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Crônica da Cidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/12/2019 04:44
A lição da tesourinha

O respeito à faixa de pedestres é, sem dúvida, motivo de orgulho para o brasiliense. Quando o mais forte e rápido pisa no freio, em nome da segurança do vizinho, reacende-se a fé na capacidade humana de zelar pelo próximo. Eu compartilho desse orgulho, mas acho que precisamos falar mais de outro inspirador hábito dos motoristas da capital: o de, durante engarrafamentos, ceder a preferência para quem desce a tesourinha.

Taí uma coisa capaz de me deixar quase feliz. Só não fico feliz mesmo porque, quando a presencio, estou preso no trânsito engarrafado. Mas ver aquela organização espontânea, na qual cada motorista que tem a preferência dá passagem a um que deseja sair da tesourinha, sem necessidade da presença de agentes do Detran, também reacende minha fé na humanidade.

Imagine se os carros que estão na tesourinha só andassem quando a pista que vai para os comércios locais ficasse vazia?. Parava tudo. Ao se reorganizar numa espécie de fila única, os motoristas brasilienses mostram uma capacidade de agir com inteligência em nome do bem comum.

Pena que essa inteligência, em geral, fica restrita ao espaço das tesourinhas. Por que a gente não continua dirigindo pelo mesmo princípio nas outras vias? Não sei o motivo, mas tenho certeza de que tudo fluiria melhor. Chegaríamos menos estressados ao trabalho ou às nossas casas e veríamos menos cenas selvagens de gente querendo chegar às vias de fato em pleno asfalto.

Celebrar a democracia da tesourinha pode trazer mais solidariedade e paz ao trânsito. O camarada deu seta para mudar de pista? O outro quer dar ré para sair da vaga? Pense na lição da tesourinha e ceda a vez. E peço mais: seja especialmente generoso com ciclistas e motociclistas, por sua maior vulnerabilidade, e com os motoristas de ônibus. Esses últimos conduzem veículos nos quais viajam dezenas de pessoas, muitas vezes cansadas do trabalho e com uma longa viagem pela frente. Elas merecem passar à frente de quem segue, geralmente solitário, em um carro engarrafador de trânsito.

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