Cidades

Crônica da Cidade

Severino Francisco severinofrancisco.df@dabr.com.br

postado em 27/12/2019 04:15
Lugar da cultura

Ainda bem que temos novo secretário de Cultura, o jornalista Bartolomeu Rodrigues. Não sei com quais circunstâncias ou limitações políticas vai se defrontar. Mas uma coisa é certa: ele gosta de cultura. Isso é fundamental, pois Brasília é uma utopia inventada por artistas.

O último secretário deixou como único legado o bloqueio do Fundo de Apoio à Cultura. Ele praticamente se demitiu do cargo ao propor, de maneira ilegal, usar recursos do FAC para fazer reformas no Teatro Nacional. Com isso, interrompeu boa parte da produção cultural brasiliense que desaguaria em 2020, na passagem dos 60 anos de Brasília.

Darei apenas um exemplo. O guitarrista Pedro Martins era quase que um ilustre desconhecido quando, aos 22 anos, mandou duas fitas para o festival de Montreux, um dos mais prestigiosos eventos de jazz do mundo. Teve a inscrição aprovada, ganhou o prêmio de melhor guitarrista do festival em 2015 e decolou carreira internacional. Adivinhem como ele viajou até Montreux? Com recursos de um programa do FAC.

Mas, apesar de todos os problemas, aos trancos e barrancos, a cidade vive momento de efervescência cultural em todas as áreas. Brasília não é mais somente a capital do rock. É a sede de múltiplas manifestações. As novas gerações abraçaram e ocuparam a cidade com cultura. Com o Clube do Choro e a Escola Raphael Rabello, a cidade não para de revelar talentos.

A Unesco reconheceu Brasília na condição de Cidade Criativa do Design. Tem gente experimentando e pesquisando no teatro, nas artes plásticas e nas intervenções urbanas. Então, em vez de abafar, é preciso estimular e canalizar esse fluxo criativo.

A primeira medida do novo secretário seria reestabelecer o FAC. É uma conquista democrática inalienável de Brasília da qual não se pode abrir mão. Mas existem muitos outros desafios. O Teatro Nacional se viu reduzido por sucessivos governos a um monumento do descaso em uma cidade tombada como patrimônio cultural da humanidade.

Vejam só o caso do Espaço Cultural da 508 Sul. Ele foi reformado e, graças a uma gestão competente, voltou a se tornar um ponto de referência na cidade. Com bom ânimo, é possível fazer coisas importantes.

Sempre lembro que, nos tempos inaugurais do Teatro Galpão e do Teatro Galpãozinho, era comum ver o secretário de Cultura, embaixador Wladimir Murtinho, sentado no chão para assistir a peças. Ele estimulava o teatro amador, pois achava que era dali que poderia sair uma arte experimental: ;capital não pode apenas receber passivamente; capital tem de irradiar;.

O novo secretário foi meu colega em várias redações. Amor à cultura, bom ânimo, capacidade de diálogo e vontade de fazer, posso assegurar que não lhe faltam. Resta saber se lhe serão dadas as condições para realizar as ações necessárias. Boa sorte ao Bartô.





Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação