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Crônica da Cidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/12/2019 04:06
Meu desejo de Natal

Uma versão diferente do presépio encantou o papa e se espalha pelas redes sociais. Maria dorme sobre a manjedoura. Ao lado, José embala o menino Jesus. A montagem tem como título um convite: ;Vamos deixar a mamãe descansar;. Segundo o pontífice, é a imagem da ternura. Também é o retrato do que desejo neste Natal.

Mexeram em uma das imagens mais icônicas da história da humanidade para nos lembrar, em dia de festa, do que nos estrutura como sociedade. O presépio que comove Francisco lembra que há papéis definidos para homens e mulheres, e que eles são cobrados todos os dias do ano, ainda que a beleza da existência humana esteja na pluralidade.

Essas armaduras cansam, discriminam e matam, qualquer que seja a morada ou o credo. Fiquemos nos nossos quadradinhos, por uma questão de espaço. Segundo o mais recente Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, feito pelo Ipea, as mulheres brasileiras trabalham, em média, sete horas e meia a mais do que os homens para dar conta da combinação trabalho/casa. Mais de 90% delas declararam realizar atividades domésticas, contra menos da metade deles.

As que criam os filhos sozinhas não são poucas: 26,8% das famílias brasileiras têm esse formato, por opção ou necessidade. Em Brasília, a taxa é de 31,6%, estima o IBGE. Também na capital caminhamos para um fim de ano marcado pelo avanço do feminicídio. A quantidade de vítimas já é cerca de 10% maior do que a de 2018. São ainda ao menos 474 casos de estupros e 12.115 de violação à Lei Maria da Penha neste ano. Considerando os três tipos de crime, somamos a vergonhosa média de 41 registros de violência contra a mulher por dia.

É impossível fechar os olhos para essa realidade. Precisamos deixar que nossas Marias descansem de verdade! Sem o medo constante de serem agredidas. Sem a obrigação de convencer que são capazes de trabalhar bem. Sem a ;lembrança; de que são as únicas responsáveis pelo futuro dos filhos. Francisco elencou o presépio de ternura para falar de respeito e igualdade. Que a escolha do pontífice seja nosso presente de Natal e viralize por todos os novos anos.



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