Correio Braziliense
postado em 04/01/2020 04:06
A quadra guarda riquezas culturais e históricas. Muitas delas, na banca de Lourivaldo Soares Marques, 82, a primeira da cidade. À época, o então pintor saiu de São Paulo para trabalhar na capital, mas, ao ter o material roubado, viu na venda de jornais oportunidade de sustento. “Cheguei à rua da Igrejinha e senti que tinha muito movimento. Havia umas 10 lojas funcionando, e resolvi montar uma banquinha ali. Eu vendia os jornais em cima de um caixote”, relembra.
Naquele momento, a 108 Sul estava em fase de conclusão. “A quadra estava praticamente consolidada. A comercial na frente da Igrejinha ainda era de terra, e a banca estava sendo construída. Em 1961, eu tomei posse dela”, revela o jornaleiro. Nesse período, os jornais vinham de São Paulo e do Rio de Janeiro. “Eles chegavam de avião. Eu ia ao aeroporto de lambreta pegá-los. Era um monte de jornal. A freguesia fazia fila”, diz.
Lorivaldo permanece com a simpatia que cativa os clientes há anos. Atualmente, ele mora em Valparaíso (GO), mas faz questão de levantar cedo da cama para trabalhar. Na banca, ele mostra com orgulho a mistura de modernidade e história. Uma quitanda, água de coco e brinquedos misturam-se aos tradicionais jornais impressos e revistas.
Ao lado, uma árvore plantada pelo próprio Lorivaldo forma uma espécie de caverna e chama a atenção de quem passa por lá, local onde ele escreveu versos sobre a amada capital. “Brasília é amada por ti, por eles, por elas, por toda essa multidão de fã, por todos nós. Eu declaro em uma só voz o meu amor por essa cidade e por aqueles que partiram, deixando muita saudade”, recita.
A quadra também recebe visita de turistas e estudiosos. Nair Weverton de Sá, 63, é prefeita da 108 desde abril de 2016. A professora explica que o diferencial é justamente a bagagem histórica. “As quadras mais antigas formam um quadrilátero composto pela 108, 107, 308 e 307. Educadores, estudantes e turistas aparecem sempre por aqui, principalmente na entrada. Muitos professores da Universidade de Brasília (UnB) fizeram pesquisas com os idosos que moram por aqui, os pioneiros da cidade”, detalha.
Futuro
Ao mesmo tempo em que a cidade cresce, os moradores mais antigos tentam preservar as características originais da 108 Sul. A advogada e moradora do Bloco E Aline Ramos, 42, acredita que muitas pessoas não se conectaram totalmente com a história da capital. “Acho que falta muita divulgação, principalmente dos órgãos governamentais. Alguns jovens chegam a desdenhar quando nós reclamamos de um buraco na quadra, e isso me deixa muito triste. É um local histórico, que merece ser muito bem preservado”, alega.
Segundo a prefeita Nair, a limpeza e as reformas são feitas com doações da vizinhança. “Os prédios contribuem com cerca de R$ 350. Com esse dinheiro, nós contratamos serviço de jardinagem, de limpeza e compramos sacos de lixo. Inclusive, estamos pleiteando a revitalização do nosso chafariz”, adianta.
* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart
"É um local histórico, que merece ser muito bem preservado”
Aline Ramos,
moradora do Bloco E
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