postado em 29/12/2019 04:15
Militarização das escolas, mudança na gestão de unidades de saúde, investimentos milionários em reformas de espaços públicos, recorde nos feminicídios e reviravoltas no reajuste salarial das forças policiais marcaram o Distrito Federal em 2019. Entre polêmicas e retomada de projetos da gestão anterior, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) colocou em prática, no primeiro ano pós-eleições, promessas de campanha, como a reabertura de todas as delegacias com atendimento 24 horas e o início das obras de revitalização da W3 Sul. Em uma retrospectiva de 2019, o Correio aborda o que houve de mais importante em quatro áreas consideradas prioritárias na administração pública: segurança, saúde, educação e obras e infraestrutura. Confira:O ano na saúde
Reestruturação e vida nova para Lis e Mel
Mudanças no modelo de gestão de unidades de saúde, exoneração de diretores de hospitais e contágio recorde da dengue fizeram parte do cenário do Distrito Federal em 2019. Logo no início do ano, em 7 de janeiro, a situação precária do setor na capital levou o governador Ibaneis Rocha (MDB) a declarar situação de emergência. O decreto autorizava convocação de concursados, compra de medicamentos e insumos sem licitação, contratação de servidores e extensão de cargas horárias. Diagnóstico do Executivo identificou desabastecimento da rede, pendências de pagamentos de fornecedores, deficit de pessoal e fechamentos de leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Dias após decretar o estado de emergência, em 24 de janeiro, os distritais aprovaram, em dois turnos, por 14 votos a nove, o projeto de lei que expande o modelo de gestão do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal (IHBDF). A entidade passou a se chamar Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges/DF) e ficou responsável pela administração do Hospital Regional de Santa Maria e de seis Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), além do Hospital de Base. O modelo funciona de forma independente da pasta da Saúde, com autonomia e orçamento próprios. A partir disso, ficaram autorizadas compras de insumos sem licitação, contratação de prestadores de serviço e admissão de profissionais pelo regime celetista.
Entre março e junho, Ibaneis trocou os diretores dos hospitais regionais de Ceilândia, Gama, Sobradinho, Santa Maria, Asa Norte e Brazlândia. Em Sobradinho, Ibaneis decidiu pela exoneração após a morte de Beatriz Viana da Silva, 19 anos, que procurou a unidade de saúde em 11 de maio, com fortes dores abdominais, mas não conseguiu atendimento. Outra dispensa polêmica foi a de Brazlândia, motivada porque o chefe da unidade de saúde foi filmado descansando enquanto pacientes aguardavam atendimento.
Emoção
Além das mudanças estruturais, 2019 teve o ano marcado pela maior epidemia de dengue da história do Distrito Federal. No total, 48 pessoas morreram da doença até novembro. Em igual período do ano passado, a capital registrou um óbito, o que representa aumento de 4.700%. Além disso, a quantidade de casos notificados subiu 1.660%, passando de 1.775 registros em 2018 para 48.847 contágios este ano. Como combate à enfermidade, a Secretaria de Saúde adotou tendas externas de hidratação nas unidades de saúde, além de ajuda do Exército Brasileiro, que visitou a casa dos brasilienses para alertar sobre a doença.
Neste ano, uma cirurgia emblemática emocionou a população do Distrito Federal. Das 6h30 de 27 de abril até as 2h30 do dia seguinte, uma equipe de 50 pessoas fez o procedimento de separação das gêmeas siamesas Lis e Mel, no Hospital da Criança de Brasília (HCB). A operação foi a terceira desse tipo no país e a décima do mundo, além de ser a primeira feita na capital. As meninas nasceram unidas pelo crânio em 1; de junho de 2018, e o Correio narrou a trajetória delas, inclusive o Natal em família.
7 de janeiro ; O governador Ibaneis Rocha decreta situação de emergência
24 de janeiro ; Distritais aprovam a criação do Iges/DF, que fica responsável pela gestão de sete unidades de saúde
31 de março ; Casos de dengue aumentam 600% em comparação a 2018
27 e 28 de abril ; Equipe de 50 profissionais faz cirurgia de separação das gêmeas siamesas Lis e Mel no Hospital da Criança de Brasília (HCB)
2 de setembro ; O Governo do Distrito Federal (GDF) anuncia a criação de seis UPAs, que serão geridas pelo Iges/DF
O ano na segurança pública
De Marcola a feminicídios
Derrotas e conquistas fizeram parte da segurança pública do Distrito Federal em 2019. A capital registrou queda no número de crimes violentos, como homicídios e latrocínios, mas teve número recorde nos feminicídios, crescimento nos registros de violência contra a mulher e assassinatos de crianças, como o de Rhuan Maycon, 9 anos, esquartejado pela mãe e pela madrasta. Além disso, houve a transferência de membros do alto escalão de facções criminosas para a Penitenciária Federal de Brasília, reabertura de delegacias 24h e troca de comando na PM e no Corpo de Bombeiros, além de reviravoltas na questão do reajuste salarial de militares e policiais civis.
Levantamento do Correio mostra que, até 27 de dezembro, o DF registrou 33 feminicídios. O número é 17% maior do que o total de casos de todo o ano passado, quando ocorreram 28 assassinatos com essa qualificadora. Esse é o maior índice desde a criação da lei que tipifica assassinatos de mulheres por questões de gênero, em 2015. Por causa desse aumento, em 5 de novembro, a Câmara Legislativa instaurou a CPI do Feminicídio, composta por cinco distritais. Os parlamentares farão análises do quadro de violência contra a mulher e vão sugerir soluções.
Também houve avanços em relação ao atendimento das delegacias. Durante a campanha eleitoral, em 2018, o então candidato a governador Ibaneis Rocha (MDB) prometeu reabrir todas as unidades em regime de 24 horas. Em janeiro, por falta de efetivo, 15 das 31 delegacias funcionavam em tempo integral. Para viabilizar a reabertura, o chefe do Executivo local sancionou medida que prevê pagamento de R$ 400 por serviço voluntário dos investigadores. Hoje, de acordo com a Polícia Civil, apenas a 17; Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte), que funciona provisoriamente na antiga Academia de Polícia, em Taguatinga, não fica aberta 24h. A sede da circunscricional está em reforma.
Reajuste
Outra promessa de campanha do emedebista era o reajuste salarial para os profissionais das forças de segurança. Em fevereiro, o GDF encaminhou ao governo federal a proposta de aumento de 37% para a Polícia Civil, salário equiparado ao da Polícia Federal. Entretanto, o presidente da República, Jair Bolsonaro, exigiu que o reajuste deveria ser o mesmo para os militares. Neste mês, o Executivo apresentou proposta para que a correção na remuneração dos militares fosse de 31,5%. Entretanto, o Palácio do Planalto informou que só seria possível conceder 8%. Na véspera do Natal, o presidente assinou medida provisória que permitiria o reajuste. Porém, o presidente recuou e, agora, o processo será feito por meio de projeto de lei.
Transferências de presos para a Penitenciária Federal de Brasília colocaram as forças de segurança em alerta. Em março, o Ministério da Justiça transferiu Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, criminoso que chefia o Primeiro Comando Capital (PCC). Antes disso, em fevereiro, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão de Marcola, chegou ao presídio. Além deles, 10 integrantes do Comando Vermelho e nove envolvidos no massacre nos presídios de Manaus vieram para o sistema carcerário do DF.
30 de janeiro ; O GDF sanciona medida que prevê pagamento de R$ 400 por serviço voluntário de policiais civis. A medida, orçada em R$ 10,5 milhões, permite a reabertura das delegacias em regime de 24h
22 de março ; O Ministério da Justiça transfere o líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, à Penitenciária Federal de Brasília
1; de novembro ; O Distrito Federal registra o 29; caso de feminicídio. O número supera a quantidade de casos de 2018, quando 28 mulheres morreram por questões de gênero
5 de novembro ; A Câmara Legislativa instaura a CPI do Feminicídio. Composta por cinco distritais, a mesa fará análises sobre a violência contra mulheres
24 de dezembro ; O presidente da República, Jair Bolsonaro, autoriza o reajuste salarial de 8% para policiais militares e civis do DF por meio de medida provisória. Três dias depois, ele recua e decide que a proposta seja feita por meio de projeto de lei