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Comunidade japonesa em Brasília mantém tradição milenar de ano-novo

Mochitsuki chama a atenção pelo aspecto primitivo. O arroz, amassado com um batedor em um pilão de madeira, se transforma no tradicional moti japonês, uma oferenda aos deuses em agradecimento pelo ano que passou e um pedido por realizações na temporada que se inicia

postado em 27/12/2019 18:31
Dezenas de descendentes orientais se reúnem, anualmente, no clube Nipo, no Setor de Clubes Sul, para fazer diversas receitas com o moti e perpetuar a tradição nipônicaHá 111 anos, a comunidade japonesa dava seus primeiros passos no Brasil. Em 1908, imigrantes chegavam com a perspectiva de trilhar um novo caminho longe de sua terra natal. Os costumes, no entanto, são respeitados há milênios e permanecem sendo cultivados em solo brasileiro.

A ligação entre as duas nações ultrapassa os limites do tempo. Cerca de 2 milhões de descendentes japoneses moram no Brasil ; o equivalente a dois terços da população do Distrito Federal ;, enquanto 200 mil brasileiros vivem na terra do sol nascente atualmente.

Em meio a tantos hábitos diferentes entre os dois povos e tradições para atrair boa sorte no ano-novo, o Mochitsuki chama a atenção pelo aspecto primitivo, em plena modernidade do século XXI. O ritual é espiritualizado e braçal ao mesmo tempo. O arroz, amassado com um batedor em um pilão de madeira, se transforma no tradicional moti japonês, uma oferenda aos deuses em agradecimento pelo ano que passou e um pedido por realizações na temporada que se inicia.

Sovar os grãos do moti exige força dos voluntários

Dezenas de descendentes orientais se reúnem, anualmente, no clube Nipo, no Setor de Clubes Sul, para fazer diversas receitas com o moti e perpetuar a tradição nipônica. ;É uma forma de a gente preservar a cultura japonesa. Assim, continuamos vivendo aquele Japão mais antigo;, conta a aposentada Helena Oki, 65 anos, que participa da celebração há quatro anos com a família.

Pelo menos cinco gerações confraternizam e interagem enquanto produzem o moti, a massa de arroz sagrada. ;Os mais pobres não tinham a oportunidade de comer arroz no Japão. Acontecia raramente. Por isso, era tido como um alimento que continha Deus. Consumiam ao fim do ano para agradecer o que passou e para trazer força e harmonia no ano seguinte;, explica Roberto Fugimoto, presidente do clube Nipo, onde o Mochitsuki é realizado há 10 anos.

Pelo menos cinco gerações confraternizam e interagem enquanto produzem o moti, a massa de arroz sagrada para os japoneses

Em uma espécie de linha de montagem, o arroz é cozido a vapor em panelas e, depois, colocado em um recipiente de madeira, o ussu. Em seguida, é momento de sovar os grãos com uma marreta. A tarefa é prioritariamente dos jovens, já que exige força. A cada marretada, um pouco d;água é retirada da bacia que fica ao lado para hidratar a madeira, o arroz e dar a liga necessária à massa.

Após ganhar consistência suficiente, é hora de fazer os bolinhos. Centenas deles são enrolados por avós, mães, pais, netos e filhos. Um bocado de farinha e o moti está pronto para ser frito ou grelhado. Há quem goste dele só com molho à base de soja, o shoyu, ou até com feijão doce. O ritual é mais relevante que o preparo. ;As pessoas fazem o moti como uma esperança de que o ano que vem seja melhor. E comer junto é uma festa da comunidade para esperar a boa sorte;, diz o embaixador do Japão no Brasil, Akira Yamada.


Para o japonês Yuraj Sato, 16 anos, em um mundo em que os avanços tecnológicos são constantes e as tradições, cada vez mais, tendem a cair no esquecimento, celebrações como o Mochitsuki servem de elo entre o passado e o futuro. ;Quando morava no Japão, já percebia que muitas pessoas não prestavam mais atenção nessas tradições. O que eu observo, no Brasil, é que jovens e velhos, cuidam mais da cultura japonesa do que as pessoas que moram lá. E isso é importante para unir as pessoas que têm uma cultura em comum;, diz o jovem estudante do ensino médio, que mora em Brasília há quatro anos. ;É tempo de mudança. Tem jovens que não prestam atenção. Mas tem os que prestam. É isso que vai diferenciar cada um e mostrar o futuro da comunidade japonesa;, completa.

Em uma espécie de linha de montagem, o arroz é cozido a vapor em panelas e, depois, colocado em um recipiente de madeira, o ussu. Em seguida, é momento de sovar os grãos com uma marreta

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