Para tentar se reerguer, a advogada diz que se apega às boas lembranças ao lado do menino. ;O que me dá orça em meio a todo esse turbilhão é me lembrar do meu filho. É recordar a criança alegre e feliz que ele foi. Não tem um momento na minha cabeça em que o Bernardo estivesse triste. Muito pelo contrário. Ele era alegria, beijos e abraços. É assim que vou me lembrar dele para o resto da minha vida;, acrescentou.

Assassino da mãe

Paulo Osório matou a própria mãe, Neuza Maria Alves, 45, em 1992. O então jovem de 18 anos esfaqueou, asfixiou-a com um fio de náilon e colocou fogo no corpo. Ficou preso na ala psiquiátrica da Papuda e conseguiu a liberdade em 2004, ano em que a Justiça arquivou o processo. Na última quinta, o Judiciário pediu o desarquivamento dos autos para analisar os detalhes do assassinato e o laudo de imputabilidade.

A advogada Tatiana da Silva Marques aguarda a entrega dos laudos de DNA e da causa da morte para se despedir do filho

Fases da identificação

  • 1; - Coleta da amostra de cartilagem do joelho do corpo pela Polícia Civil da Bahia e encaminhamento ao Instituto de Pesquisa de DNA Forense
  • 2; ; Dissecação do tecido para fazer os recortes dos pontos com células viáveis em meio ao material em decomposição
  • 3; ; Análise dos materiais para averiguar se a quantidade era suficiente para uma análise de DNA
  • 4; - Amplificação do DNA em bilhões de cópias iguais e separação das moléculas conforme o peso de cada uma
  • 5; - Tradução das informações moleculares para um perfil genético individual de cada ser humano, e comparação com os perfis genéticos dos pais

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Passo a passo da investigação

Paulo Roberto de Caldas Osório sequestrou Bernardo em 29 de novembro, quando o buscou na creche, na 906 Sul. No veículo, entregou à criança um copo com suco de uva. A bebida estava envenenada com três comprimidos de uma medicação para insônia de uso restrito, a qual era consumida pelo servidor público, por meio de receita médica.

Bernardo passou mal ao menos duas vezes, dentro da casa do pai, na 712 Sul. Paulo deu banho nele e, pouco depois, o colocou na cadeirinha de segurança do carro. De acordo com o depoimento do assassino confesso aos investigadores da DRS, o menino estava dormindo, e a intenção do homem era seguir até a Bahia, onde ficaria alguns dias para dar um ;susto; na mãe do garoto.

Paulo relatou que pegou a BR-020. No caminho, ao parar em um posto às margens da rodovia para abastecer, notou que Bernardo estava morto. Ele continuou viagem e, após o ponto de divisa entre Goiás e o estado do Nordeste, deixou o filho e a cadeirinha em um ponto de mata. Policiais civis fizeram buscas na área indicada pelo acusado, na última quinta-feira, mas não obtiveram sucesso.

Na sexta-feira, um morador do povoado de Campos de São João entrou em contato com a DRS. Por telefone, informou aos agentes que havia encontrado um corpo com as mesmas características de Bernardo, além de uma cadeirinha de segurança. No mesmo dia, o delegado Leandro Ritt, acompanhado de três policiais e da avó do menino, Juciane Nascimento, viajaram em uma aeronave da Polícia Civil do DF. O cadáver foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) da Bahia.

Como não foi possível a identificação visual, por causa do estado de decomposição do corpo, peritos baianos e brasilienses fizeram análises por meio de fotos para indicar a melhor amostra para o exame de DNA. O material foi retirado pelos especialistas e entregue aos cuidados do delegado Leandro Ritt. O investigador pousou na capital federal por volta das 13h de sábado e entregou a amostra ao perito-médico Samuel Ferreira, do IPDNA, para início das análises. O trabalho foi concluído antes das 18h, e o resultado, entregue à DRS na manhã de ontem.

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