Marcos Braz*, Lis Cappi*, Alan Rios
postado em 18/12/2019 06:00
[FOTO1]Presentear. O verbo é simples, mas pode significar muito. Para crianças que se encantam com a magia do Natal, então, abrir um embrulho colorido marca o ano ou até uma fase da vida. Esta é a expectativa de centenas de pessoas que vivem em abrigos no Distrito Federal. Em dezembro, os locais reforçam os pedidos de doações. Brinquedos, materiais escolares, alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal estão entre as maiores necessidades. Mas nem toda ajuda precisa ser comprada. ;Quem puder fazer uma visita, dar um abraço, brincar, trazer uma pipoca ou qualquer coisa simples e atenciosa assim, acaba dando a melhor doação;, lembra a mãe social Iracilda Ferreira, 54 anos.
Ela trabalha há três anos na Casa de Ismael, um abrigo que acolhe 70 crianças na capital, e considera dezembro um dos meses mais importantes para as doações. ;No Natal, nós trazemos o Papai Noel, e isso é tudo para eles. As crianças gostam muito. Às vezes, o presente é um vestido, um carrinho, e isso entusiasma demais. Acho que a maioria das pessoas têm condições de doar um pouco para quem precisa;, ressalta.
Iracilda também enxerga mais brilho nos sorrisos dos pequenos, que se abrem com atitudes singelas. ;As crianças não têm famílias; então, qualquer forma de acolhimento acrescenta muito. A gente acaba se apegando muito a esse carinho deles. Eu mesma perdi dois filhos na semana passada que foram adotados, e chorei demais, mas sei que é o melhor para eles. Qualquer pessoa pode fazer o bem, se não puder adotar. É só vir visitar e dar um pouco do que puder;, afirma.
Fabrício**, 11, é apaixonado pelo Flamengo e ganhou uma camiseta do clube. ;Gostei muito quando recebi. Este ano, também me deram um tênis branco muito legal;, conta. Ele ainda ensina: ;Quando uma pessoa faz o bem, a outra que recebe também faz;. Guilherme, 14, recorda com alegria tudo o que recebeu, mas a doação mais especial foi diferente. ;A minha professora me deu um violão, e eu fui aprendendo a tocar, sozinho mesmo. Agora, se eu pudesse pedir algo, seriam mais violões, para a gente ter aula de música.; O garoto ressalta a importância desses atos: ;É bom doar, porque a gente depende do governo e não recebemos tanto dinheiro;.
Jessiane Souza acompanha de perto as boas ações ao receber as doações para a Casa de Ismael. ;No fim de ano, também é importante ter alimentos, porque fazemos ceia de Natal, um jantar especial para as crianças. O que precisamos muito agora é de calcinhas e cuecas infantis, materiais de primeiros socorros, leite em pó e comum. Podemos buscar doações em casos em que são muitas coisas e recebemos 24 horas por dia, até sábado e domingo;, explica.
Presentes
Outro abrigo que depende de doações para fazer a comemoração natalina é a Sociedade Cristã Maria e Jesus Nosso Lar, em funcionamento desde 1973. O Natal deste ano será organizado para 46 crianças. Dessas, 30 vivem no abrigo, nove vieram de outras unidades da Federação e foram adotadas na capital para algum tratamento médico. As outras sete são filhos de funcionárias que moram nas dependências do Nosso Lar para cuidar dos assistidos.
De acordo com o coordenador administrativo da instituição, Paulo Cesar Cerqueira, a intenção é fazer uma ceia e presentear todos os que passarão os dias 24 e 25 de dezembro na casa de acolhimento. ;Fazemos uma ceia especial, mas dependemos das doações. A gente recebe donativos para compor a ceia: peru, uva-passa, frutas e outros itens que fazem parte do Natal;, conta. No caso dos presentes, Paulo Cesar indica roupas são bem-vindas.
;Tem criança que usa a mesma peça o ano todo, mas qualquer doação é bem-vinda. Tudo será útil de alguma forma;, completa. Paulo também destaca a importância do ato de doar para o dia dos pequenos. ;As pessoas costumam ter a ideia de que, por ser capital, Brasília não tem crianças abandonadas, mas tem, e são muitas. Todas que estão em abrigos têm histórias que nem sempre são boas. No caso deles, faz diferença ganhar presentes. Quem é que não gosta de ganhar algo? Faz diferença sair da rotina do dia a dia;, diz.
Onde ficam os abrigos
Unidade de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Unac I)
Endereço: Guará
Telefone: 3381-1813
Unidade de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Unac II)
Endereço: Recanto das Emas
Telefone: 3332-1595
Unidade de Acolhimento para Crianças e Adolescentes III (Unac III)
Endereço: M Norte, em Taguatinga
Telefone: 3491-2761
Ampare (Associação de Mães Protetoras, Amigos e Recuperadores de Excepcionais)
Endereço: Acampamento Pacheco Fernandes, Conjunto Fazendinha, Casa 3,
Vila Planalto
Telefone: 3274-9561 e 3273-6964
Batuíra ; Obras Assistenciais do Centro Espírita Batuíra
Endereço: QNM 32, Módulo C, AE, Ceilândia Norte
Telefone: 3201-7811
Casa Transitória de Brasília
Endereço: QSD 27, Casa 24, Taguatinga Sul
Telefone: 3356-2788
Sociedade Cristã Maria e Jesus Nosso Lar
Endereço: SAIS, Lote C, Núcleo Bandeirante
Telefone: 3301-1120 e 98483-6854
Casa de Ismael
Endereço: 913 Norte
Telefone: 3272-4731
Casa do Caminho
Endereço: QNJ 10, AE 6, Taguatinga Norte
Telefone: 3475-7334
Irmão Áureo ; Obras Assistenciais do Centro Espírita Irmão Áureo
Endereço: Incra 6, Gleba 2, Chácara 239, área rural de Brazlândia
Telefone: 3353-4214
Lar de São José
Endereço: QNM 32, Módulo B, AE, Ceilândia Norte
Telefone: 3562-9196
Larzinho Infantil
Chico Xavier
Endereço: SMPW Quadra 1, Conjunto 4, Casa 5 (fundos) Park Way, Núcleo Bandeirante
Telefone: 3386-0460
Lar da Criança Padre Cícero
Endereço: QNG AE 37, Taguatinga Norte
Telefone: 3354-8290
Aconchego ; Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária
Endereço: SHIGS Quadra 709, Bloco M, Casa 4, Asa Sul
Telefone: 3963-5049 e 3964 5048
Meninas dos Olhos de Deus
Endereço: Quadra 12, Conjunto C, Casa 49, Sobradinho
Telefone: 3536-8416
Luz e Cura ; Lar Jesus Menino
Endereço: Chácara Menino Jesus de Praga, Número
33-C, Núcleo Rural de Sobradinho
Telefone: 3702-2270
Dignidade pelos pés
As boas ações tomam conta dessa época do ano, e a caridade é a mais comum delas. Clarissa Dias, 41, e seus filhos, Nilo Vaz Dias, 15, e Paloma Vaz Dias, 13, são parte desse time do bem. A mãe e Nilo são os organizadores do Pés dignos, projeto que distribui chinelos a instituições de caridade e a comunidades carentes. O item básico de vestuário é uma das maiores necessidades dos abrigos, segundo a doadora. Em outubro, ambos iniciam a campanha de arrecadação nos grupos de mensagem e, principalmente, boca a boca.
A inspiração veio de Nilo. A família tinha como tradição fazer doações de Natal, mas, em uma das entregas, o menino estranhou que uma criança recusou um tênis. A mãe percebeu a atitude e perguntou ao morador do Sol Nascente o motivo da recusa. O menino respondeu que não sabia a própria numeração de calçados. ;Como o meu filho e eu somos católicos, daí veio o nome (da iniciativa), tem a ver com a dignidade de Jesus;, explica Clarissa.
Todos os chinelos doados são novos. Essa é uma exigência do grupo para garantir o conforto das crianças que receberão o presente. Até agora, foram arrecadados mais de 90 pares de calçados. Em 2017, o número chegou a 450, segundo Clarissa. Essas doações chegam até de outras unidades federativas, pelos Correios. ;Nós temos a ideia de que só se presenteia alguém com aquilo que gostaríamos de receber, ou ver um filho nosso recebendo;, avalia a psicóloga.
O espírito de doação também tomou conta do círculo de amigos da família. Além dos parentes que se esforçaram para garantir alguns pares para a Vila Pequenino Jesus, uma amiga de Clarissa abriu mão dos presentes da festa de aniversário do filho e pediu para que os convidados levassem chinelos para o projeto. ;O que me emociona é uma criança de 9 anos ter tido a iniciativa de pedir a mãe para ajudar outras;, emociona-se.
* Estagiários sob supervisão de Guilherme Goulart
** Nomes fictícios para preservar a identidade das crianças