postado em 09/12/2019 04:35
[FOTO1]Milhares de pessoas e um mesmo propósito. Ontem, na Esplanada dos Ministérios, a 1; Caminhada pelo Fim da Violência contra as Mulheres chamou a atenção para os feminicídios e para a cultura de agressão à população feminina. Cerca de 200 integrantes do grupo Mulheres do Brasil se mobilizaram, unindo-se a aproximadamente 8 mil participantes de uma corrida de rua, no centro de Brasília, para pedir um basta aos casos de agressão.
O laranja ; cor oficial do combate às brutalidades cometidas contra a população feminina ; destacou, no horizonte da capital do país, os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Durante o percurso, as camisetas estampavam palavras de apoio ao término das atrocidades praticadas pelos agressores.
Desde as primeiras horas de domingo, às 5h, participantes já se concentravam na Esplanada. A largada foi dada às 7h simultaneamente em diversas lugares do Brasil e também em países como Alemanha e Portugal. Ao todo, mais de 20 cidades participaram da mobilização.
Para Janete Vaz, líder do grupo Mulheres do Brasil, a sociedade civil precisa se mobilizar em torno do assunto. ;O que queremos é trazer visibilidade, fazer com que as mulheres tenham coragem de relatar seus sofrimentos, levar o conhecimento de que é importante todas as pessoas estarem envolvidas. Por isso, falamos ;mete a colher, sim, em briga de marido e mulher;. Com isso, estamos incentivando as mulheres que estão invisíveis, sofrendo violência psicológica, moral e sexual, para que possam ter a ousadia de buscar apoio;, diz.
No Distrito Federal, 32 mulheres foram vítimas de feminicídio, neste ano. O número se refere aos casos que chegaram a ser registrados e é 14% maior do que em todo 2018, quando ocorreram 28 crimes do tipo. Para Andrea Costa, coordenadora do Comitê de Combate à Violência contra a Mulher do grupo Mulheres do Brasil, iniciativas como a caminhada de ontem são fundamentais na conscientização sobre as agressões sofridas e no combate ao crime. ;Os índices de feminicídios são muito altos. Então, é uma forma de dar visibilidade à violência e trazer a sociedade para combatê-la. São todos por todas;, afirma.
Tatiana Araújo, 39 anos, caminhou em nome da união. Segundo a fotógrafa, a rede de apoio contribui para dar voz às vítimas, além de ajudar na superação dos traumas. ;É fundamental encorajar uma a outra e levar à frente os problemas que acontecem dentro de casa. Muitas vezes, passa despercebido e você acha que é uma coisa comum. Mas não é. Às vezes, o que você acredita ser uma brincadeira, ou algo que aconteceu porque seu esposo chegou alterado em casa, a cada dia vai ficando mais perigoso. Você acha que no outro dia vai melhorar. Mas a proporção fica maior. As mulheres precisam se apoiar. Isso mostra que ninguém está só e que outras mulheres também passam por problemas como estes dentro de casa. Quando você tem uma rede de apoio, fica mais fácil superar;, pontua.
Fundadora de uma ONG que realiza acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, Nathany Osorio, 81 anos, acordou cedo no domingo para ;trabalhar em defesa da mulher;. Ela destacou o fato de a violência não ser restrita a uma determinada classe social. ;Nós mulheres, independentemente da classe social, éramos muito tímidas até que houvesse o que acontece agora, essa conscientização e o empoderamento do fato e da honra de ser mulher. As agressões aconteciam em qualquer nível social, não é só entre os humildes;, pondera. ;Eu vi pessoas de grande intelecto e poder aquisitivo agredir, machucar, bater e violentar;, completa.
Chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Sandra Melo afirma que o silêncio vinculado aos casos de agressão é um dos principais motivos do número elevado de crimes. ;É importante destacar como o silêncio das vítimas e da sociedade tem levado a isso. Se as vítimas não procuram ajuda, o Estado não tem como quebrar esse ciclo da violência. Então, esse movimento aqui, é importantíssimo no sentido de mobilizar a sociedade e as mulheres que possam estar sofrendo violência, para que venham trazer essa vivência e, assim, possam ser ajudadas;, avalia a delegada.
Homens
Os homens também têm papéis centrais nas tragédias e em histórias de superação relacionadas à violência doméstica. ;Eles são imprescindíveis porque é um problema que afeta a sociedade. Então, todos têm que estar comprometidos. Aqueles homens que se juntam a nós nessa campanha, servem de exemplo para aqueles que pensam ou praticam a violência contra a mulher;, explica Sandra Melo.
Supervisor de negócios, Regis Fonseca, 44 anos, fez questão de se unir à caminhada. ;Sou casado há 25 anos. Acredito que, dentro de uma relação, precisa haver respeito e cumplicidade para ser um ambiente saudável. Vim à caminhada justamente para mostrar que homens também podem participar desse movimento e ajudar outros a enxergarem que não cabe mais nenhum tipo de agressão.;
Atendimento
No evento, policiais da Deam realizaram atendimentos e orientaram a população sobre medidas de combate às agressões. Uma unidade móvel da delegacia foi colocada à disposição das pessoas que estavam na Esplanada durante a caminhada. ;A gente só vai conseguir diminuir essas taxas de violência quando a sociedade estiver totalmente mobilizada e quando a mulher sentir que todos estão por ela. É isso que estamos fazendo aqui;, enfatiza Sandra Melo.
"O que queremos é trazer visibilidade, fazer com que as mulheres tenham coragem de relatar seus sofrimentos;
Janete Vaz, líder do Mulheres do Brasil
Saiba onde procurar ajuda
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
O serviço gratuito da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República serve como disque-denúncia em casos de violência contra a mulher
Telefone: 180
Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
Espaços de acolhimento e atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Endereço: Entrequadra 204/205 ; Asa Sul
Telefone: 3207-6172
Ministério da Mulher
O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos recebe ligações gratuitas por telefone 24h para quem precisar fazer denúncias de violência que acabou de acontecer ou que está em curso
Telefone: 100
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
Acompanhamento psicossocial às vítimas, familiares e autores
Locais: Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho e no Plano Piloto
Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
O serviço de acompanhamento de famílias está disponível em todos os batalhões e conta com 22 equipes
Telefones: 3910-1349 / 3910-1350