Cidades

Desafios para 2020: escolas carecem de vagas e melhor infraestrutura

Aumentar número de vagas, investir em infraestrutura, capacitar professores e levar tecnologia à sala de aula são medidas para dar mais qualidade ao ensino e para ajudar a combater a evasão de estudantes

Mariana Machado, Darcianne Diogo
postado em 17/12/2019 06:00
[FOTO1]Melhorias em infraestrutura, capacitação de profissionais e uso de tecnologias são alguns dos desafios indicados por especialistas para a educação no Distrito Federal em 2020. Neste ano, houve greve dos professores, início da gestão compartilhada com a Polícia Militar dentro das escolas e troca de secretários. Ao todo, 683 unidades atendem aos mais de 458 mil estudantes matriculados na rede pública, de acordo com os números do Censo Escolar 2019.

No início do ano, o relatório final do governo de transição indicou a necessidade de reforma ou de manutenção em 200 unidades de ensino, além da defasagem de 23.857 vagas em creches para crianças de até 3 anos. Quase um ano depois, a Secretaria de Educação informou que três escolas estão em reforma: uma em Brazlândia, outra no Sol Nascente e a terceira, em São Sebastião. Além disso, uma foi reconstruída na Vila Planalto. Quanto às creches, a pasta inaugurou duas em Samambaia em julho e agosto deste ano.

Outro problema é a distorção idade-série, isto é, a proporção de estudantes com mais de dois anos de atraso escolar. De acordo com o Censo Escolar 2018, 22,8% (81.243) dos alunos do DF estão nessas condições. ;No Brasil, a criança não aprende o que é esperado para a série dela;, critica Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas.

Segundo ela, falta de capacitação de professores, altas taxas de reprovação e abandono e as desigualdades socioeconômicas do país retratam gargalos educacionais. O mesmo censo mostra que mais de 6,7 mil (1,9%) pessoas abandonam os estudos. A percentagem é maior no ensino médio, em que 4,75% dos jovens não cumprem a fase escolar. Índices de reprovação também são evidentes: 7,9% dos alunos reprovaram em 2018, o equivalente a 27.371 estudantes.

A pedagoga e oficial do programa de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Julia Ribeiro, elenca a gravidez precoce, a violência, o bullying e até os conteúdos mal ministrados em sala como motivos do abandono escolar. ;É preciso implementar políticas públicas que visem trazer esses alunos de volta para a escola;, afirma.

Ao Correio, o secretário de Educação do DF, João Pedro Ferraz, explicou que uma das metas para 2020 é inaugurar, ao menos, 10 escolas dos ensinos fundamental e médio e ampliar o número de vagas em creches até o meio do ano. ;A educação é um ciclo. Não dá para darmos um tratamento de choque de imediato. Mas priorizaremos as escolas compartilhadas com esporte e cultura. Acreditamos que isso terá reflexo positivo.;

Um dos métodos aplicados para manter os jovens nas escolas é a educação integral. No DF, 201 unidades ofertam essa modalidade e atendem a mais de 33 mil estudantes. A ideia do governo é ampliar o serviço em 15% no ano que vem. De acordo com o secretário, primeiro é preciso melhorar a estrutura das instituições, aumentando as salas e contratando novos professores para receber esses alunos.

Militares nas escolas

Entre as mudanças que marcaram o ano, está a decisão do governo de implementar, em 12 escolas da rede de ensino pública, a gestão compartilhada com a Polícia Militar. O GDF pretende aplicar o modelo em 40 instituições até o fim de 2020. Atualmente, 16.316 jovens estudam nesses colégios, localizados em Ceilândia, na Estrutural, no Gama, no Itapoã, no Núcleo Bandeirante, em Planaltina, no Recanto das Emas, no Riacho Fundo 2, em Samambaia, em Santa Maria, em Sobradinho e em Taguatinga.

Um dos primeiros a receber a novidade foi o Centro Educacional 1 (CED 1) da Estrutural, que tem 1,8 mil alunos do quarto ao sétimo ano do ensino fundamental, do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos. Em fevereiro, a organização do local ficou dividida entre docentes (encarregados da parte pedagógica) e policiais militares (responsáveis pela parte burocrática e de segurança). A diretora do colégio, Estela Accioly, elogia as mudanças. ;A escola está mais organizada e temos mais tempo para o pedagógico. Os alunos obedecem à hierarquia, e até o ambiente está mais limpo.;

Muitos pais também se mostram satisfeitos. É o caso da feirante Maria das Graças Oliveira, 43. Ela se formou na escola, e, hoje, o filho dela, Hadryan Oliveira, 10, estuda no mesmo lugar. ;Antes, a gente não via um policial aqui. Há uns dois anos, entrou um cara quebrando cadeira, batendo em todo mundo. Teve criança machucada;, lembra. ;A vinda dos policiais foi boa. Antes, até matar professor, os alunos queriam.;

No entanto, nem tudo foi positivo. No CED 3 de Sobradinho, um policial de 54 anos acabou afastado depois de assediar estudantes. O sargento enviou mensagens a alunas dizendo ;beijo no cantinho da boca;. Especialistas em educação acreditam que a militarização das escolas é prejudicial. Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Comitê DF na Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirma que, ao fim do primeiro ano letivo após o início da gestão, o balanço é negativo.

Para ela, o modelo transforma escolas em quartéis. ;A polícia deveria cuidar do que lhe compete, deixando a área ao redor da escola segura para o professor trabalhar. A segurança falhou fora da escola e, por isso, está indo para dentro;, defende. ;O grande papel da polícia para contribuir com a educação seria deixar nossa sociedade segura nas ruas. Do contrário, não vejo caminhos para que isso seja positivo.;

Avaliações

Criado pelo Inep, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) reúne os resultados de fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar e das médias do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ou da Prova Brasil. No último ano, o Centro de Ensino Fundamental 6 de Brasília (CEF 6), no Lago Sul, atingiu a meta.

Para a diretora Cátia José Teixeira, o segredo está no desenvolvimento de atividades práticas alinhadas à teoria. Em 2020, a novidade é o Grêmio Estudantil. As estudantes do 6; ano Ana Beatriz Teixeira, 11, e do 7; ano Ana Clara Reis, 13, estão animadas para participar. ;Queremos interagir com os alunos e trazer melhorias. Tem crianças com mais dificuldades em aprender, então queremos dar mais atenção a elas;, afirma Ana Beatriz.
Maria das Graças e o filho Hadryan, que estuda no CED 1 da Estrutural: uma das escolas que adotaram a gestão compartilhada em 2019

No Guará, o Centro Educacional 3 (CED 3) não atingiu a meta do Ideb. A projeção para a escola na última avaliação era de 5 pontos, mas o resultado ficou em 3,9. De acordo com a supervisora pedagógica, Veruska Coutinho, a instituição tem investido em projetos para auxiliar na aprendizagem dos estudantes e melhorar o rendimento nos próximos anos. ;Desenvolvemos vários programas de incentivo, como feira de profissões, produção de cinema e gincana cultural. Essas iniciativas instigam o aluno.;

Levantamento

O Censo Escolar é um levantamento sobre educação. É feito anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação. As escolas, públicas e privadas, e as redes de ensino estaduais e municipais fornecem as informações. O censo verifica desde dados sobre matrículas, rendimento dos alunos, infraestrutura dos colégios e funções docentes, entre outros. Enquanto números de matrículas são disponibilizados desde o início do ano, demais dados só são compilados no ano seguinte.

Números da educação no DF

683 unidades
Urbanas: 603
Rurais: 80

81.243: (22,8%) estudantes em situação de distorção idade-série no DF

27.371: (7,9%) estudantes em situação de reprovação no DF

6.725: (1,9%) estudantes em situação de abandono escolar no DF

Em 95 delas, isto é, em 13,9%, não há bibliotecas ou salas de estudo.

Necessidade de ambientes interativos

Um dos desafios da educação para 2020 é a aproximação com recursos tecnológicos. Em abril deste ano, o então secretário Rafael Parente anunciou que, até o fim de 2019, 70% das escolas teriam redes de internet Wi-Fi instaladas. A promessa não foi cumprida. A Secretaria de Educação informou que, em muitas escolas, o serviço é contratado por conta própria. O atual secretário, João Pedro Ferraz, disse que a expectativa é de que, até o ano que vem, todas estejam conectadas.

Leonardo Lazarte, professor do Departamento de Matemática da UnB, argumenta que é preciso investir em tecnologia para incluir escolas em ambientes de aprendizagem na rede. ;Os alunos estão o tempo todo no celular se comunicando, e a escola está passando ao lado dessas tecnologias;, critica. Ele ressalta a importância da capacitação de profissionais, inclusive para aproveitamento de recursos tecnológicos em sala. ;Há muitas tecnologias pedagógicas que podem ser usadas em ambientes interativos;, detalha.

O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) também reforça a importância da valorização da categoria. Samuel Fernandes, diretor da entidade, elenca a necessidade de reajuste salarial e de qualificação. ;O governo deveria valorizar mais o professor, disponibilizar cursos de pós-graduação e mestrado.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação