Cidades

Brasília adere a protesto mundial de combate à violência contra a mulher

Movimento feminista iniciado no Chile e que viralizou em outros países do mundo reúne manifestantes em frente ao Palácio do Planalto. Presidente Jair Bolsonaro foi um dos alvos das protestantes

Augusto Fernandes
postado em 13/12/2019 19:26

[FOTO1]Dezenas de pessoas se reuniram na tarde desta sexta-feira (13/12), na Praça dos Três Poderes, para um ato de protesto contra a violência às mulheres: o "Um estuprador em seu caminho". Desde novembro, a manifestação tem repercutido em diferentes países do mundo e foi iniciada por um coletivo de feministas do Chile, o La Tesis. Durante o movimento, as participantes realizam uma intervenção por meio de danças, com olhos vendados com faixas pretas, e cantam a música Un violador en tu camino, criada pelo coletivo chileno, que diz: "A culpa não era minha, nem de onde estava, nem como me vestia. O estuprador é você". Além disso, a canção relata diversas formas de violência contra a mulher.

Na versão entoada pelas manifestantes de Brasília, há trechos que criticam o presidente Jair Bolsonaro. As mulheres relacionam o nome do chefe do Palácio do Planalto aos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, ocorridos em março do ano passado. "Marielle, presente. O assassino dela é amigo do presidente", cantou o grupo de protestantes.

O "amigo" mencionado pelas mulheres seria um dos responsáveis pelo crime. Um deles é o ex-policial militar Ronnie Lessa, principal suspeito de ser o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson ; ele morava no mesmo condomínio em que Bolsonaro tem uma casa, no Rio de Janeiro, e a filha dele já namorou um dos filhos do presidente. O outro é o também ex-policial militar Élcio Queiroz, indicado como o motorista do carro usado na emboscada ; meses depois da tragédia, ele postou foto nas redes sociais ao lado do chefe do Executivo federal.

Durante a manifestação, o grupo também fez menção às 32 mulheres que morreram por femincídio no Distrito Federal neste ano, ao carregarem papéis com os nomes de cada uma das vítimas e fazerem uma "chamada". O basta pelo feminicídio, aliás, foi uma das principais mensagens que o grupo de protestantes quis passar com o ato.

"O feminicídio é uma epidemia e é muito triste saber que, a cada semana, nós temos novos casos. Estamos muito preocupadas. Mas esse tipo de movimento mostra que todas as mulheres estão unidas e vamos prestar toda a solidariedade possível para tentar combater isso", disse a servidora pública Talita Victor Silva, 35 anos, uma das participantes.

Movimento feminista iniciado no Chile e que viralizou em outros países do mundo reúne manifestantes em frente ao Palácio do Planalto. Presidente Jair Bolsonaro foi um dos alvos das protestantes

Houve, ainda, protestos contra os Poderes Legislativo e Judiciário. "Os congressistas. Os juízes. Os Três Poderes. O presidente. Estado opressor é racista estuprador", dizia outra parte da música entoada pelas mulheres. Além disso, elas fizeram coro para incentivar o feminismo: "Se cuida, machista. A América Latina vai ser toda feminista".

"Desde que a política mudou, no início deste ano, com uma nova configuração de políticos, presenciamos diversas manifestações de ódio e de incentivo à violência contra as mulheres. Isso, nós não aceitamos. Seremos uma espécie de resistência", frisou a professora Ludmila Amaral, 42. "Vamos propagar o feminismo, a partir desse tipo de ação, e ampliar o movimento para tirar as mulheres da opressão, do estado de inércia em que vive a nossa sociedade atualmente", completou.

O protesto

A primeira manifestação denominada Un violador en tu camino ocorreu em 20 de novembro, no Chile, na semana em que se lembra o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, comemorado em 25 de novembro. O ato fez parte de protestos às denúncias de estupros de policiais nos atos em defesa da igualdade social no país, realizados em outubro.

Devido à proporção que o protesto tomou, o coletivo acionou Mulheres de todo o mundo para replicar a coreografia. Desde então, países como Brasil, México, Colômbia, Espanha, Austrália, Estados Unidos e França foram tomados pelo manifesto. No Brasil, a primeira intervenção ocorreu no DF, em 29 de novembro pelo grupo Movielas, durante o Festival de Cinema Brasileiro, no Cine Brasília. Depois em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, entre outros estados.

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